Amauri Nolasco
Sanches Jr
O Homem Louco – […] Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará este sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos de inventar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmo nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve um ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história mais elevada que toda a história até então” – Nietzsche, Gaia Ciência, §125________________________________________________________________________________
Não tenho nada contra ateus, acho eu que, as vezes, eu sou
um ateu no sentido de não acreditar nas religiões vigentes, mas acho que o ateu
militante é muito chato e tem um papo muito chato. O ateu militante defende
tanto a bíblia que até desconfio que ele é mais religioso do que o mais
fanático dos crentes, porque sempre vai pegar um trecho que ele acha certo e
fica dizendo que Deus é assassino. Deus é assassino ou o homem não tem o limite
de achar que é dele a culpa de tudo isso que está acontecendo? Porque não
podemos, em hipótese nenhuma, achar no direito de falar que um cara que
esfaqueou os velhinhos do asilo é culpa de Deus, mesmo o porquê, o ato partiu
dele e não do Eterno. Escolhas e apenas, escolhas e somos presos dentro da
nossa própria liberdade. Então, por que culpar um ser metafisico que nem está
preocupado do que estamos pensando? Por que eu vou me preocupar com um livro
que tem 3 mil anos?
Nesse aforisma, Nietzsche não decreta a morte de Deus numa
forma de ele achar ou não que Deus morreu, mas o sintoma que a humanidade mata
Deus para colocar outros ídolos. Um ateu não entende que se os crentes colocam
um ser metafisico como um “pai” que providenciara seu futuro (porque o
cristianismo sempre estará preocupado com o devir), a não existência de Deus é
outra desculpa que temos de não nos apegarmos a nenhuma moral, o senso de
providencia acaba sendo na ciência. O termo ciência veio do latim scientia que quer dizer “conhecimento”, estão
se temos o conhecimento, temos a capacidade de entender. Acontece que entender
nem sempre é a capacidade de sintetizar aquilo que é, porque sempre vamos
construir subterfúgios para impor nossa própria crença. Sim, não acreditar também
é acreditar em algo. E outra, você não acredita naquilo que não existe, você só
pode acreditar ou não, naquilo que existe. Se temos o termo “Deus”, ele já existe
na questão linguística que pode ser ou não mera invenção humana. Mas o que é a
verdade ou não? O que é a realidade ou não?
A destruição de verdades religiosas não podem ser alicerces
para a mitificação da ciência. Se a ciência deu a cadeira de rodas que estou
sentado, o notebook que estou escrevendo, também construiu bomba atômicas que
mataram milhões em explosões e testes (até hoje o auto índice de câncer é por
causa dos testes nucleares), deu doenças por causa de pesquisas que fugiram do
controle, experiência secretas que fazem e desiquilibram a fauna e a flora. A ciência
mais excluiu o ser humano com deficiência do que incluiu, mais separou as etnias
do que juntou, mas levou o ser humano as doenças do que as curas em nome do dinheiro,
em nome da indústria farmacêutica. A promessa da “deusa” ciência que tanto os
iluministas defenderam, não se fez realizar por causa do desejo de querer
sempre mais, da ganancia e da estupides humana. Não curou as deficiências (algumas
nem diagnosticou), não curou o câncer e nem a AIDS (aliás, mesmo que o HIV não tenha
sido feito em laboratório, se não fosse escapar o vírus, talvez não teríamos essa
epidemia), nos deu a eugenia, nos deu a arrogância de querer controlar a
natureza e querer ser “deuses”. Cientistas como o biólogo Richard Dawkins,
achando no direito de chamar os religiosos de idiotas, de achar no direito de
dizer para as mães de crianças com síndrome de down que é imoral ter uma criança
dessas (que aliás, é uma das deficiências que a ciência não curou e nem sabe o porquê
da multiplicação do cromossomo 21). Quem é imoral da história, a religião que
explode monumentos de séculos, queimam quem está contra sua teologia, coloca a
imagem de pessoa satânica quando não concorda com que acredita ou uma ciência que
não cura, que destrói, que se vende, que coloca o bem da humanidade um preço e
tenta dar a ela uma moral tosca que não fara diferença nenhuma se existir? É difícil
de saber.
Não estou defendendo a religião, pois, a religião destruiu a
verdadeira espiritualidade e a moral humana de ser o que é (ter a consciência de
si depois da religião, é uma tarefa difícil), mas devemos colocar a ciência no
lugar dela sem divinizar sua natureza. A mistificação de muitas coisas é sim
culpa da ciência que poderia fazer mais, poderia produzir mais curas, mas se
prendem em amarras vaidosas do poder e da fama. Como está no livro Gaia Ciência
de Nietzsche: “não escolhem jamais seus aliados e amigos sem segundas intenções”.
Ele estava falando das pessoas famosas e políticos, mas poderíamos estender a
todos aqueles que estão no meio e detém o poder. O poder é a grande “alma” das
liturgias religiosas e pesquisas cientificas, o poder que manipulam as massas
conforme os seus interesses, é o poder que engana e distorcem tudo. As ideologias
vão dar apenas o que o poder precisa, não mais as religiões vão fazer isso, mas
as ideologias cientificas. Não vimos isso com o comunismo? Não vimos isso com
os governos liberais e “democráticos”? O nazismo e o fascismo? A reflexão começa
aí, termina junto ao que é a realidade, tudo se “prostitui” ao poder. Tanto se
apela a lógica, mas lógica vem do grego LOGIKE TECHNE “arte de raciocinar”, de
LOGIKÓS “relativo ao raciocínio”, de LOGOS “razão, ideia, palavra”. Uma coisa lógica
é uma coisa raciocinada e não podemos destruir um ídolo para criar o outro,
pois se não, iremos destruir a nós mesmos.