quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Estética e laudo médico.



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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Quando você estuda Hegel (1770-1831) – filosofo e teólogo alemão (que a título de curiosidade, era pastor e professor de filosofia) – você lê que a estética era e é uma matéria muito mais relacionada a arte. Porém, Hegel sempre dizia que a arte era muito mais superior a natureza, pelo simples fato de temos o espirito muito mais superior do que a natureza que faz as coisas tão adaptavelmente. Uma Monalisa, por exemplo, na visão de Hegel era muito mais perfeita do que a modelo que serviu de inspiração e então, na visão do filosofo, uma pintura é muito mais superior do que a foto em si. Claro, que hoje existem milhares de subterfugio tecnológicos para melhorar as fotos, assim, deixando como obras de arte.

A questão é muito mais delicada do que pensamos, pois na hora de conviver com as pessoas, nós não convivemos com obras de arte e isso passa no crivo da ética. Ética e estética são a parte mais significativa quando pensamos num modo social e porque não, do preconceito e do conceito definido como tal. Ética vem do grego “ethos” que não tem ao certo um significado especifico, mas por ter a ver com o lugar aonde se vive, se especificou como caráter. Estética vem do grego “aisthésis” que significa percepção, sensação ou sensibilidade, e não à toa, tem a ver com a arte em si mesmo. Arte, queiram ou não, faz parte da construção cultural de um povo e isso tem a ver com a ética de uma estética cultural. Daí entra a anatomia corporal como ponto estético de aceitação ou não aceitação de um conceito definido ou não, por exemplo, a séculos atrás, mulheres gordinhas eram mais aceitas do que mulheres magras, hoje, o padrão social – pelo menos na moda – as magras são aceitas e o que deve ser seguido. Embora acho que as mulheres mais cheinhas fazem muito mais sucesso, porém, também acho que o gosto estético é completamente subjetivo como algo individual até, como conceito de objetividade. Algo como fenomenológico entre você é o objeto e a consciência existencial desse objeto, se ele te agrada como algo aceitável, ou se ele é algo que não é aceitável.

Vamos agora ir muito mais fundo. Vamos fazer uma análise moral da coisa e deixar um pouca mais clara o que é que aceitamos ou não, como conclusão estética corporal. Moral vem do latim (língua que vem dos romanos, mas se origina todas as línguas que vem de Lácio, região central itálica), “mos” ou no plural, “morales” que quer dizer “relativo ao costume”. Por isso acho que quando se diz “moral e bons costumes” estão dizendo um pleonasmo, porque a moral já é um costume cultural dentro da sociedade e que esse costume é tradicional por si mesmo. Moral tem a ver com que aceitamos e o que colocamos como norma para a sociedade e ética, é o que se pode ou não fazer dentro dessa mesma sociedade como ação da sociedade em si. Moral tem a ver com o objeto e a ética tem a ver com a estética normativa do mesmo objeto, ou seja, o preconceito não é de ordem moral e sim, o preconceito é de ordem ética porque tem a ver com caráter de cada um. Ora, o caráter é a construção de tudo aquilo que achamos ser a realidade dentro dos estereótipos (símbolos), que ao longo de várias razões da vida e situações que passamos, construirmos uma realidade moldada dentro de um conceito.

Quando a sociedade nos chama de “coitados” ou que acham que não temos capacidade de fazer muitas coisas, isso não é uma moral dentro do objeto, mas a ética enquanto fenômeno da consciência que constrói o que devemos e o que não devemos aceitar. Mas a moral não está isenta disso não, pois, existe a incapacidade logica de analise que mesmo que possamos ser diferentes, somos seres humanos. Vimos isso dês da antiguidade quando por meio de mitologias (explicações sobre a vida e os fenômenos), deuses nascidos com defeitos eram rejeitados pelos deuses ou até mesmo em filmes e novelas, espalhando inverdades e espalhando símbolos normativos que só interessam a alguns que não aceitam ou não querem aceitar, mudanças sociais.

Quando se existe uma análise profissional de todas as áreas, existe uma norma que é seguida para se saber se a pessoa é apta (qualificada é um termo errado), a preencher o cargo oferecido que vai das condições psicológicas até as condições de graduação de cargos importantes. Ora, dados psicológicos não podem ser analisados, por exemplo, dentro do Facebook, pois, corre o risco de errar em muitas coisas e outra, na maior parte dos casos de inclusão de trabalhadores com deficiência, os maiores erros são do RH que são completamente, despreparados até mesmo numa análise de seleção curricular. Por que se deveria, numa análise moral e ética, um currículo ser analisado junto com um laudo médico da deficiência da pessoa? Em minha peregrinação por um emprego, eu sempre disse e mostrei minha deficiência e nunca escondi, e que me custou muitos cargos que eu poderia omitir algumas informações. Na parte moral e ética, estamos muito longe de analisar o que é certo e não o que é conveniente, pois, a conveniência é um mal cultural brasileiro.

Eticamente isso é errado, pois o profissional com deficiência tem que ser analisado pelo seu currículo e não pela sua deficiência. Mesmo que insistam que esse não é o motivo de se pedir o laudo médico, e sim, por causa de fraudes dentro da lei de cotas. Ora, quem poderia interessar em achar que poderia enganar pessoas só para entrar no mérito da lei? Como diz no latim: “cui bono?”, ou seja, quem ganha? Estamos muito longe, eticamente claro, em tirar certos vícios capacististas dentro da nossa sociedade e um deles, o mais importante como pessoas e como seres humanos, potenciais criadores de famílias (por que não?) e ótimo profissionais, é a normativa estética dentro de uma análise estereotipa. Por que? Porque a século se criou uma imagem normativa – que Foucault disse que está no discurso, é algo “discutível” – daquilo que a sociedade diz que deve fazer, e o que a sociedade não deve fazer. A aceitação ou não aceitação de pessoas com deficiência, está além daquilo que se chama de estética (como perfeito e imperfeito), está na ordem ética como norma que define a aparecia do objeto (aquilo que se analisa como símbolo do que se vê) com reações de cunho de um pré-conceito daquilo que lhe parece. A título de exemplo, uma vez fui numa entrevista e num determinado momento, a moça do RH me perguntou se eu conhecia o Excel e eu disse que conhecia e tinha uma certa familiaridade com o programa. Depois de alguns dias o e-mail veio e eu fui dispensado por não saber Excel, portanto, há sim uma padronização do que se pode entrar nas empresas e o que não pode entrar e infelizmente, isso também de forma estética.

Na parte ética, logico que houve certo descaso dentro do que disse ou não disse, caracterizando, que eu fui dispensado por ser cadeirante e por ser inexperiente. Por outro lado, há uma política de não aceitação do fato de haver uma certa cota para pessoas com deficiência e algumas empresas ainda insistem em só colocar pessoas para não pagarem a multa. Sim, é eticamente, errado isso. Eticamente deveriam ter mais atenção a pessoa humana e não a eficiência, deveriam, já que reclamam tanto da falta de ética dos nossos governantes, dar o mínimo de exemplo de ética dentro de uma sociedade. Daí voltamos a Hegel quando ele diz que as obras de arte são muito mais perfeitas do que as geometrias da natureza (que de certa forma, pode ser discutidas como não é bem assim), e que de alguma forma, o espirito humano é de um poder muito mais poderoso do que a natureza. De certa forma podemos afirmar que ele quis dizer que como filhos de Deus – lembramos que Hegel também é teólogo – podemos também ter o dom da criação e que toda criação humana é perfeita. Daí há dentro disto um idealismo muito grande, pois, não há obra de arte perfeita e não há dentro de toda a realidade, uma perfeição ao ponto de se dizer que a estética daquilo seja harmoniosa no sentido único.

Portanto, não há motivo algum em acreditar que uma pessoa com deficiência não pode ocupar algum cargo só por causa da sua deficiência, porque todos não são perfeitos. Como disse Hegel, perfeito só as obras de arte e muitas vezes, nem isso, pois, ninguém pode ver aquilo que não quer ver.


Quem quiser estudar mais sobre isso, na minha visão, eu tenho um livro no Clube de Autores chamado: Clube das Rodas de Aço: Tratado sobre Capacitismo

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