terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

O Psicologismo ghiraldelliano




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Quando comecei a ler filosofia, sempre achei que a filosofia dava ao ser humano uma imensa vontade de pensar, questionar e até discuti de forma que possamos achar um caminho comum. Reles engano. O mundo filosófico brasileiro é um amontoado de senso comum, cheio de sentimentalismo, cheio de achar que só porque um deu certo, todos têm que dar certo. Muitas vezes, ou quase sempre, isso não é verdade. Seja no mundo literário ou seja num mundo filosófico, quem não se adapta seus escritos dentro do senso comum, não vende e não adianta se espernear. Seja em qualquer área, se você não bajula a grande elite econômica e intelectual, você não vende livros, você não faz palestras, você não tem nem visualização nos vídeos do You Tube e não adianta se espernear. Só ler Sigmun Baumam ou Umberto Eco, com sua frase lapidar que a internet deu voz aos idiotas, para entender o que estou falando. Na verdade, o Brasil como nação, nunca teve um plano de modernização de verdade, fizeram alguma coisa só para atrair investimento (que muitas vezes, foi parar no bolso de algum político), mas para melhorar o bem-estar humano, não teve.

Nesse contexto de modernização ou não, temos a concepção católica que o dinheiro e o sucesso é errado porque é pecado (como cultura está muito arreigada como status quo, como metido e etc), está que devemos respeitar o ESTADO, porque temos um contrato com o mesmo. Só que nem sempre somos éticos de obedecer algumas leis por beneficiar algumas atitudes, nem sempre somos morais o bastante de seguir as crenças que acreditamos, porque a nossa cultura sempre foi a cultura no “jeitinho” e na filosofia e na academia, não é diferente. Daí vimos filósofos acharem ser detectores da verdade, mas dês do início, a filosofia buscou aquilo que ela sempre teve amor, a sabedoria. A verdade não se encontra em logísticas, não se encontra em estatísticas, não se encontra em números que só fazem mostrar que somos coisificados pelo sistema. Se alguns filósofos são mediáticos (que estão sempre na mídia), devemos dar graças a Deus (num modo de linguagem antes que ateus venham encher o saco) que alguma filosofia entra dentro da mídia e devemos melhorar ainda mais o debate filosófico dentro do Brasil. Como há críticas também no campo cientifico com os divulgadores científicos lá fora, como também lá fora há divulgadores da filosofia, ter uma linguagem acessível, não quer dizer que não seja nem ciência e nem filosofia. Daí entra a minha crítica da crítica do professor Paulo Ghiraldelli Jr.

No texto dele: “Novamente o psicologismo – um cocô perigoso! ”, o professor Ghiraldelli, faz duras críticas aos filósofos midiáticos. Primeiro, o professor Ghiraldelli, se diz um filósofo pragmático da escola de Rorty, que foi seu amigo. A escola do pragmatismo foi iniciada por filósofos norte-americanos que concordam com o filósofo Immanuel Kant (1724-1804), que todo conceito tem que ter uma experiência. Então, para o modo de ver do Ghiraldelli, todo pensamento tem que tem uma experiência concreta como uma experiência pratica daquilo que se pensa; ou seja, se um Pondé não fazer o que ele fala, para o pragmatismo, não é coerente. Num modo muito simples para todos entenderem, um filósofo pragmatista, acredita que não há verdades e nem ideias absolutas (Nietzsche tinha um pouco de pragmatismo) e que toda ideia ou verdade, pode mudar a partir de uma ação no qual tenha coerência dentro daquilo que eles chamam real. A realidade são ideias que se transformam em ação e essa ação é uma verdade, é a sua verdade. Então, para o pragmatista, no caso o professor Ghiraldelli, um filósofo midiático dizer que o indivíduo não respeita o outro, é uma visão dele e não a verdade como realidade, porque é uma visão sociocultural do próprio filósofo midiático. Daí entra o psicologismo que tanto o professor Ghiraldelli insiste em colocar no discurso dos filósofos midiático.

O psicologismo é pura e simples, fazer com que a realidade e os fatos que acontece nessa realidade, terem uma explicação simples. Se um caminhão fechou meu carro, eu ponho a culpa no motorista do caminhão e acho que estou certo, assim, eu xingo o motorista. Na filosofia lógica - principalmente, a Fenomenologia de Husserl – vai dizer que há várias razões para acontecer a fechada, como eu ter cortado o caminhão pela direita, o caminhão não viu meu carro, o motorista do caminhão xingou primeiro e infinitas variáveis possíveis. Não quer dizer que eu xingar o motorista do caminhão faça todo povo brasileiro ser mal-educado o bastante para isso, mas pode ser que isso possa ser uma variável entre muitas variáveis, e não, uma constante. Isso eu concordo com o professor Ghiraldelli, pois, generalizar um povo inteiro por causa de um ato de alguns, não fazem todos serem assim. Mas, no mesmo modo que as vezes, o professor Karnal generaliza, o professor Ghiraldelli também generaliza que tudo que os filósofos mediáticos dizem é psicologismo. Vamos analisar algumas partes do texto do professor Ghiraldelli.

Assim o professor Ghiraldelli escreve:

“Um rapaz faz uma chacina em Campinas, no ano novo, e o palestrante sabichão resolve tudo dizendo que era um “infeliz no amor” e “recalcado” etc.”

O professor Ghiraldelli não disse aonde e nem o porquê o filósofo mediático disse isso, fica difícil saber o contexto, que dentro da filosofia é muito importante. Se for no Jornal da Cultura, foi uma opinião dele e não uma análise filosófica, mesmo o porquê, analises filosóficas não fazem a menor diferença nesse caso. Por que? Tinha que ser umas duas horas de programa só para analisar o contexto ético, histórico familiar, estatística da proporção de fazer isso e etc. O professor Ghiraldelli sabe, porque viveu e conheceu Paulo Freire, que a escola no Brasil e um empreendimento fracassado por políticos sem ética, então, não dá para filosofar em um Jornal Da Cultura.

 “De onde veio o psicologismo? Claro, veio da entrada do “eu” no mundo moderno, o crescente individualismo liberal, e as aventuras da “subjetivação do mundo”.”

De onde o caro professor tirou isso? O “eu” como indivíduo autônomo começa na Grécia Clássica, lá com Sócrates na enigmática frase: “Conheça-te a ti mesmo”, pois, o homem é um ser único e subjetivo. Ele sente o que ele aprende como ser absoluto, enquanto conhecer a si mesmo, assim, de Platão a Descartes, o homem é um ser autônomo em atos. Se eu quero beijar a minha noiva, eu tenho o sentimento, tenho à vontade, tenho o ato e tenho a única coisa que fara acontecer, o amor e consentimento dela. Ou seja, é uma escolha dos dois, mas cada um enxerga num modo único. O que os liberais fizeram (principalmente, Mill), foi pegar essa subjetivação para melhor analisar a mão de obra trabalhadora, que posteriormente, se torna a maior arma para a alienação de uma liberdade ilusória.

“Vou dar um exemplo simples, envolvendo séculos, a respeito do psicologismo. Vejamos os deuses gregos. Todos eles eram objetivos. Expunham-se como entes, desenvolvendo paixões, habilidades, idiossincrasias. Com a entrada do homem como sendo o centro do universo, todos os deuses desapareceram em função do Deus único, mas de um modo especial. Este, então, tornou-se objetivo na medida que subjetivo, encontrável dentro do homem, como disse Agostinho. Mas encontrável como uma única força. Os outros deuses também se internalizaram, mas assim ser fizeram deixando de serem deuses e se tornando sentimentos, estados da alma e, depois, estados mentais. Quando a grande mídia entrou na jogada, pegou esse mundo já andando, mas logo viu que as melhores colunas dos jornais, as mais lidas, eram dos escritores que falavam sobre sentimentos, na banalização deles. O romantismo banalizado virou rei.”

Os sentimentos não foram criados assim, os sentimentos já existiam e os deuses já eram explicações desses sentimentos. O Deus judaico-cristão – precisaria de um texto só explicando isso – foi trazido pelos cristãos e oficializado por Constantino I. O pragmatismo, no qual o professor faz parte, vai dizer que as verdades mudam e se acreditamos – nós como ocidentais greco-romanos – em deuses um dia, mudamos de ideia quando a cultura ocidental mudou de desses para um Deus. Deus como um ser supremo que reina no universo, superou a ideia dos deuses por ser mais consistente, muito mais distante e muito mais amedrontador. Nisso eu concordo, mas a mídia não romantizou nada disso, ela desromantizou tudo em nome do mercado, não em nome de uma banalização da cultura. Ou seja, é muito mais uma coisificação do ser humano do que, uma romanização barata, porque promove uma verdade entre o amor e o sexo que não é verdade. Trocando em termos melhores, ela propaga a promiscuidade por causa de duas coisas: por causa da massa que precisa de prazer para trabalhar 
melhor e para alienar o ser humano que não há remédio mais eficaz para a satisfação, do que o prazer.
 
“Foi fácil trazer isso para a TV e, agora, para a mídia produzida por todos nós. Dos programas das manhãs e tardes até o BBB, passando às vezes até pelo jornalismo político, tudo é um festival de amorzinho, odiozinho, raivinha, frutrastaçãozinha, ressentimentozinho, invejinha e coisas do tipo.”

Em partes eu concordo com o professor Ghiraldelli, quando ele diz que tudo foi reduzido ao sentimentalismo. Você dizer que alguém sente ódio porque “tem inveja” do outro, não é uma explicação tão razoável como possa parecer. Mas o professor Ghiraldelli esqueceu de mencionar os “burros” e “você não sabe ler” nessa sua explanação daquilo que ele chama de psicologismo. A questão é: devemos mesmo reduzir uma atitude humana em um sentimento? Às vezes, não vejo como uma pessoa ter ódio da outra por inveja, ou não vejo que uma pessoa possa amar a outra por causa da beleza, porque cada pessoa é uma pessoa, cada um tem seus valores e sua cultura. Os ressentidos – no mesmo viés de Nietzsche – são aqueles que não conseguem ver a si mesmo o mesmo potencial que o outro teve para se erguer, por isso, quando você olha para o abismo, o abismo olha para você. O limite da sua própria dor é o limiar da sua ascensão (poxa, essa foi maravilhosa, heim?). Quando enxergamos isso, enxergamos que o outro sente ódio porque não gosta de tal indivíduo, ou o indivíduo fez algo para ele, tem um histórico bem grande. Daí o professor Ghiraldelli continua:

O infeliz que ver o outro infeliz – eis a regra de ouro vomitada pelos palestrantes e midiagogos. Ela é a chave para explicarmos tudo. Vendo isso, a população de pouca escola diz: nossa, eu disse que era isso, que era inveja, e ele, meu mestre, também disse! A inveja explica tudo! Se você se sai mal num feito, foi inveja do outro. Se você critica alguém, você é o invejoso. Nada mais existe senão estados mentais banalizados. Procurando “ibope”, a mídia acabou virando seu espelho.

Daí começa algumas diferenças de visão entre eu e o professor Ghiraldelli, porque ninguém diz que o fracasso dele é por causa da inveja do outro, quem diz isso é o petismo tradicional. O que se diz que o outro alcançou certo status, não pelo seu mérito, mas dentro da minha limitada visão (dentro de um senso comum) do mundo, que ele fez alguma coisa para alcançar esse mérito. Mas há dentro da mídia isso por causa da nossa cultura, sempre ficamos à mercê desse pensamento reducionista que ao invés de procurar uma causa maior, se coloca causas menores para apaziguar a massa. No mesmo modo a educação escolar fez isso também como forma de aprendizado – que foi introduzido por Marx quando para explicar a pobreza, ao invés de explicar o problema histórico dês da pré-história, ele colocou tudo de um modo de dialética materialista e ainda, colocou toda a culpa do capitalismo e não viu que o capitalismo só herdou problemas muito mais antigos – quando ensina o aluno matérias que nada vão agregar a vida dele, uma sociologia e filosofia fraca, uma matemática chata e pobre. Aliás, a academia começa com isso tudo.

Estamos na fase aguda de acusação mútua dizendo que o outro cultiva “o ódio social”, “ressentimento” e coisa do tipo. Não à toa, esses os midiáticos adoram ampliar o problema do bullying!”

Quando o professor Ghiraldelli disse: “Estamos na fase aguda de acusação mútua”, isso é verdade e é uma evidencia muito mais perigosa, disso estourar em uma guerra civil. Claro, que pode ser que não estoure, mas na maioria das vezes, sim, são acusações. Dentro da filosofia e dentro da psicanalise, isso se chama espelhamento daquilo que eu vejo no outro, o que eu vejo em mim mesmo. O ódio pelo outro é o outro ter o que me falta, assim, o apego ao outro é aquilo que me falta enquanto ser que deseja. Se me apego aos animais, é porque algum ser humano me fez mal e eu “deletei” o ser humano das minhas afetividades. Me faltou afetividade do outro ser humano para mim me assemelhar e me importar ao ser humano, assim como, em outros casos.

O “bullyng” sabemos que é a coisificação do ser humano em forma de educação. Se a criança fica o dia inteiro na TV, o dia inteiro nas redes sociais, o dia inteiro com os mesmos amigos, com os mesmos livros e não tem uma inteiração com o mundo como ele é, como a criança vai se colocar no lugar do outro? Aí do “bullyng” sai queimando índio, sai quebrando tudo, sai jogando ovo nos outros no ponto de ônibus, atropelando as pessoas e o pai livrando a cara. Para ele, não é um ser humano, é uma coisa. Então, o problema do “bullyng” é um problema tão complexo, que precisaríamos esclarecer em um livro inteiro.

O professor Ghiraldelli termina o texto assim:

Dona Marisa teve AVC por conta de ódio dos críticos do PT. Moro funciona por causa de ódio contra o santo Lula. Papai Noel não vem entregar brinquedo para pobre por causa de ódio? É isso? Dória pinta muro por causa de ódio contra artistas e ao mesmo tempo a reação de crítica a Dória é “ódio das esquerdas” etc. Feliz éramos nós, daquela época quando o único sentimentalismo barato era o que e causava o crime passional. Agora, o psicologismo banalizou tudo. Nos perdemos no sentimentalismo barato. Todos ficamos BBBzados, ou seja, queremos que o mundo funcione segundo explosões de sentimentos banalizados no banheiro da “casa mais espiada do Brasil”. Isso é o psicologismo. É disso que os professores palestrantes se alimentam e alimentam suas plateias. É torcer para não conseguirem sujar todo o ambiente acadêmico também com esse cocô. ”


Infelizmente, a academia já está com essas fezes a muito tempo, só ficar vendo que palestras da professora Marilena Chauí passaram dos limites, só ficar vendo a professora Márcia Tiburi chamar todos de fascistas porque não concordam com sua visão. Só ficar vendo os vídeos de todos esses professores – seja da direita ou da esquerda – acharem um jeito de explicar seus desafetos com explicações simplistas. E lógico, só ler um texto desse. 



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