segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Teologia da Discórdia





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Lutero em Worms, interrogado pelo Dr. Eck.




Por Amauri Nolasco Sanches Junior

No versículo do Velho Testamento, mais preciso em Jeremias 17:5, que diz assim: "Assim diz o SENHOR: Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR!". Que todos dizem que se trata em confiar no outro ser humano, que todos os seres humanos são falhos e não somos dignos de confiança e só a Deus isso é pura falta de interpretação. Como o Senhor pode querer que um homem esteja desconfiando de outro homem, se somos todos a sua imagem e semelhança e somos todos irmãos? Como Deus todo poderoso, pode chamar um homem de maldito? Ou, simplesmente, era uma linguagem na época que esse versículo foi escrito, ou não era muito o Deus todo poderoso que precisa chamar sua própria criação de maldita para impor sua autoridade. E também, como uma grande falha no nosso país na educação escolar, há um erro enorme de interpretação de texto.

A pergunta poderia ser assim: por que interpretaram como confiar num outro homem? Porque não entenderam uma coisa importante, que no texto está “o homem que confia no homem” e não está escrito “o homem que confia no OUTRO homem”, porque esse “homem” não é outro ser e sim, o íntimo do próprio homem. O homem que tem o orgulho muito grande e acha que pode tudo e isso, faz dele algo soberbo, sem contar que o orgulho sendo egoísta, é um pecado. O profeta Jeremias está se referindo dentro do orgulho exagerado que faz do ser humano um ser que se afasta de Deus, dos valores espirituais verdadeiros e não, nunca poderia ter dito, que o homem deveria desconfiar de outro ser humano. Afinal, religião veio ou não veio do verbo “religare” que tem o significado de religar? Se tem o propósito de religar, por que se deve plantar a discórdia dos seres humanos?

A religião cristã como um todo, tem milhares de falhas teológicas que dariam um livro inteiro e não é pouco. Primeiro, se o cristianismo é um judaísmo reformado, por que se tem ainda o Velho Testamento? Porque sabemos que o Velho Testamento é o livro sagrado do judaísmo de onde, como a maioria sabe, Jesus nasceu e se criou e passou a vida. Por outro lado, o judaísmo rejeitou a doutrina de Jesus como uma doutrina do “messias” verdadeiro, que até hoje, existem o que afirmam que Jesus era mesmo o “messias” e os judeus que afirmam que ele (Jesus) não é o “messias”. O cristianismo católico é cheio de filosofias antigas como o platonismo, o aristotelismo e outras que foram trazidas por Santo Agostinho (ponho “santo” por razões históricas). Que por razões de cunho doutrinaria, o protestantismo segue alguns preceitos de Santo Agostinho, até porque, Martin Lutero (um dos mais importantes expoentes da reforma) era monge agostiniano e “devorava” as obras de um dos importantes “pais” da igreja cristã.

Segundo a teologia cristã, Jesus veio e morreu na cruz para eliminar os pecados do mundo, afinal, ele era o “cordeiro de Deus” que veio tirar o pecado do mundo. Se o profeta Jeremias disse “maldito o homem que confia no homem”, Jesus disse “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão. ”, em uma linguagem interpretativa, as duas falas estão ligadas ao orgulho que afasta do divino. Por que afasta do divino? Acho eu que a dúvida do ser humano que veio com o cristianismo – principalmente com o cristianismo reformado – tem sempre aquilo de achar todo mundo pecador e eles (a igreja), não fazem nada, não dizem nada e são quase “santos”. O orgulho também é achar que a sua religião é melhor do que a dos outros, é orgulho também é achar ser dono da verdade, é orgulho achar que a sua etnia é melhor do que as outras (como os judeus se achavam o povo escolhido). Poderíamos até ir longe e dizer que o moralismo é um tipo de orgulho, que tudo que é nu é pornografia, que Sodoma e Gomorra foram destruídas por Deus (como se Deus brincasse com playmobill), por causa de pecados previstos em uma só religião e Jesus veio e mostrou um outro aspecto, mas mesmo assim, se continuou acreditando no judaísmo. Claro, que é um direito o judaísmo ter sua doutrina, mas é nosso direito seguir com a doutrina do mestre Jesus, só. Tirando os versículos mais usados – por razões obvias dentro do protestantismo brasileiro – o Velho Testamento só vale como apoio moral e não um complemento do que Jesus disse, pois, afinal, Jesus ensinou que aquela interpretação estava errada.

Acho que devemos sim ser céticos as pessoas, pois, como diz aquele ditado “quem vê cara, não vê coração”. Mas eu sou igual Descartes, filosofo francês do século dezesseis, que se você tem que duvidar então, a dúvida tem que ser com tudo, pois, tudo foi criado pelo ser humano. Temos que duvidar do pastor, temos que duvidar do padre, temos que duvidar dos membros da igreja, temos que duvidar até das doutrinas judaicas-cristãs. Afinal, eles não foram construídos pela mão humana? Quem garante que foi por intermédio de Deus? Como Deus todo poderoso, todo amor, todo o bem, pode destruir cidades, pode destruir seres humanos, até matar, como se fosse um assassino? Isso até fere sua própria lei de “não matarás”, fere o princípio criador amoroso, criador que sempre quis o bem da humanidade. Isso, pelo menos para mim, é ilógico e desumano e faz um Deus perverso, sádico e por isso, um Deus que quer imperar e não criar. Não é muito diferente dos deuses gregos, dos deuses germânicos, deuses eslavos e por ai vai, pois, sempre que alguém mexia com o povo protegido, eram destruídos pelos deuses. Não é isso que lemos na Ilíada? Tróia foi destruída por causa do rapto de Helena e com apoio de alguns deuses? Acho que o nome “deus” já erra, porque não podemos achar que um ser onipotente, onisciente e onipresente tenha um gênero e seja masculino. Mesmo o porquê, ele disse na sarça em chamas “sou o que sou”, ou seja, ele não tem definição humana.


Acho que Spinoza – o filosofo luso excomungado do século dezessete – chegou mais ou menos, numa definição aproximada, que tudo é o ser divino. É ainda pobre, porque um ser que fez, não pode ser a criação daquilo que foi criado por ele. Eu não posso ser esse texto, pode ser que tem meus pensamentos com símbolos (letras) que expressam o que quero dizer, mas ainda assim, não é eu. Já o “ser” é um ego (eu em latim) e não pode definir um ente que está fora da realidade que estamos, não pode ser definido num modo humano, assim, podemos dizer, que esse ente é de uma definição que nem mesmo os avatares conseguiram definir. Não há como definir aquilo que não há definição, o ser humano é um ser limitado em sua própria linguagem, dessa linguagem só podemos definir aquilo que inventamos termos e definimos regras para esses termos, portanto, não podemos ter a pretensão em definir aquilo que ainda, não tem definição. Então, se não podemos nem definir esse ser divino, como podemos interpretar as doutrinas de religar o ser humano a esse ser criador? Será que essa interpretação é a certa? 




segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Dória e a cadeira de rodas


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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Há um grande problema no Brasil que é a política liberal ser uma política demonizada pela esquerda por causa da usurpação das correntes conservadoras terem se apropriado dela, porque os burgueses na sua maioria que deram um impulso na industrialização foram judeus e protestantes (nem todos, é claro). Nesta corrente se dará uma corrente muito importante culturalmente para a modernidade, o iluminismo que chegará a negar toda a cultura vigente para se criar uma cultura verdadeira e global. Neste contesto um filosofo se destacara, Immanuel Kant (1724-1804) que criou em suas críticas, uma conduta ética que deveria ser seguido à risca e uma nas suas condutas éticas era fazer que suas atitudes virassem atitudes universais.  Mas existe uma barreira muito forte para essas atitudes serem ou não universais, as suas crenças pessoais, que veem aquilo conforme o que se acredita e não o que realmente é. Daí temos várias confusões muito serias e que a crença pessoal vale mais do que a ética, e também, o ceticismo não uma doutrina para quem sabe usar.

Qual o problema de um prefeito como João Dória Jr, sentar em uma cadeira de rodas e andar em uma calçada ver o quanto de acessibilidade essa calçada precisa? No meu texto anterior eu disse que há vários problemas bastante sérios para acharmos que a participação de uma amputada no BBB17, poderá abrir caminho para uma inclusão de verdade e nem acho que foi para isso. Gozado é que a ação do Dória é marketing, mas colocar uma deficiente dentro de um reality show não é e é um caminho para chamar atenção para a inclusão. Fazer oposição por fazer é uma atitude contra o racionalismo, mas claro, temos que ser céticos por causa das promessas que recebemos e não foram cumpridas dentro das inúmeras gestões que não arrumaram a acessibilidade, não ampliaram o transporte ATENDE (além, de colocarem um gerente que não sabe conversar com as pessoas com deficiência), não há um plano de reabilitação nos postos (ficamos à mercê de políticas públicas erradas e ainda, centros de reabilitação que exploram a imagem das pessoas com deficiência). Críticas tem que ter consistências, se não, ficam apenas opiniões vazias em sem nenhum propósito.

Sistemas éticos são sistemas que não enxergam ideologias políticas, mas enxergam num todo dentro da sociedade numa conduta moral dentro do respeito mútuo. Isso não tem a ver com tal partido ou tal opinião, o respeito é neutro nas questões culturais e nada tem a ver com as questões vigentes, e assim, o que Kant quis dizer é que se você jogar um copo de agua no rosto de um indivíduo, todos vão passar a jogar copos de agua no rosto dos indivíduos e isso se torna algo universal. Quando um gestor não faz o que tem que fazer, isso se torna algo universal e todos os gestores acham por direito não fazer o que tem que fazer. Quando passa a fazer (a intenção se torna algo universal), esse fazer se torna algo universal que todos vão fazer; quando foi inaugurado o serviço ATENDE, o serviço foi copiado até mesmo em Portugal, porque passou a ser algo universal que ajudou milhares de pessoas com deficiência. Nisso, talvez, o filosofo florentino Maquiavel (que viveu no século XIV), tenha razão em afirmar que os fins, justificam os meios. Porque não importa qual a intenção da implantação do ATENDE (no caso de São Paulo), mas que essa intenção, ajudou muitas pessoas porque foi um ato copiado em muitos lugares diferentes.


Claro, que o ato da cadeira de rodas é só o começo (pode sim ser um ato de marketing), mas é um ato de políticas públicas de acessibilidade e arrumar as calçadas que a outra gestão não fez. Sucateou os serviços essenciais, tirou serviços necessários e assegurados por lei, achou que com isso iram economizar, mas só foi aumentar o descontento com uma administração desastrosa que só fez é aumentar ainda mais a dificuldades das pessoas com deficiência. 




quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Inclusão: só nos restou o BBB17

     

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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Aprendi dentro da internet que quando somos criticados estamos num caminho certo, eu como filosofo, não faço media com ninguém. Não vejo que as mídias vão nos dar vez e voz algum dia, pelo menos, enquanto estiverem na “lama” de um conservadorismo medieval olaviano que nada livrara o Brasil de um inimigo muito maior do que o inimigo imaginário comunista. As mídias são ainda comandadas por famílias que pensam ainda tradicionalmente, não pensam fora da caixinha, não ousam fazer algo inovador e sempre ficam fazendo programas chatos que não me cativam. Eu não sei ver gente que adora um barraco, gente que fica na “putaria”, gente que não tem nada de inteligente a dizer do que essa coisa chata de “coxinha” e “mortadela” que pensam ser uma visão política. Isso é coisa de Master Chef, isso sim.

Quando falamos de pessoas com deficiência o caso me parece muito mais grave, porque para nós entrarmos na mídia, devemos ou fazer um draminha básico, ou sermos filho de político desaparecido na ditadura. Aliás, ser filho de político que desapareceu na ditadura, lhe dará um status quo tão grande dentro da mídia que esquecem da cadeira de rodas do sujeito e os seus livros bombam e até viram filme. Me parece que o papel da mídia seria o mesmo papel que tiveram os grandes sofistas nas Àgoras gregas na antiguidade, sofismam aquilo que não são, não seguem à risca e só ficam no discurso vazio. O problema vai muito mais fundo que jamais foi, as mídias, assim como as empresas, não querem colocar em suas pautas as pessoas com deficiência e ponto, se colocam, é de uma maneira bastante genérica. Denúncias são feitas todos os dias, casos de preconceito (capacitismo) são mostrados todos os dias nas redes sociais, mas o que bombam na mídia é videozinho político, videozinho de fotos vazadas de atores globais (que sabemos ser de propósito) e não denúncias de verdade. E as denúncias do transporte que não funciona? Das filas intermináveis dentro do SUS para consegui cadeiras de rodas ou aparelhos outros? Se no Sudeste (onde moro), as coisas são assim, imagine nas regiões mais pobres do Brasil.

Em matéria de saúde não temos um centro de reabilitação de verdade que tenham capacidade de cumprir aquilo que foram designados, também, cumprir a legislação brasileira em ter lugar de embarque e desembarque, ter médicos educados e que falem com as pessoas com deficiência. O tratamento do SUS ainda é precário não só para consegui aparelhos, mas para consegui fisioterapias, operações, tratamentos clínicos e entre outros. Existem até, centro de reabilitação que ainda, em pleno século XXI, acham que ginecologista não faz parte da reabilitação da mulher com deficiência. Além de achar que só as pessoas com deficiência famosas merecem respeito, pois, pessoas muito pobres são maltratadas e até humilhadas dentro da instituição. Como podemos achar que há inclusão se nem as instituições que deveriam zelar pelo simples cumprimento de vagas de estacionamento, não estão nem aí com as pessoas com deficiência como deveriam estar? A mídia é só um reflexo dentro daquilo que a cultura se construiu ao longo do processo político que o nosso país passou, a sociedade ficou um pouco mais chata, um pouco mais exigente daquilo que não deveria e não é prioridade por agora.

Aí chegamos ao ponto que eu queria e precisava chegar, a mídia só lembra das nossas cadeirinhas, nossas muletinhas, nossos aparelhos diversos, quando acontece as Paralimpíadas.  Mas também não mostra na integra e nem tem uma cobertura como tem as Olimpíadas, que ao meu ver, como a Copa, perdeu seu encanto quando começaram a aparecer não jogadores, mas artistas que são famosos e nada são além disso. Ou, ridiculamente, atletas que desobedeceram uma proibição, sofreram um acidente e agora recebem o teto da aposentadoria, quando outros deficientes, tem que viver de um salário mínimo. Mas, como aconteceu com o filho do político desaparecida na ditadura, a atleta tem destaque dentro da mídia como se fosse muito importante o que dizem, a mim não comovem. Isso mesmo, a mídia mostra eles porque comovem, porque são famosos, porque são mostrados como “exemplo de superação” que não podem ser criticados e nem atacados. Afinal, coitados deles que não podem andar, não? Esse “coitado” que leva ao Brasil não só a ser um país que tem índices muito auto de criminalidade, mas também, fomenta o preconceito geral. Eu acho que essa discussão capacitista, está muito pobre e muito fraca de argumentos de verdade, ninguém mais aguenta essa coisa de sempre a mesma ladainha, sempre a mesma história e só isentam, o que vai interessar para alguns: como carros, carros e carros. E as cadeiras de rodas e outros aparelhos, não pagam impostos? Parece que as pessoas acham que não, mas pagam impostos sim.

Aqui quem tem personalidade é tido como chato, críticas não devem ser feitas se você quer vender alguma coisa, você tem que ser o legal. Como ser legal? Ser legal – que alguns chamam de ser positivo e que é uma variante da visão rousseauniana – é tipo, critica algumas posições governamentais, mas nunca cometer o “pecado” de criticar posições sociais, porque a sociedade é vítima de posições ideológicas e não o contrário. Muito porem, eu acho que o governo e o capitalismo – o socialismo também, mas de modo bastante diferente – ensina que fumar é elegante, ensina que você ser o máximo é se encher de cerveja e encher o carro de mulher (além de tudo, incentiva o machismo), depois fica criando lei de combate a tais práticas, porque isso dá prejuízo onde nem mesmo funciona, o SUS. Aonde quero chegar? Bom, tenho um livro sobre tudo isso, mas como sou uma pessoa crítica, as pessoas não gostam de ler porque não é uma visão positiva das questões. Mas, quero destacar duas opiniões que a mídias destacaram.

Primeiro: eu não acho que esse cadastro nacional de pessoas com deficiência tenha êxito em ajudar, porque mesmo que não precisamos de cadastrar várias coisas ao mesmo tempo, ainda sim, vamos ter que fazer exames. O que adiantara não cadastrarmos se o ruim da questão é fazer o tal exame médico? Claro, que o “inteligentinho” com deficiência vai dizer que esse exame e para barrar possíveis fraudes, mas que sabemos, não adianta nada. Sabemos que laudos médicos são fraudados, sabemos que exames médicos fazem ou sermos barrados ou diminuídos para não usarmos tais serviços, sabemos que isso vai virar desculpa para as empresas não contratarem e tudo ficou na mesma. Viu o que é analisar um fato?

Segundo, só nos restou o BBB17 para consolar ou para afundarmos de vez na lama do capacitismo. Veja bem aonde chegamos: uma amputada, modelo famosa que não tem uma perna, empresaria, rica, participar de um reality show vai trazer alguma discussão da inclusão? Ser positivo é uma coisa, ser iludido numa ideia “cor-de-rosa” é bem diferente, pois, não vejo com bons olhos essa participação como não vi com bons olhos, as novelas que foram patéticas. Porque, ao mesmo tempo que pode sim gerar uma outra visão da deficiência, por outro lado, também pode gerar uma visão muito maior do “exemplo de superação” que nada mais é, do que o “coitadinho” que superou aquilo que machuca ele. Nada mais e nada menos. Como mesmo sabemos, tudo isso é para dar audiência, mas sinceramente, não vejo o porquê assistir um programa desse deplorável, um programa mentiroso, um programa que mostra o que há de pior no ser humano.


Vamos ter uma inclusão de verdade assim? 



quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Olavismo e Brasil Paralelo, erro filosófico.






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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Devo começar a explicar o que seria o filósofo e seu papel dentro da sociedade onde está inserido (como ser que vive e interage ao meio). Segundo a tradição dentro da filosofia, quem cunhou essa expressão foi Pitágoras quando foi chamado de sábio, então, Pitágoras teria respondido que era um “philosophós”. Ou seja, o “philosophós” era um “amigo da sabedoria” e ainda não estava com ela, porque procurava essa sabedoria. Na verdade, o termo vem de dois termos gregos, “philia” (amor amizade) e “sophia” (sabedoria), onde buscamos a melhor maneira de obter a sabedoria sempre buscando os termos e pensamentos certos. Mas o filósofo, ou aquele que almeja achar a verdade, não pode ter um pensamento pronto e achar que isso é filosofia, pois, não é porque está sendo pragmático e o pensamento pragmático se torna muitas vezes – quando não há embasamento filosófico de querer buscar por meio da sabedoria e não do fácil, do senso comum – se torna um pensamento, sofista. Quem sofisma não é filósofo é mero “achão” que está perdido naquilo que se fala no senso comum, e aquilo que realmente é no sentido de construção dos fatos que realmente aconteceram.

Ora, o filósofo que sabe que há uma construção histórica mundial (mesmo que não concorde com isso), sabe que as sociedades são dinâmicas no sentido de mudar algumas áreas que não cabem mais naquele período. Foi muito gostoso, por exemplo, jogar Atari quando eu era garoto e fui feliz em ter um videogame Atari, mas acabou, a tecnologia avançou de tal maneira (junto com a linguagem de programação), que os jogos são muito realistas. Tanto é, que muitas profissões, se treina com simulações como os pilotos de aviões ou outras por aí. O mundo humano é dinâmico ao ponto de evoluirmos e mudarmos de ideia, mudarmos de opinião e sempre seguir a sociedade nessa dinâmica. Só que tem o individualismo de cada ser humano, não se pode achar que você convence todo mundo a todo tempo, uma hora aquela ideia vai ruir e aquela sociedade muda.

Se o tempo é dinâmico, se os fatos e as verdades mudam a todo tempo, as ideias têm como base o “agora” e o que é melhor para o ser humano naquele momento. Voltamos ao exemplo do videogame Atari, foi um grande avanço dentro dos anos 80, mas depois muitos outros superaram a tecnologia de se jogar e a tecnologia gráfica que dará mais realismo. Já pensou se não quiséssemos jogar esses jogos por causa que não quiséssemos algo melhor do que o Atari? Assim é o tempo e a civilização humana, temos que conservar núcleos importantes, mas não devemos conservar o que não nos serve mais. As culturas vigentes estavam culminando em guerras mundiais (além da guerra fria), e com a morte de Kennedy, os fascismos estavam em rota de acontecerem e ditadoras mundiais e porque não, uma nova guerra mundial. Qual a melhor resposta da juventude? O erro do documentário é ligar liberdade com a teoria comunista, que na sua essência, não é e nunca foi, libertaria. Por causa de um arquiduque, milhões morreram na primeira guerra mundial, por causa de um acordo mal feito e o descumprimento do desarmamento mundial – o ESTADO nunca vai se desarmar sem que ficamos sem medo – culminaram a segunda guerra mundial. E por causa de um mal entendimento de diálogos entre governos, culminou a guerra fria e então, se começa a questionar essa cultura.

Me parece que há uma confusão entre comunidade e comunismo, pois são coisas muito distintas que o olavismo colocou num mesmo patamar. Comunidade é o local onde você está com as outras pessoas, comunismo é nivelar todos num mesmo patamar de vida e tudo é regulado pelo ESTADO (inclusive empresas). A cultura hippie eram a favor da anarquia e uma humanidade comunitária, sem medo um do outro, sem fronteiras e sem hierarquias que culminaram na resposta as hierarquias que falharam em proteger (que no fundo, só pensavam em seu próprio bem-estar). Claro, usando todas as religiões possíveis. Por que será que os hippies voltaram com religiões ancestrais? E no fim, o ESTADO infiltra drogas e doenças como a AIDS dentro dessas comunidades, propositalmente. Claro, que vocês vão dizer que são teorias conspiratórias, mas, faz sentido quando você lê livros de história de verdade.

Um filosofo é um grande amigo do saber, esse saber não tem ideologias e não pode ter religiões – não se trata de ateísmo, mas a filosofia em si, é isenta de todo senso comum – a filosofia não pode ser conservadora ao ponto de não querer modificar. Na verdade, um filosofo deveria olhar a humanidade acima de uma montanha, mas o que vimos são filósofos cada vez mais comprometidos não pelo saber, e sim, pelas ideologias que nada ajudam a humanidade. Logico, que devemos sim conservar a instituição da família num modo verdadeiro, porque a gente sabe, que a ideia de família que o cristianismo adotou para só dele, é um modelo hipócrita já na idade média. Que Freud denuncia – que por razões desconhecidas, se colocou a psicanalise como uma pseudociência -  gerando toda a sua teoria do inconsciente, da repreensão daquilo que as pessoas realmente são. Membros familiares não são “robôs” que devem seguir uma programação, membros familiares tem vontades, tem desejos, tem sonhos, tem dúvidas, tem opiniões e antes de tudo, são humanos. Querem fazer escolhas devem ser respeitadas, devem ser vistas não como um desvio de conduta, mas um modo de amadurecimento. Se duas pessoas do mesmo sexo quiserem se relacionar, qual o problema? Se pessoas com deficiência quiserem casar ou transarem, qual o problema? Se pessoas quiserem se tatuar, qual o problema? Se as pessoas quiserem usar o celular, qual o problema? O único e verdadeiro problema é que há filósofos que não conseguem ir além daquilo que deveriam ultrapassar. Entre a realidade e a ilusão, o abismo é muito pequeno e a pequenez desse abismo tem a ver com a manipulação das grandes massas.

Ai que está, um filosofo não pode ser manipulado por nada. Ele deve filosofar “pelado” (sem ideologias), porque vai se vestir diferente, vai pensar como um amigo do saber. O olavismo, que quer livrar do “esquerdismo”, erra em dizer que tudo é comunismo, dando poder demais a uma teoria que voltou para a prateleira. Aliás, há um erro em dizer que o PT é comunista, porque não são pessoas que leram, não são pessoas que entenderam o papel da esquerda, só queriam o poder. Eu concordo com Deleuze quando diz que não há governo de esquerda, porque a esquerda serve para fiscalizar e defender aqueles que não tem defesa. Quando entram no governo, ficam à mercê de interesses, ficam de resoluções populistas que não cabem dentro de uma economia realista. Mas, a direita erra em conservar algo que não serve mais, então, ficamos reféns de uma roda infinita de ideias velhas defendidas não porque ainda se acreditam nelas, mas por pura birra infantil. Ora, dá onde se tira que o movimento de 60 é comunista? Vários fatores desmentem e até o próprio Adorno, através do jazz, vai dizer que a geração “beach” vai ser uma geração com uma música infantil, fruto da indústria cultural. Então, qual a relação pode ter entre os “beach”e depois os “hippies”, com os comunistas? Isso me cheira papo de padre velho que acredita ainda que a escolástica tem solução, que a igreja é a única salvação e tudo que cheia liberdade, é uma questão comunista. No mínimo é “risível” esse olavismo.


Outra coisa que o documentário Brasil Paralelo não mostra – que fica evidente que é um documentário monarquista e olaviano – é que, embora Jose Bonifácio de Andrade tenha regido D. Pedro II até a sua maturidade, ele não modernizou o Brasil como deveria por causa de causas religiosas. Ele boicotou o Barão de Mauá, que estava construindo ferrovias e fundou o Banco do Brasil, só por causa que ele era membro da maçonaria e é, infelizmente, um vício muito forte do nosso país: a vida pessoal conta mais do que a vida pública. O problema das ferrovias dura até hoje graças a ignorância religiosa de um regente que não pensou no Brasil, pensou no poder, pensou somente em uma ideia enfiada dentro da igreja e perdura a séculos, somente quem é dela tem o direito legitimo do bem. Quanto o Brasil ganharia com as ferrovias? Quando o Brasil ganharia com os créditos que o Barão de Mauá disponibilizava diante dos produtores e empregados? A questão é muito mais complexa do que mero comunismo, o problema do Brasil é que herdou vícios latinos dês do império romano. Então, não foi o comunismo, não foi o capitalismo (o socialismo e o capitalismo, herdaram vícios de séculos e é um problema muito mais antigo), e sim, a nossa cultura que não há um estudo sistemático da verdadeira história do Brasil, daí, sai mesmo essas “perolas” que só o fanatismo religioso produz na figura do Olavo de Carvalho. O resto é só bobagem. 

Para quem quiser assistir, estarei postando:



quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O Ateu “Toddynho”


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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Duas coisas me fizeram escrever esse texto: uma, é explicar o que seria um ateu “toddynho” e o que seria ser esse tipo de ateu. Em segundo lugar, a incrível mania do nosso povo em se fanatizar por tudo e por todos só porque falaram meia dúzias de palavras que concordam. A expressão “fulano toddynho”, na verdade não é nova, porque ela começou com as passeatas em prol o impeachment que o pessoal dizia: “só falta levar Toddynho lá” em alusão as incursões escolares que as “tias” levavam caixas de Toddynho para serem distribuídas entre os alunos.

Existem várias definições para os ateus, mas os únicos ateus até hoje que tiveram argumentos bons foram os ateus gregos e em especial, Epicuro. Ele dizia, que se existe um deus bom, como poderia haver a maldade sendo esse deus um ser em pura bondade. Tempos depois – muito tempo – os gnósticos irão dizer, que na verdade, o deus que todo mundo judaico-cristão acreditava era mal e só a alma humana era boa. Como era de se esperar, os gnósticos foram acusados de heresia e não eram considerados, cristãos verdadeiramente. Na verdade, não podemos muito saber qual a real doutrina jesuítica sem tropeçar na área mística que deram em torno da figura de Jesus de Nazaré. Os únicos relatos que poderiam ser chamados de um ensinamento genuíno, são do sermão da montanha, onde ele vai lançar toda sua filosofia ali, logo tudo não passou de uma tentativa de mistificar a figura de Jesus. Mas podemos chegar fácil na conclusão que o mal não é uma força distinta, mas é um lado de uma mesma força, ou seja, não podemos culpar a fábrica de faca por causa de um assassinato.

O ateu de verdade não liga muito o que as pessoas acreditam e o porquê elas acreditam, elas são independentes daquele deus não existir e provar isso. O ateu “toddynho”, o militante, não pode ler o nome “deus” que começa a querer te convencer que esse mesmo “deus” não existe, que as religiões são todas mentirosas que a figura de Jesus parece com a figura de Mirtra, de Hórus, entre outras divindades. Claro que nós, que acreditamos em alguma força que criou todo o universo, sabemos (pelo menos os mais estudados), que há semelhanças nas histórias porque a igreja primitiva tinha que construir um mito para melhor aceitação da crença cristã. Quem iria seguir um filho de carpinteiro, pobre que estudou por ele mesmo (é provável que José além de carpinteiro, fosse algo como sacerdote do templo) sem uma imagem sagrada? Pode ser que fez os milagres, pode ser que não fez, pode ser apenas símbolos morais a serem seguidos que só poucos poderiam ter entendido. Quando estamos iludidos não dizem que estamos cegos? Quando não queremos andar com as próprias pernas, não dizem que estamos aleijados? Isso independe se “Deus” existe ou não, independente se existe espíritos ou não, isso independe de coisas além da realidade que podemos ver (em alguns casos, o que querem ver).

Não acho que para provar que Deus exista ou não, temos que achar que a Bíblia é verdadeira ou não, que apresenta fatos ou não. Isso mesmo faz os ateus serem militantes, porque querem convencer convertendo. O que o ateísmo traz de bom para a nossa vida? Muito menos que uma religião, porque no máximo que ele oferece (o ateísmo), é a eliminação da culpa de se fazer tudo que se quer e não ter uma “punição” após essa vida, ou mais ainda, não ter que carregar uma lembrança de algo triste por toda a eternidade. Tenho que confessar que é algo tentador, algo que me faz ter uma certa liberdade, mas daí vem a lógica da nossa origem e um grande vácuo acontece. Mas as pessoas podem me falar que o Gêneses estava mentindo, pois, agora existe o Big Bang (que também está sendo contestado), e que não faz sentido nenhum. Aí que está o X da questão, não faz sentido porque perdemos duas coisas: interpretar textos que é muito importante numa análise rigorosa, depois, perdemos a capacidade de ler um texto, imaginando o simbolismo que se tinha da época que esses textos foram escritos. Ser um escrito simbólico, não deveria ser dito que é um texto mentiroso, já que não tem muita diferença num modo simbólico. Quem não pode fazer a ligação que “se faça luz” com uma grande explosão? Quem não faz a ligação, muito parecida, entre a criação do universo cientifica e a criação do universo hindu?

A criação do universo hindu – o hinduísmo remonta uns 10 a 5 mil antes de Cristo – diz que existia um ovo primordial e esse ovo explodiu e nessa explosão se criou o universo. Não lembro de tudo – porque a muito tempo li – mas parece que Brahma era o deus que criou o universo, mas esse universo era imperfeito, porque não teria terminado esse universo. Outro ponto que a ciência caminha num pensamento parecido é que o universo é só vibração. Encontramos isso também em Pitágoras, onde o universo é parecido com uma música das cordas de uma lira (instrumento musical grego), onde os vários universos (teoria quântica), que se deu a teoria das cordas. Estudando tudo isso, por muitos anos, não se chega a conclusão que milhares de anos de evolução não teriam uma causa? É difícil não aceitar a causa, porém, sei muito bem, os argumentos teológicos são muito fracos e nada contem enquanto, um instrumento prático. Acho que por isso, muitos acabam aceitando a fé protestante (aqui se chama evangélicos), porque é pratica, Deus senhor de tudo criou o mundo e tudo e pronto (claro, que há toda uma teologia luterana e calvinista por traz, mas na pratica é o que pregam para a grande massa).


Isso tudo vem a ser um estudo verdadeiro dentro daquilo que me limito (sei que nada sei), saber do assunto, talvez, de pesquisar a fundo um assunto que me interessa. Essas ligações são ligações que não faço por impulso em defesa daquilo que defendo – muitas pessoas me chamam de espirita, mas só me limito em uma parte muito pequena do espiritismo – mas aquilo que é logico dentro da natureza do universo. Nada pode vir do nada e não é eu que digo isso, é a própria matemática, as teorias físicas, são as descobertas recentes. Renegar a religião não é o mesmo que renegar uma origem, um entre muitos símbolos espirituais espalhados dentro de inúmeros livros sagrados. Religião não é o mesmo que fanatismo, religião não é o mesmo que teologia, religião não é o mesmo que espiritualidade e quem renegar isso, é um ateu “toddynho”. 



quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

A minha infância estranha





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Escola Estadual Rodrigues Alves, onde começou minha jornada filosófica e fica na Avenida Paulista






Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Quando eu era pequeno, eu me encontrava em pensamentos estranhos. Minha infância não era estranha por causa da deficiência – acredite ou não, nunca dei muita importância para ela – mas pelos meus pensamentos que na época, eu achava estranho. Primeiro, sempre ficava olhando um terreno baldio na frente da casa onde eu morava e ficava imaginando o que teria naquilo tudo. Claro, que na minha casa – pelo menos nesta casa – teria muitos escorpiões e sapos que minha mãe tinha que ficar caçando e colocando em vidros de álcool – na verdade só os escorpiões, os sapos meu pai jogava no terreno. Eu morria de medo desses escorpiões, mas graças a Deus, ninguém da minha casa foi picado por eles. Outros pensamentos eram atrelados ao que eu imaginava, pois, eu sempre era aficionado por tecnologia. Até imaginei um transporte subterrâneo para deficientes que nos levaríamos ao colégio onde estudávamos, o conhecido colégio Rodrigues Alves que fica até hoje na Avenida Paulista (onde a AACD tinha uma unidade, mas por razões obscuras, a diretora pediu as classes especiais). Era uma mistura de metro e montanha russa.

A minha imaginação era muito extensa e ia muito além do que eu próprio imaginava como limite dessa imaginação, pois, eram ideias muito além do que poderíamos ter como realidade. Ficava fascinado pelas naves do Star Wars (que tempos depois, bem mais tarde, descobri que o Star Wars era além daquelas naves e tudo mais), pela tecnologia do Jornada nas Estrelas (Star Trek), entre outros seriados. Mas eu queria ter mesmo era uma Supermáquina, pois, adorava imaginar um carro que dirigisse sozinho, se guiava sozinho e tudo mais. Até fiz uma lista de componentes para fazer uma supermáquina sozinho, naquele tempo, não tinha muita noção das coisas que tenho hoje, era criança, afinal. Era muita imaginação para pouca cabecinha, que voava dentro das minhas ideias e não tinha ideia, que um dia amaria a filosofia como hoje, amo de paixão. Talvez, isso era o começo das coisas que eu poderia formar ou imaginar como a minha própria verdade, a minha própria questão do mundo onde estava vivendo.

Mas não era só na tecnologia, era também na vida diária que eu ficava imaginando coisas. Lembro que no primeiro dia, ficava imaginando o que seria aqueles buracos na parede do colégio onde estudava e ficava imaginando sua serventia, que anos depois, era um sistema de ventilação muito mais simples, e muito eficiente. Aqueles canos no teto, achava estranho um quadro negro ser colorido por um pedaço de pó que chamavam de giz (tempos depois, os quadros negros se tornaram brancos e começaram a ter canetões). Essa estranheza do mundo não era compartilhada com meus colegas, tudo era normal para eles e tudo fazia parte da realidade onde viviam, uns só queriam paquerar e namorar (tempos depois eu também comecei a me apaixonar), outros só se importavam em ficar revoltados pela sua deficiência e na maioria dos casos, eu não tinha ninguém para compartilhar as minhas ideias. Eu era lucido em uma caverna de sombras, onde eu via a luz da verdade e os meus amigos, viam as sombras. Daí fingia que estava vendo estas sombras para não ficar ainda mais sozinho, isolado em minhas próprias ideias.

Outro fato estranho era a imaginar o que o cara do carro ao lado da Kombi da AACD, estava pensando, como era a vida dele, o que ele pensava sobre a vida. Eu coloquei bem isso no meu romance O Caminho, quando Vladimir está na ponte imaginando o que aqueles motoristas lá embaixo estavam pensando. Sempre ficava perguntando o “porquê” os bajuladores viravam chefes dos motoristas lá na AACD – que aliás, não tratavam como deveria os pacientes deixando em porta de cemitério, faziam ele chorar até se mijar todo e outras coisas mais – o “porquê” muitos profissionais que destratavam os pacientes eram protegidos. Era uma noção, um tanto primitiva, dos fundamentos éticos e morais que eu viria a estudar muito tempo depois com a filosofia. E uma coisa que sempre me intrigou: por que tínhamos que ser separado dos demais no colégio? Por que não podemos ter um convívio dentro do que achamos ser normais? Como disse, já era um questionário ético e muito me envolveu dentro da minha adolescência quanto ao que referimos a paixão.

Mas o que é a paixão? Paixão não é amor, amor é natural daquilo ou alguém que se ama, paixão é aquilo que tem obsessão e sofrimento. Etimologicamente, paixão tem a mesma raiz de paciente, pois, vem do grego “pathos” e não à toa, a palavra patologia se refere a doença, ao sofrimento psicológico ou físico. Claro, que descobri isso após, mais ou menos, 20 anos depois de ter as minhas paixões, muitas vezes, platônicas que me levaram ao sofrimento. Mas sofrer não é ruim, sofrer muitas vezes, te faz crescer e virar uma pessoa forte e assim me sinto. Se o motorista me encheu o saco, se as professoras me encheram o saco, se as garotas não me queriam como namorado (por causa da deficiência), pouco importa, hoje sou um homem completamente vivido o bastante para ter um relacionamento e não cair em armadilha da vida. Mas naquele tempo, eu não tinha nem ideia do que seja isso e ficava imaginando o porquê disso tudo, o porquê que as garotas aceitavam uns e não aceitavam outros. Hoje sei que isso tem a ver com a cultura, tem a ver com a família, tem a ver com o íntimo de uma ou um, adolescente. Quando falamos de adolescente falamos de pré-adulto, falamos da aceitação do nosso meio e esse meio é importante, porque buscamos a aceitação daquele meio. Em meio de paixão e de amor eu posso dizer que não tenho nada a acrescentar, pois, tive 3 namoros de verdade e essas 3 pessoas, foram importantes dentro do meu íntimo e pode ter certeza, o verdadeiro e mais importante amor que eu tive, e tenho, é o meu noivado agora. Mas todas me foram importantes para a construção do meu ser.

Na verdade, o ser não é meu, porque o ser é a totalidade da verdadeira realidade, pois, ela só é o encontro de si mesmo. Mas o “meu” é um grande egoísmo de um ser que teve tantas pessoas envolvidas, sempre tive ideias do mundo que vivi. A banalidade e não banalidade não é o que o outro faz ou não faz, a banalidade é não saber quem você mesmo é, a natureza do nosso eu mesmo. O “ego” é o nosso pequeno eu e o “self” é o nosso eu superior, aí para você tirar essa banalização da sua vida, tem que fazer esse grande avanço e deixar o “ego”. Por muito tempo eu também fiquei falando mal dos outros, também fiquei atrelado em coisas mesquinhas, mas quando eu decidi que seria um escritor filosofo, eu decidir algo dentro do “self” e deixei tudo de lado e me dediquei o meu tempo, dês de então, a isto tudo como se acordasse um dia do mundo virtual, e acordasse para o mundo real e dissesse “basta! Não quero mais ser o que os outros querem”, não quero mesmo, pois, acho que um filosofo não é aquele que tem uma retorica invejável, e sim, aquele que tem uma visão geral do mundo onde vivemos. Eu sou muito seguro enquanto a isto, quando eu deixei o banal – não só no discurso, mas verdadeiramente – e me dediquei aquilo que sempre fui enquanto ser que pensa, o ser que sente e tem vontade próprias para tal.

Dês de criança, eu sempre gostei de brinquedos simples, sempre gostei de brincadeiras simples, porque sempre gostava de praticidade e nunca de complicação. Para mim até hoje, gosto de achar que pau é pau, pedra é pedra, mas existem coisas que precisam explicar, um ato tem uma causa e essa causa tem que ser explicada. Por que existiam uma ala de deficientes que tinham que ficar numa oficina abrigada? Por que as pessoas ficavam ou ficam nervosas comigo? Por que existiam tanta proteção em certas situações? E nesses 40 anos de minha vida, ninguém me explicou nada, só me disseram que é assim e não vai mudar. Não acho, acho que o humano vai um dia se encher de ser “zé ninguém” e vai evoluir sempre.


Assim, dês da infância acho que procuro o porquê disso, o porquê da vida, o porquê da deficiência e o porquê as pessoas complicam tanto a vida. Eu sempre vi mais do que os outros, sempre achei que eu era um extraterrestre, hoje sei que não (talvez em espirito, mas é um papo para outro texto). As limitações das pessoas são limitações daquilo que são da natureza dela, ela só sabe ser o que ela é e ponto. Muito talvez, mesmo, eu seja a exceção onde a regra é ser medíocre. E você, quer ser medíocre? 

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Por que as pessoas querem sangue?




O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós.... Frase de Jean-Paul Sartre.







Por Amauri Nolasco Sanches Junior

É uma tremenda mentira que o povo quer a paz, que o povo quer o bem-estar do outro, que o caráter tem que vir com a bondade. Faça um teste: tente gravar um vídeo falando de coisas inteligentes, depois faça um vídeo falando mal de alguém (famoso ou não) para ver o que acontece. Claro, vamos ter muito mais visualizações no vídeo das “desgraças alheias” do que os vídeos de conhecimentos diversos, de verdadeiras filosofias (filosofia é muito mais do que política), ou canais do YouTube de literatura. Isso, infelizmente, não é novidade. Já na antiguidade o ser humano assistia lutas de gladiadores que arrancavam a perna, arrancavam as tripas e outras coisas mais dentro das arenas. Fora os sacrifícios humanos vistos por milhares de pessoas, o ritual da “águia de sangue” viking, que condenava o cidadão por profanar os deuses, a serem abertos pelas costelas (nas costas do condenado), serem abertos e os pulmões expostos. Se o condenado gritar ou chorar, não entrara no Vahalla (castelo de Odin, onde os guerreiros ficavam até o fim dos tempos o Ragnarok), e isso era visto pela aldeia inteirinha.

A mitologia helênica, passa a ser oficial graças aos relatos de uma guerra que dizimou uma cidade inteira e não pensem que o cristianismo deu mais “santidade” aos seres humanos, pois, a queima das bruxas eram vistas até mesmo por crianças. Essa vontade de ver a desgraça alheia é inerente ao ser humano? Será que o ser humano é levado ao “bem”, a “liberdade” e a “racionalidade”? Se fomos hábitos ao bem, não acharíamos que a verdade estaria em coisas que foram feitas para nos manipular e não dávamos “like” as desgraças alheias, como muita gente gosta de dar. Acho de tremendo mal gosto, no sentido de má educação, repassar vídeos de gente caindo e achar alguma graça nisso. Além de compartilhar crianças com doenças só para ganhar “amém”, fotos de pessoas mortas em acidentes (aéreos ou automobilístico), posta sempre coisa sangrenta. A tragédia é completa quando a mesma pessoa diz que não gosta de filme de terror “´porque traz coisa ruim”. Se o ser humano é habito a liberdade não se poderia “obrigar” o outro da nossa opinião, da sua raiva interna de sempre culpar o outro da sua própria desgraça. O exemplo clássico dos dias de hoje, é a discussão entre os “coxinhas” e os “mortadelas” ou os ateus e não ateus – que já ficou chato, porque os filósofos já tomaram partido de um dos lados, que para mim, é uma espécie de “heresia” filosófica – porque se em tese nós somos animais que gostamos de liberdade, na essência, esse tipo de discussão é uma discussão arbitrário e pobre. E se nós somos animais racionais – no sentido de entender a nossa própria realidade – então, não teríamos tantas notícias falsas ou tantas informações que não agregam nada, ficamos no limbo do verdadeiro conhecimento.

Na verdade, o ser humano é um ser trágico que gosta de uma tragédia para se sentir superior ao outro, sempre queremos ser mais do que o outro e aquela visão te dará um certo status quo dentro da sociedade aonde você está. Nietzsche tinha razão em dizer que matamos o verdadeiro “Deus” para erguer o falso “deus” fazendo a vida trágica, uma vida de fracos e mesquinhos que se sentem ressentidos. Não pensem que o cristianismo tem o maior contingente porque gostam do pensamento de Jesus, mas o culto do “deus que sangra” sempre é mais interessante. Ninguém está interessado em partilhar nada, em fazer o bem, ser altruísta ou pregar o evangelho de verdade, todo mundo gosta de ver a cruz com o “deus que sangra”.  A personificação do evangelho não “bate” com a teologia que se fez depois, quem leu verdadeiramente, sabe do que estou dizendo.

Filosoficamente, tem a ver com a ética, o caráter de cada um ter a sabedoria de não agredir o outro e respeitar o outro. Tirar o outro das ilusões da vida – ou que se acha ser uma ilusão – não é agredir no que o outro acredita, mas perguntar ao outro a fonte daquilo que ele acredita. Mesmo um ateu acredita que não existe nenhuma divindade, porque não se pode provar se existe ou não, mas podemos teorizar se aquilo é ou não a verdade. A “verdade” é um conceito transitório, ela muda conforme a nossa conveniência e aquilo que te convém, sempre é aquilo que o outro te levou a pensar. Quem realmente sabe o que é? Quem pensa por si mesmo? Eu acredito no que quero, eu sigo a filosofia que eu quero, eu penso o que quero e nada me levou a isso. Pensar não é seguir outro pensador, pensar é refletir se é coerente aquilo, se é coerente com aquilo que você mesmo pensa. Os outros são os outros, porque a única certeza que se tem, é que existimos por pensar e ver aquilo.

Posso concordar com outro filosofo, posso até incorporar seu pensamento ao meu, mas quando há um erro, temos que refutar esse erro. Mas esses erros são erros evidentes sem se contaminar com aquilo que acredito, pois, sempre corremos o risco de sermos injusto. O problema não é achar que aquele filosofo está errado, o problema que sempre o filosofo não está de acordo com nossas próprias crenças, porque o filosofo tem o dever de perguntar o “porquê”. Daí entra a frase mais conhecida, ou uma delas, que diz: “Ouse saber”, porque o ousar saber é o começo de sair da sua “caixa” e pensar fora dela. Duvidar sem ousar é o mesmo que gostar e não comer aquilo que se gosta, porque a felicidade (eudaimonia) é sempre rara porque as pessoas estão cada vez mais presas aquilo que não traz nada e não agrega nada. Muitas poucas pessoas que seguem o protestantismo leram Lutero e Calvino, muitos poucos que seguem o espiritismo leram Kardec, muitos nem sabem da história da igreja católica para ousar saber, para ousar ter uma bagagem própria sem depender do outro. No campo politico, quem é a favor do comunismo nem sempre leram Marx, quem segue o campo liberal muito poucos leram Mill ou Locke, quem é a favor da anarquia não leu Bakunin ou Proudhon, porque gostam de ser pequenos, gostam de ser escravizados e é um fenômeno típico do primata, seguir o mais forte e achar que ele é o salvador. Só que somos racionais.

Esse fenômeno é um fenômeno típico de pessoas cômodas que não querem pensar, querem que os outros pensem por elas. É muito mais fácil pedir para o santo, é muito mais fácil achar que o sistema vai lhe salvar, que um político vai trazer bonança, pois, não vai. Acho que Kant tem razão quando escreveu que as pessoas gostam de ser “pequenas”, não porque são ignorantes, porque é mais cômodo ser assim. Não me admira que ainda tem gente a favor do regime militar, porque é mais cômodo assim, é mais cômodo achar que o “papai general” vai limpar a bagunça que nós mesmos fizemos. De quem é a culpa disso tudo? De quem é a culpa do descaso, do governo que votamos ou de nós que não cobramos dos governantes? Política não é chamar o outro de “coxinha” ou “mortadela”, política tem a ver do politikon que é o espirito cidadão de se preocupar com a sociedade que é a polis. Qual a diferença de um político se vestir de gari e outro se vestir de operário da Petrobrás? Nenhuma. Fazem isso porque nós, ainda, damos credito.

Os pastores ou outros sacerdotes, enganam porque sempre querem barganhar com o divino, sempre se quer alguma coisa material. Mas ninguém leu verdadeiramente o evangelho para ler as palavras de Jesus – que prefiro a imagem dele sorrindo e andando do que o crucificado – que dizia para entregar ao divino primeiro daí todas as coisas lhe serão dadas. Mas entregar-se ao divino não pode ser confundido com ir a essas igrejas, mas entregar-se verdadeiramente aquilo que é sagrado, porque hoje se tem a crença fast-food, ou seja, fico um tempo na igreja e está bom, meus pecados serão perdoados. Ainda, entramos em qualquer igreja por pura modinha, porque o outro foi, o outro sempre estará certo.


Termino com uma frase muito reflexiva de Sartre no qual, gosto bastante: “O importante não é aquilo que fazem de nós, mas o que nós mesmos fazemos do que os outros fizeram de nós” 






terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Campanha do Capacitismo 2016: por que ela acabou?












Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Outro dia estava lendo um texto de um colega – que aliás muito interessante – que falava que ele começou a pesquisar sobre o alcoolismo entre as pessoas com deficiência. O que ele encontro? Nada. Nenhum estudo sobre esse assunto em questão, porque não interessa ou porque estamos muito atrelados ainda em assunto de cunho linguístico. A mídia é um caso à parte nesta questão – porque tem ainda a ver com a nossa cultura que sempre procura o ruim, o péssimo, aquilo que é catastrófico para dizer que aquilo é verdade – porque se não for pessoas chorando (como se a deficiência fosse a morte), se não for deficiente no esporte (a sublimação da deficiência), ou se não for o Teleton (a mídia bajula na cara dura mesmo), não aparece e não tem jeito. A questão tem duas vertentes, uma é o capacitismo e a outra, o medicalismo.

A vertente capacitista nos diz que não somos capazes nem de ficar bêbados, porque quem cuida de nós (daí tem um elo muito forte com a medicalização) não deixa isso acontecer ou que somos infantilizados o bastante para sermos bêbados.  Na vertente medicalista, nós somos dependentes e a responsabilidade dos nossos atos é de inteira responsabilidade das pessoas que estão conosco, não moramos sozinho, não temos vontades, não temos atitudes, ou seja, somos estatuas. Mas que estatuas podem falar, podem sentir ou podem ter desejos inúmeros? Acho que essa ideia iluminista que a ciência iria resolver todos os problemas da humanidade, de uma forma bem crítica, nunca aconteceu e não irá acontecer pelo simples motivo de sempre acharmos que algo externo vai resolver nossos problemas. A medicalização nunca vai curar deficiência nenhuma, o que pode acontecer com o avanço tecnológico é amenizar a deficiência, que é algo muito diferente de curar. Por isso é errado dizer “portador de deficiência”, pois, aquele que porta deixa de portar.

Por isso eu acho que se deva aceitar seu estado, deva viver na melhor maneira possível as deficiências e parar em acreditar em curas milagrosas, mas acreditar numa adaptação adequada da cidade onde vive. Como disse o filosofo alemão Nietzsche: “torna-te quem tu és”, ou seja, se você é deficiente assume como deficiente, se você é diferente que a sociedade padronizou (como se fossemos objetos e não seres pensantes), seja aquilo que é e ponto. Também acho que devemos sim discuti, pois há no meio inclusivo que discussão é briga, por isso mesmo os grupos morrem, porque todo mundo fica com medinho de ir contra ou ofender. Discussão não é briga, discussão é um meio termo dialético de se entender a sua ou a ideia do outro, mais ou menos, a tese (a nossa ideia) e a antítese (a ideia do outro).

Se tenho uma ideia que existem deficientes dependentes químicos – perdi dois amigos assim – então eu tenho uma tese, resta perguntar: cadê a antítese que não existe deficientes dependentes químicos? Não existe antítese. Porque a antítese não pode ser provada e se não pode ser provada, não pode ser discutida e vai para “debaixo do tapete”. Não há discussão nenhuma, não há nenhum argumento a respeito e as universidades não tocam no assunto, simples assim. Universidades não pesquisam as deficiências num lado mais das humanas, porque não há um interesse desse tipo de coisa.

Eu acho que ainda existe médicos muito prisioneiros do senso comum, e o que é pior, as universidades não mudam isso, porque não é interessante. O mundo corporativo é um mundo cheio de interesses, interesses de industriais conservadores que querem essa “gente” longe de suas “imaculadas” empresas, interesses de entidades que se sustentam com a nossa deficiência. Por outro lado, os esquerdistas (os radicais da esquerda e não TODA a esquerda), colocam na cabeça de alguns, que não pensam por si só, que somos excluídos da sociedade e devemos ser incluídos. Ai sempre me pergunto: essa gente acha que nossas mães foram no meio do mato nos parir? Sim, porque um ser humano excluído é um ser humano fora da sociedade e não é isso que vejo, somos muito bem inseridos socialmente, mas o problema é outro. O problema é que as pessoas são levadas a realidades que costumam lhe ensinar dês da infância – que chamo de síndrome de Neo, onde se vive numa realidade virtual igual a Matrix – onde só existe festas, só existem praias, só existem perfumes e roupas limpinhas e gente bonita. A geração de mimados que não podem ser contrariados, não podem ver gente feia, não podem ver gente suja, não podem sentir fedor, não podem ser privados de nada. A mídia não mostra deficientes babando, deficientes que moram nas ruas, deficientes que moram na favela e são drogados ou bêbados.

Só resta perguntar antes de terminar meu texto: por que a campanha do capacitismo acabou? Por que somos tão covardes? 

O Livro O Caminho no Wattpad: (aqui)

O livro O Clube das Rodas de Aço (aqui)

O Livro O Caminho físico (aqui)

O Livro Liberdade e Deficiência (aqui)

Ebook do livro O Caminho (aqui)



segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Coordenador filosofo






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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Estou lendo a coleção “A História da Filosofia Ocidental” de Bertrand Russell que ganhei da minha noiva, que estou gostando muito (embora eu não concorde em algumas visões de Russell, pois, para ser filosofo devemos manter o equilíbrio). Mas acho que ele não entendeu Platão, porque quando se analise autores antigos, primeiro temos que os analisar de uma perspectiva da época; depois, temos que analisar como era o pensamento da época e Platão, não deve ser lido com a racionalidade que temos hoje. Tem que ir muito além daquilo que chamamos de meio racional, ou seja, nem muito na ciência e nem muito na religião. Não sou partidário que um filosofo deve saber tudo de ciência, deve saber o bastante ou aquilo que ele quer questionar.

Vamos ao filosofo Platão. Muita coisa eu não concordo com ele, como uma cidade ideal era aquela com escravos, eliminação dos imperfeitos – que claro – são reflexos de um pensamento que se tinha na época. Mas eu sou simpático a regra de se ter um governante filosofo (não essa baboseira de diploma, que as universidades não ensinam nada), que saberiam de tudo e punham a ética acima de qualquer coisa. Acho também, que a ideia de ter um governante filosofo, geraria um efeito de termos em outros setores coordenadores e gerentes filósofos que cuidariam da máquina administrativa sempre perguntando o “porquê” de se fazer assim, ou se fazer assado. Sempre achei, por exemplo, que um coordenador devesse ter conhecimentos que gerassem uma melhor administração do movimento no qual estão à frente. Sem ditadura, mas que sabia o que estavam fazendo. Como, por exemplo, um coordenador de um movimento que luta pelos direitos dos deficientes, não saber das leis que regem ao nosso favor? Como se pode ter um coordenador que não saiba das deficiências inúmeras, que não saiba das suas limitações até mesmo, corporais de cada indivíduo?

Na verdade, todo indivíduo que saiba lhe dar com as outras deficiências, começa a ter um pensamento mais humanista. Ser humanista, pelo menos para mim, não é só mudar a terminológica como “pessoa com deficiência”, “pessoa com cadeira”, “pessoa com qualquer coisa”, deve saber que dentro do seu movimento, existem pessoas que precisam muito mais de conselhos do que de terminologias. Daí entra a minha teoria platônica do “Coordenador Filosofo”, porque ele é o cara que vai ter coragem de questionar as leis e questionar até mesmo, algumas posturas de alguns centros de reabilitação. Quem não tem o conhecimento, não tem os argumentos necessários para fazer tal questionamento, não pode saber como aquelas pessoas devem dar ao paciente, a conduta ética de um médico. A questão é muito mais profunda e deve ser mais refletida.

Claro que muitas pessoas vão dizer: “Ah, Amauri! Mas isso é preconceito, pois todo mundo tem o direito de ser eleito democraticamente um coordenador”. Posso responde que sim, todo mundo tem o direito de ser coordenador, mas tem o dever de saber o que estar se coordenando para não prejudicar o trabalho. Não estamos lhe dando com animais, não estamos lhe dando com objetos, estamos lhe dando com seres humanos que merecem respeito. Não basta repetir o que as outras pessoas lhe falam – daí entra a parte que muitas vezes, o deficiente é bunda mole, porque se sente o “fodão” e na verdade, é um “zé ninguém” no movimento – tem que saber do que as pessoas estão te falando, pesquisar, estudar, praticar e saber que um dia, aquilo que você leu deve te ajudar dentro do movimento e a sua coordenação.

Mas, quando você olha e vê que o Museu da Inclusão não abrir de final de semana, quando você vê que as praias devem ser prioridade nas adaptações ao invés de escolas, você imagina o grau de conhecimento dos coordenadores de movimento. Quando centros de reabilitação não trata direito, quando você vê o gerente do transporte importante fazer o que quer, quando o conselho municipal encobre várias coisas, daí você vê que os coordenadores estão perdidos.  O que fazer? O que devemos fazer? Estudar e pesquisar.

Um exemplo muito conhecido que vou dar é o evento Teleton. Não basta olhar o evento na perspectiva emocional – é isso que a entidade em questão mais quer – mas olhar numa perspectiva racional também dentro das leis da comunidade que ele é feito. Vamos analisar. Primeiro, quem tem o conhecimento, pode questionar que a entidade é particular e não pode manipular nada público. Estamos numa res publica, ou seja, estamos regidos por uma “coisa pública” e tudo que está nesta é pública e não só e não pode ser usado apenas a instituições particulares. Um coordenador que tem o conhecimento pode perguntar: por que neste dia o transporte de vans adaptadas municipais, não funcionam? Pois a lei de transporte está bem clara que o transporte é para todos, mas a entidade alega que se o transporte é para todos, então, ela fazendo parte da sociedade tem o direito de ter esse tipo de transporte para o evento. Ora, daí temos dois problemas, o primeiro é que realmente eles não estão errados o quanto isso, segundo é que como temos um número reduzido de vans o problema se agrava cada dia mais. Outra questão é a propaganda infantil. Ora, dependendo da quantia doada, você ganha uma boneca ou um boneco, então, você “apela” para as crianças que não tem discernimento. O coordenador que tem o conhecimento, sabe muito bem, que propagandas que apelam para as crianças são ilegais. Claro que você pode dizer: “mas é uma causa nobre que ajuda as pessoas com deficiência”, posso responder, quer não, não tem nada de nobre e não tem nada de ajudar as pessoas com deficiência.

O coordenador que tem o conhecimento tem a certeza que existem leis que asseguram que crianças deficientes não podem ser expostas e ainda mais, quando estas crianças não podem responder por elas. Exposição de incapaz também é crime, dizer ao contrário é má-fé, mesmo com o responsável assinando um papel. Qual circunstancias esses responsáveis assinaram esses papeis? O que disseram a esses responsáveis para assinar esses papeis? Quem tem o conhecimento sabe que há coerções, que há descaso da entidade, que há desprezo diante das leis que asseguram isso tudo. Mas qual coordenador de movimento – ONG é outra história – que indaga tudo isso com embasamento e sabedoria? Quem tem coragem de indaga com força essas imoralidades? Fora que eles não tiram “chapa”, não fazem tratamento completo, não tratam os pacientes menos com poder aquisitivo com educação e respeito, não entrega os aparelhos no prazo certo e quando entrega, entrega errado. Fora que o SUS sustenta essa entidade com milhões e quando suspende, porque eles não honram com a parte do acordo, a imprensa começa a dizer que o SUS está errado. Mas qual coordenador tem a coragem de indagar isso?

Outra pergunta que um coordenador filosofo (aquele que é amigo da sabedoria), poderia perguntar o “porquê” das secretarias que dizem, nunca vi isso, defender nossos direitos. Por que tem esse tipo de secretaria sem poder nenhum? Por que eu tenho que delegar representantes dentro de um conselho que não tem iniciativa nenhuma? Daqui uns 500 anos, vão ter estudos sérios, com toda certeza, para estudar esse amor que temos pela democracia. Não resta dúvida que é o melhor regime que temos no momento, mas se fomos ir na lógica sem esse amor parcial, é um regime meio desigual e injusto. Porque você acaba delegando pessoas para gerir um conselho, que na maioria dos casos, nem sabem porque estão lá e o que é pior, ainda é iludido ideologicamente. E não estou dizendo só o conselho municipal daqui de São Paulo, estou dizendo o CONADE, estou dizendo outras alas que deveriam realmente, ao invés de inventar refúgio linguístico para nomenclaturas, deveriam assegurar que as leis sejam cumpridas a risca. Um coordenador filosofo sabe isso, mas aqueles que não sabem, não tem armas para indagar nada e nem ninguém.



Mas como podemos ter esse conhecimento? Lendo. Quem não gosta de ler e não gosta de pesquisar, não pode administrar nada, pois, administrar é assegurar o caminho certo para o trabalho ter mais êxito. Todos podem ser eleitos, mas poucos podem manter a dignidade de serem curiosos e saberem que para ser um humano, tem que ser um pesquisador e sempre evoluir. 




Confiram o livro Clube das Rodas de Aço: Tratado sobre o Capacitismo lá no Clube de Autores (aqui