Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Vou escrever agora como filósofo que sou. Há bastante tempo
venho lendo algumas críticas sobre o escritor e ensaísta, Paulo Coelho e nem
sempre, as pessoas acham argumentos validos para se referir ao escritor. Um dos
livros que marcaram minha vida foi “O Alquimista”, onde o pastor de ovelhas
quer encontrar um tesouro graças a um livro que leu e saiu ao mundo, visitando
lugares e vivendo paixões e desilusões. Mas ao voltar, encontrou o tesouro
aonde ele sempre leu os seus livros. A história é bem clara, os maiores
“tesouros” que você pode encontrar são aqueles que devem ser examinados e
procurados dentro de onde você estar. Quem examinou assim a obra do escritor?
Ninguém. Pelo simples fato que as pessoas não sabem analisar por elas mesmas e,
por razões conscientes e não conscientes, começam a dizer e analisar a partir
de uma outra análise.
Primeiro, devemos ver que existem falácias inúmeras não só
do escritor, mas de toda a discussão que acontece de modo virtual. Falácia vem
do latim fallere, que quer dizer algo
expressado como um raciocínio errado que tem uma aparência de raciocínio
verdadeiro. Por exemplo, o cachorro mia, pois, sabemos muito bem que cachorros
não miam, mas latem. A validade é que se sabe, por modo empírico, que o
cachorro não pode miar por ver que cachorro não podem miar porque vimos o
cachorro latir. Mas vamos imaginar que quem disse jura que viu um cachorro
miar, podemos ser céticos quanto a isso, ou acharmos que a pessoa esteja
imaginando coisas, mas não podemos comprovar tal fato. Mas chama-la de louca
não é o melhor remédio para temos razão numa discussão, isso se chama ad hominem, ou seja, a discussão sai do
âmbito da ideia e passa no âmbito pessoal. Acho que no caso aqui, seja a
falácia de “apelo à autoridade” que, por razões obvias, sempre colocam um pensador
para refutar o escritor Paulo Coelho.
Algumas pessoas dizem que o escritor não escreve bem e não
pode ser chamado de escritor, só por causa disso. Ora, quem escreve bem nossa
língua portuguesa num modo bem definido e de coerção no nosso país ultimamente?
Quem sabe a regra sintática e léxica de nossa língua de cor de salteado? Quem
realmente sabe de forma sistemática e valida, as novas regras da nossa língua?
Muito poucos. Pelo que se lê nas redes sociais, quase ninguém escreve nossa
língua tão bem para fazer tal análise e nem analisar tão superficialmente, os
livros. Por outro lado, de uma maneira bastante lógica, em todos os tempos
existiram escritores que inventaram palavras, disseram o que quiseram, e
ninguém diz que não escrevem muito bem. Para mim é um argumento não valido.
Depois, disseram que o escritor Paulo Coelho fez plagio de
várias obras. Existem várias perguntas que podemos duvidar dessa afirmação;
como e qual obra foi plagiada? Quem poderia ler e analisar todos os livros do
mundo, ou como dizem ser obras orientais, para analisar se foi ou não plagio? Se
foi plágio, por que a editora não alertou o escritor e publicou o livro? Isso,
mais uma vez, é uma prova que a escola do nosso país está muito ruim. Primeiro,
falta interpretação e entendimento do texto. Segundo, falta uma análise lógica
por si mesmo (não invocar “apelo à autoridade”) se houve ou não, plágio segundo
o entendimento do texto. Terceiro, saber todas as regras gramaticais, saber
todas as regras sintáticas e também saber, cada uma das palavras usadas na obra
original. Usar as ideias de uma obra, não quer dizer plágio, pois, ter ideias
originais dentro da literatura mundial, hoje em dia, é muito raro. Uma prova
disso é a história dos 300 espartanos no livro História de Hesíodo, muitas
obras a partir desse relato foram produzidas, mas nenhuma foi plágio. Plágio,
assim como spam, foi muito incompreendido ao longo dos anos e as pessoas usam
indiscriminadamente essa definição para ter argumento, mas não passa de um erro,
além claro, de uma autoridade que não existe. Não podemos, por exemplo, que a
adaptação de uma novela de uma obra clássica (como A Megera Indomável” de
Shakespeare), não leve o nome do escritor que adaptou só por causa, que é de
Shakespeare. Adaptação não é plágio.
Será que a literatura de Paulo Coelho é autoajuda? A
definição de autoajuda é um tipo de literatura que dá uma solução para a
vitória de todas as áreas da nossa vida. Muitas pessoas colocaram a obra do
autor como uma literatura de autoajuda, mas como eu li várias obras do Paulo
Coelho devo dizer que não concordo. Primeiro, essa definição da autoajuda dos
professores de filosofia – para mim tem uma sutil diferença entre professor de
filosofia e filósofo, propriamente dito – são definições niilistas no termo de
Nietzsche. O niilismo para Nietzsche são pessoas que não acreditam na vida e
são ressentidas, achando que a vida não tem sentido e o sentido está além
daquilo que criticam. Na verdade, o sentimento mais que essencial da vida não
são complexos e sim práticos, então, Aristóteles tinha razão a 2500 anos atrás.
Quando compramos um quilo de feijão podemos analisar as obras de ideologia
econômica? Quando as pessoas estão em uma depressão elas saem disso lendo obras
de Pascal à Espinosa? Quando você perde um grande amor, você lê Platão ou
Nietzsche? Talvez, sim. Mas a grande maioria não tem escolaridade o bastante
para tão grande empreitada filosófica, e como um hipocondríaco (que tem mania
de doença), pode acreditar estar doente de verdade e ser receitado um placebo;
a autoajuda é um placebo para a alma atormentada.
No caso da famosa citação do O Alquimista (se não me
engano), “Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você
realize o seu desejo. ”, não é de autoajuda e sim, uma frase poética. Pode ser
que aconteça e pode ser que não aconteça, mas que há várias situações que podem
facilitar aquilo que se quer conseguir. A vida, num modo prático, costuma ser
uma sucessão de momentos (ou fatos?), que fazem serem realizáveis ou não
realizáveis. Existe o sujeito que é “você” e tem a iniciativa de realizar um
ato de “querer” e o objeto “algo”, e isso, de uma maneira bem didática, é o
sujeito da frase e uma fenomenologia daquilo que a consciência tem como objeto.
Indo muito mais a fundo, existe um sujeito que estar querendo algo e tem uma
ação para ser feita a partir do querer esse algo, a implicância é com a
continuação da frase “todo o universo conspira para que você realize seu desejo”.
Ora, existe aí duas frases que expressam uma mesma ideia. Uma é: “Quando você
quer algo”, como se houvesse um despertar da consciência (quando), de algo
(objeto) que está dentro do que você (sujeito) sente querer. Na segunda o “todo
universo conspira para que você realize o que você quer”, traz uma constatação
da primeira, que você quer algo, e assim, o universo todo conspirará para você
conseguir esse algo.
Filosoficamente e linguisticamente, o verbo “conspirar”
seria errado na frase que o “todo universo” poderia conspirar a favor. O
significado de conspirar é tramar e não é errado, pois, tramar pode ser para
ser a favor (pode ser uma causa), ou contra (pode ser uma ideologia fanática). Mas
que existem dois sujeitos: você querer algo, o todo universo que conspira ao
seu favor. Sendo um direito, a arte poética é uma arte para poucos.
Isso lembra duas coisas muito importantes, a teoria da
evolução e a frase délfica que foi a base da filosofia socrática.
Há uma crença muito enraizada dentro da Teoria da Evolução
que é o mais forte vence e perpetua seus genes e nisso está o erro, não é o
mais forte que vence e sim, o mais apto. Apto que dizer adequado, ou seja,
adequado é aquele que se adequa a algo ou ao ambiente, assim, ser apto não é
ser forte e sim, se adequar. Mas você não se adequa só no conceito biológico e
sim, espiritual (moral e ético), no conceito de se adequar e adaptar ao
ambiente onde vive. Os dinossauros, por exemplo, não se adaptaram ao novo
ambiente, quando o grande asteroide se chocou e extinguiu uma boa parte dos
animais, os dinossauros estavam em declínio por falta de comida. O que levou
isso? A falta da consciência. A consciência que faz o ser humano se adequar ao
ambiente, mas essa consciência não esteve com o ser humano sempre, ele foi
adquirindo ao longo da evolução. Mas como? Conhecendo os limites entre a si
mesmo e o ambiente. Conhecendo a capacidade psicológicas – isso inclui a parte
moral e mental de análise do ambiente – o ser humano adquiriu a consciência e
como adaptar o ambiente ao seu favor. Mas essa consciência é um conhecimento de
si mesmo, ou seja, um conhecer a si mesmo que causou a certeza da existência do
eu. Assim, vencendo e sendo apto na cadeia evolutiva.
Essa vitória dentro da fauna terrestre não foi uma
construção mental e moral? Será que o homem que inventou a roda fez teorias
complexas ou apenas observou os objetos redondos que poderiam rolar facilmente?
Aí que mora o perigo, não se deveria confundir questionar com ideias complexas,
pois muito provavelmente, o homem que inventou a roda questionou qual a melhor
maneira de carregar algo, os homens que inventaram a lança e o arco e flecha,
também questionaram qual a maneira de caçar ou guerrear. Isso é se conhecer e
saber que a única certeza que temos é a nossa própria existência, sempre
adequando a consciência (mente e moral), para conseguir aquilo que queremos. A
frase délfica é apenas isso, conhecer a si mesmo e conhecera o universo e os
deuses, isso é o mandamento filosófico e espiritual mais importante da história
do pensamento. Conhecer a si mesmo é estar bem consigo mesmo, é saber deixar a
realidade passar entre os momentos da vida e assim, elevaremos aonde estão os
“deuses”. Tales de Mileto não disse que tudo está cheio de deuses? Esses
“deuses” pode ser entidades espirituais – como filósofo não descarto nada – mas
pode significar para o mundo grego o princípio (arché), onde o símbolo maior é
a água.
Na verdade, talvez não percebemos, mas tudo tem os quatros
elementos. Toda a realidade é feita dos quatro elementos primordiais (terra,
fogo, agua e ar), isso as filosofias orientais sabem a milênios. Então, qual é
a autoajuda aqui? Qual seria o pensamento filosófico e racional? O que chamam
de “crenças” nada mais são do que uma maneira materialista de achar que não existe
nada além do que vimos, mas sabemos que talvez tenham várias realidades. Mas o
que é realidade? O que é sonho?
Portanto, o escritor Paulo Coelho é um literário como
Proust, como Kafka, como muitos outros que ficaram na história e que
enriqueceram a humanidade com o simples conhecimento.
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