sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Paradoxo da Ética


Resultado de imagem para exemplo de imperativo categórico


Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Quando dissermos que há um paradoxo – que vem do grego parádoxon, ou seja, pará (oposto) com doxa (ideia) – queremos dizer que há ali um “contrario as ideias” ou “contrario as expectativas” que aquilo seja verdade. Já ética, vem do grego ethos que quer dizer “caráter”, “costume” ou “modo de ser”, na verdade, o “costume” ou “modo de ser” já está incluído no caráter e nele vamos nos focar nesse texto. Por que? Se há um contrário a uma ideia, presumimos, que aquela ideia não é tão valida e até podemos perguntar. Há realmente no Brasil um caráter tão solido que você precisa seguir o outro até no roubo? Um chimpanzé talvez, um orangotango (muito próximo do homem) talvez, mas o ser humano poderá escolher o caminho que deverá seguir suas próprias vontades. Uma vontade é um desejo aquilo que se quer, se queremos um copo de refrigerante é a consciência da existência do refrigerante e há um desejo de se tomar um refrigerante, é gostoso. Mas quando estamos com sede tomamos água, pois, o organismo está pedindo sais minerais que há na água. Então, o refrigerante é um desejo, água é uma necessidade. Um arroz com feijão é uma necessidade que alimenta, um lanche do MacDonald é um desejo que só é gostoso. Mas por que preferirmos o lanche ou o refrigerante? Porque imitamos o outro, obedecemos uma imagem que o lanche ou o refrigerante, porque nos iludimos que ali era uma necessidade.

Essa necessidade é a natureza em nós pedindo aquilo que nos é importante, o desejo é o fenômeno que nossa consciência produz (mente=objeto), que vai querer aquele objeto enquanto algo gostoso, algo que vai ter gosto e o gosto é artificial. Mas podemos ter desejos? O poder ter desejo é poder sentir um certo prazer naquilo, mas quando você não sente mais prazer naquilo, perde toda e qualquer graça e não fica mais gostoso. Nisso eu concordo com Epicuro, pois, quando há um certo exagero e esse exagero, vira sofrimento. Se você beber demais vai virar cirrose, se comer muito churrasco vira problemas no coração e se você ficar muito ocioso, isso vai acarretar vários problemas. Também tem um outro lado de uma moeda, quando você enche um carro com aquilo que não é seu, o que você sente? Prazer ou sofrimento? Bom, quando nós pesquisamos a origem da palavra sofrimento, nós chegamos a raiz da palavra paciente e patologia e por sua vez, a palavra paixão. Dês da Grécia antiga, a paixão (pathos), era algo que fazia o ser humano sofrer e assim, todo exagero que poderíamos fazer era um pathos para os filósofos. Se você olha uma tevê que não é sua, que você pegou em uma loja porque você viu todo mundo pegando e achou que poderia pegar também, você sentira prazer ou sofrimento imaginando o desespero do lojista que trabalhou para montar aquela loja? Podemos melhorar o exemplo: e se você olhar a cerveja que você está tomando que você pegou de um acidente na estrada onde o motorista estava esmagado entre as ferragens e só se preocupou em pegar um engradado? Claro, que a ética tem fatores subjetivos, valores que são ensinados dês da infância e esses valores variam muito. Porém, temos a livre escolha de seguir ou não, esses valores.

Daí temos um paradoxo da ética, porque presumimos que a ética é um nível de caráter medido com a capacidade de socialização do ser humano. Se ele pega um engradado de cerveja de um caminhão e o motorista está todo machucado poderíamos achar isso ético? Acontece que quando coisificamos o ser humano perdemos a capacidade de enxergar um indivíduo que está sofrendo, porque perdemos a capacidade de nos colocar no lugar dele. Se eu tivesse no lugar do motorista, eu gostaria que o outro chamasse o Resgate. Se eu tivesse no lugar do lojista, eu gostaria que alguém me defendesse e por aí vai. A ética é a capacidade de sentir no outro o que você pode sentir também, porque o termo grego ethos tem a ver com caráter e caráter é tudo aquilo que nós somos. Nada, absolutamente nada, justifica um roubo, pois, um roubo é aquilo que você pega sem o outro permitir. Daí temos várias conotações sobre propriedade, mas a propriedade na nossa sociedade é importante, queiram ou não, você pegar algo ainda caracteriza um roubo. Quer mais antiético do que um estupro? Uma agressão a mulher por negar uma propriedade dela, seu próprio corpo, seu bem único natural. Não interessa que roupa ela esteja. Não interessa onde ela esteja e com quem esteja, sempre um estupro é um roubo a dignidade da mulher como ser humano. O paradoxo nesta questão, passa a uma conotação de contra ideia (antítese), passa a uma ideia contraria a aquilo que não deveria ser. O estuprador, como todo maníaco (psicótico), é na verdade um egoísta em potencial por achar que o prazer é só dele, o outro é mero objeto para se chegar ao seu prazer. Um roubo não é muito diferente, um roubo característica pegar aquilo que não é teu e aquilo que não é teu só vai dar prazer a você. O maníaco olha aquele que mata como um objeto a se chegar aquilo que ele quer, aquilo que ele pensa esconder, aquilo que ele não quer que descubram.

Com a ética (caráter) assim, a nossa sociedade passa por um momento de crise profunda e toda crise, provem uma mudança. As mudanças fazem com que as pessoas saem da sua zona de conforto, saindo dessa zona de conforto, elas não sabem o que fazer. Perdem coisas para saírem dessa liberdade, a coisificação humana passa a ser uma capacidade de ver milhões de androides, milhões de seres que estão só atrapalhando de eu ser feliz. No mesmo caso da anarquia que eu escrevi no outro texto, as pessoas confundem isso como hedonismo, mas o hedonista não é isso. A ideia do hedonismo do grego clássico não é a mesma ideia que temos hoje, porque o prazer do grego clássico era um prazer não só físico, mas também afetivo de um toque diferente. Você tomar um vinho, você sentia prazer por gostar verdadeiramente do vinho na essência do gostar e não na ideia (como imagem) do gostar. As relações homossexuais não tinham penetração, o prazer estava no toque, na sutileza de um sorriso. Então, quando falamos em hedonismo, temos que tomar cuidado de chamar o sujeito em “viciado em prazer”, pois, mesmo o porquê, viciados em prazer são muito mais doentes (pathos), do que hedonistas.

Pessoas assim são produto de uma cultura que ensina que um cara que não pega aquilo, é um trouxa, porque acha que deve levar vantagem em tudo. Ensina que a mulher sorriu e o homem tem que dar em cima (mesmo casado), ensina que a mulher não quer ele tem o direito de estupra-la. Ensina que as pessoas não prestam, mas aprontou a vida inteira para achar que os outros não prestam. Ensina que devemos sempre querer que os políticos sejam éticos, mas quando se tira a polícia, vai lá e rouba a loja. Sempre lembrando, que ética é caráter e caráter é tudo aquilo que somos, pois, se somos aquilo que sempre lutamos para mudar, será que terá essa mudança? Claro que não. As mudanças só acontecem quando somos aquilo que queremos que mude, o que Kant disse em seu Imperativo Categórico (como um bom protestante, pegou do ensinamento do mestre Jesus), faça com que tudo que faça seja uma lei universal. Mas, se um simples retorno proibido, por exemplo, o cara retorno porque o outro está fazendo, será que ele não vai roubar porque o outro está roubando? Ou não vai estuprar porque os outros estão estuprando? Ou não vai beber cerveja, ir na balada, ir comer, só porque o outro faz? O mais triste é que as igrejas crescem não porque a fé aumentou, mas só porque o outro vai e prometem só ganhos materiais. Você vai ganhar um emprego. Você vai ganhar um carro. Você sempre ganhara uma coisa. E assim, vocês acham que ele não vai fazer o mesmo que muitos políticos fizeram se até barganhar com Deus, tentam fazer?


Se o divino é usado, se a pobreza é usada, se até a cor e a condição física é usada, o que dirá usar o próprio caráter para tirar algumas coisas disso. Muito triste a Era do Paradoxo da Ética. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário