Uma vez me perguntaram o que eu sei do amor e o meu silêncio
reinou, mas mesmo assim, não me tirou a vontade de uma resposta a essa questão.
Duas coisas me deram vontade de escrever esse texto, amo e liberdade. Amor tem
a ver com o que sentimos no outro ser, tem em vários tamanhos e a grosso modo,
tem maneiras muito distintas de amor. Que me desculpem os defensores de
animais, mas não amo na mesma intensidade os meus peixinhos e as minhas
plantinhas aos meus sobrinhos. Nem mesmo, do mesmo modo pessoas próximas as pessoas
mais longes (mãe nós amamos por todo sempre, mesmo após a morte), porque o ser
humano tem a capacidade de ter o afeto e esse afeto tem a ver com o que
simpatizamos ou não as pessoas. O amor é uma coisa que fica, mas se não vier
com uma certa moral, o amor se torna algo muito escravagista. Mas o afeto e o
gostar um do outro, fazem do sentimento um sentimento de atrai quem amamos,
quem sentimos gosto e ter gosto é o gostoso de estar. Aí chegamos aonde quero
chegar: será que o amor liberta ou prende o ser humano?
A liberdade é um estado, o ser humano tem que se sentir um
ser liberto que fez a sua escolha, ou seja, a liberdade também é uma escolha. Como
disse Sartre – que aliás, é uma citação muito famosa e conhecida – somos presos
por aquilo que escolhemos, portanto, somos condenados a sermos livres. Como
assim somos condenados a sermos livres? As escolhas que fazemos são atos dentro
do que temos de moral (nem vem com essa de “carne fraca”), porque são valores
que damos a esse ato que nada mais é, do que a consciência construindo um
caminho naquilo que é gostoso, naquilo que nos causa prazer. O amor nada tem a
ver com a moral, porque o amor é quente, o amor queima, nos faz fazer coisas
inconsequentes, já a moral nos dará a consciência de sempre respeitar o afeto
do outro. Nessa linha eu diria que o amor tem um certo meio de encontrar a
liberdade, pois a liberdade não é fazer tudo que queremos dentro da vontade,
mas a consciência do entendimento daquilo que se tem vontade e suas
consequências, no ponto de perder ou não alguém ou alguma coisa. Descobrimos
que não é um meio de informação que vai melhorar nossa vida, não é uma imagem
que vai fazer nós nos sentimos importantes, não vai ser mil pessoas que vai nos
trazer a sensação de sermos amados, não é uma mulher bela, recata e do lar que
vai fazer se sentir um homem importante. Pessoalmente, não gostaria de ter uma
“Sandy” a tira colo no meu lado dizendo que meu filho “fez coco nas fraldas”,
ou que ponha aquele sorrisinho que fazemos sempre que assistíamos os filmes da
Lessie (que achava uma chatice). O problema do artigo da Veja sobre a senhora
Temer não a questão de ela ser mais nova ou que ela seja recada ou do lar, mas
toda a estética do artigo que parecia, r-e-a-l-m-e-n-t-e, feito nos anos
cinquenta da mulher modelo para ser uma primeira dama.
Chegamos aonde quero chegar porque isso tem a ver com a
moral, pois nossa educação não existe moral, existe moralismo. Moralismo é um
termo religioso que designa uma moral universal, uma verdade absoluta dentro de
uma ideia de uma realidade absoluta. Embora o moralismo vem de moral, moral não
pode ser confundida com moralismo, pois moralismo é uma restrição da
individualidade do ser humano em ser com uma personalidade própria. Já a moral
é o modo que é o costume referido, como esses costumes podem fazer diferença dentro
dos nossos valores. Na verdade, a moral é um conjunto de regras dentro de uma
certa educação e dentro das regras dessa educação, pois etimologicamente, a
moral vem do latim “mos” ou do plural “mores”, que quer dizer “relativo aos
costumes”. Costumes esses aprendido dentro das regras dessa mesma educação, das
regras de um bom convívio social, e a essência de “mos” que é a ética que veio
do grego clássico, “ethos” e o adjetivo “ethika” que quer dizer “modo de ser”
ou “caráter”. Então podemos dizer que o ser humano dentro da sociedade é moral,
pois dentro de uma sociedade existe o costume, aquilo que em essência devemos
assegurar para sermos pessoas felizes e contentes. Mas podemos dizer que dentro
do que a Veja mostrou da senhora Temer fez de as mulheres não ficarem felizes e
contentes, deixando claro que existiram esse descontentamento entre mulheres da
direita e esquerda, então, podemos constatar que essa atitude não foi moral,
mas uma atitude moralista. Porque tentaram jogar uma realidade absoluta, que a
mulher tem que ser bela, recatada e do lar para ser igual a senhora Temer. Mas a
pergunta fica assim: será que realmente é uma realidade de fato? Será que essa
imagem conservadora é uma imagem verdadeira? A grosso modo, seria como vender
um limão dizendo que todos os limões não são iguais aquele limão, mas que
aquele limão não tem nada de especial e é igual qualquer limão. Ora, o
moralismo tem essa natureza, jogar uma verdade absoluta naquilo que existe cada
um uma essência e seus próprio valores.
O problema não são as feministas (como disse certos professores
de filosofia), que aliás, não são feministas e sim, um bando de mulheres
mimadas que acham que vão mudar o mundo colocando crucifixo na bunda. Mas o
verdadeiro movimento feminista que quer realmente a igualdade das mulheres, a
legitimidade de a mulher poder escolher ser e fazer o que tem vontade. Não foram
elas que chiaram, foram os novos tempos que não cabe mais fazer uma mulher ser
o que ela não é, ser o que está no manual de como ser mulher, como ser mãe,
como ser do lar, ser casada e ser recatada, ser bela, mas acima de tudo, ser
uma humana que tem todo o direito de ser ela mesmo.
Amauri Nolasco Sanches Jr, 40, escritor e filósofo
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