quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Inclusão: só nos restou o BBB17

     

Resultado de imagem para cadeira de rodas


Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Aprendi dentro da internet que quando somos criticados estamos num caminho certo, eu como filosofo, não faço media com ninguém. Não vejo que as mídias vão nos dar vez e voz algum dia, pelo menos, enquanto estiverem na “lama” de um conservadorismo medieval olaviano que nada livrara o Brasil de um inimigo muito maior do que o inimigo imaginário comunista. As mídias são ainda comandadas por famílias que pensam ainda tradicionalmente, não pensam fora da caixinha, não ousam fazer algo inovador e sempre ficam fazendo programas chatos que não me cativam. Eu não sei ver gente que adora um barraco, gente que fica na “putaria”, gente que não tem nada de inteligente a dizer do que essa coisa chata de “coxinha” e “mortadela” que pensam ser uma visão política. Isso é coisa de Master Chef, isso sim.

Quando falamos de pessoas com deficiência o caso me parece muito mais grave, porque para nós entrarmos na mídia, devemos ou fazer um draminha básico, ou sermos filho de político desaparecido na ditadura. Aliás, ser filho de político que desapareceu na ditadura, lhe dará um status quo tão grande dentro da mídia que esquecem da cadeira de rodas do sujeito e os seus livros bombam e até viram filme. Me parece que o papel da mídia seria o mesmo papel que tiveram os grandes sofistas nas Àgoras gregas na antiguidade, sofismam aquilo que não são, não seguem à risca e só ficam no discurso vazio. O problema vai muito mais fundo que jamais foi, as mídias, assim como as empresas, não querem colocar em suas pautas as pessoas com deficiência e ponto, se colocam, é de uma maneira bastante genérica. Denúncias são feitas todos os dias, casos de preconceito (capacitismo) são mostrados todos os dias nas redes sociais, mas o que bombam na mídia é videozinho político, videozinho de fotos vazadas de atores globais (que sabemos ser de propósito) e não denúncias de verdade. E as denúncias do transporte que não funciona? Das filas intermináveis dentro do SUS para consegui cadeiras de rodas ou aparelhos outros? Se no Sudeste (onde moro), as coisas são assim, imagine nas regiões mais pobres do Brasil.

Em matéria de saúde não temos um centro de reabilitação de verdade que tenham capacidade de cumprir aquilo que foram designados, também, cumprir a legislação brasileira em ter lugar de embarque e desembarque, ter médicos educados e que falem com as pessoas com deficiência. O tratamento do SUS ainda é precário não só para consegui aparelhos, mas para consegui fisioterapias, operações, tratamentos clínicos e entre outros. Existem até, centro de reabilitação que ainda, em pleno século XXI, acham que ginecologista não faz parte da reabilitação da mulher com deficiência. Além de achar que só as pessoas com deficiência famosas merecem respeito, pois, pessoas muito pobres são maltratadas e até humilhadas dentro da instituição. Como podemos achar que há inclusão se nem as instituições que deveriam zelar pelo simples cumprimento de vagas de estacionamento, não estão nem aí com as pessoas com deficiência como deveriam estar? A mídia é só um reflexo dentro daquilo que a cultura se construiu ao longo do processo político que o nosso país passou, a sociedade ficou um pouco mais chata, um pouco mais exigente daquilo que não deveria e não é prioridade por agora.

Aí chegamos ao ponto que eu queria e precisava chegar, a mídia só lembra das nossas cadeirinhas, nossas muletinhas, nossos aparelhos diversos, quando acontece as Paralimpíadas.  Mas também não mostra na integra e nem tem uma cobertura como tem as Olimpíadas, que ao meu ver, como a Copa, perdeu seu encanto quando começaram a aparecer não jogadores, mas artistas que são famosos e nada são além disso. Ou, ridiculamente, atletas que desobedeceram uma proibição, sofreram um acidente e agora recebem o teto da aposentadoria, quando outros deficientes, tem que viver de um salário mínimo. Mas, como aconteceu com o filho do político desaparecida na ditadura, a atleta tem destaque dentro da mídia como se fosse muito importante o que dizem, a mim não comovem. Isso mesmo, a mídia mostra eles porque comovem, porque são famosos, porque são mostrados como “exemplo de superação” que não podem ser criticados e nem atacados. Afinal, coitados deles que não podem andar, não? Esse “coitado” que leva ao Brasil não só a ser um país que tem índices muito auto de criminalidade, mas também, fomenta o preconceito geral. Eu acho que essa discussão capacitista, está muito pobre e muito fraca de argumentos de verdade, ninguém mais aguenta essa coisa de sempre a mesma ladainha, sempre a mesma história e só isentam, o que vai interessar para alguns: como carros, carros e carros. E as cadeiras de rodas e outros aparelhos, não pagam impostos? Parece que as pessoas acham que não, mas pagam impostos sim.

Aqui quem tem personalidade é tido como chato, críticas não devem ser feitas se você quer vender alguma coisa, você tem que ser o legal. Como ser legal? Ser legal – que alguns chamam de ser positivo e que é uma variante da visão rousseauniana – é tipo, critica algumas posições governamentais, mas nunca cometer o “pecado” de criticar posições sociais, porque a sociedade é vítima de posições ideológicas e não o contrário. Muito porem, eu acho que o governo e o capitalismo – o socialismo também, mas de modo bastante diferente – ensina que fumar é elegante, ensina que você ser o máximo é se encher de cerveja e encher o carro de mulher (além de tudo, incentiva o machismo), depois fica criando lei de combate a tais práticas, porque isso dá prejuízo onde nem mesmo funciona, o SUS. Aonde quero chegar? Bom, tenho um livro sobre tudo isso, mas como sou uma pessoa crítica, as pessoas não gostam de ler porque não é uma visão positiva das questões. Mas, quero destacar duas opiniões que a mídias destacaram.

Primeiro: eu não acho que esse cadastro nacional de pessoas com deficiência tenha êxito em ajudar, porque mesmo que não precisamos de cadastrar várias coisas ao mesmo tempo, ainda sim, vamos ter que fazer exames. O que adiantara não cadastrarmos se o ruim da questão é fazer o tal exame médico? Claro, que o “inteligentinho” com deficiência vai dizer que esse exame e para barrar possíveis fraudes, mas que sabemos, não adianta nada. Sabemos que laudos médicos são fraudados, sabemos que exames médicos fazem ou sermos barrados ou diminuídos para não usarmos tais serviços, sabemos que isso vai virar desculpa para as empresas não contratarem e tudo ficou na mesma. Viu o que é analisar um fato?

Segundo, só nos restou o BBB17 para consolar ou para afundarmos de vez na lama do capacitismo. Veja bem aonde chegamos: uma amputada, modelo famosa que não tem uma perna, empresaria, rica, participar de um reality show vai trazer alguma discussão da inclusão? Ser positivo é uma coisa, ser iludido numa ideia “cor-de-rosa” é bem diferente, pois, não vejo com bons olhos essa participação como não vi com bons olhos, as novelas que foram patéticas. Porque, ao mesmo tempo que pode sim gerar uma outra visão da deficiência, por outro lado, também pode gerar uma visão muito maior do “exemplo de superação” que nada mais é, do que o “coitadinho” que superou aquilo que machuca ele. Nada mais e nada menos. Como mesmo sabemos, tudo isso é para dar audiência, mas sinceramente, não vejo o porquê assistir um programa desse deplorável, um programa mentiroso, um programa que mostra o que há de pior no ser humano.


Vamos ter uma inclusão de verdade assim? 



Nenhum comentário:

Postar um comentário