Por Amauri Nolasco Sanches
Junior
Não sei se é influência do filósofo Luiz Felipe Pondé, mas
me tornei um cara que gosto de coisas fisiológicas. Não gosto de ver ideias,
somente, mas ideias que fazem parte do meio onde vivemos e as ideias de onde
vivemos não podem estar dentro de uma filosofia idealista. Eu não consigo mais
ficar lendo revistas de inclusão, pelo simples fato, que as revistas de inclusão
de pessoas com deficiência, falam de um mundo que não é o nosso. Explico. Lendo
o Anuário da Revista Reação – que é uma das melhores que existem – eu vi que não
existem discussões de âmbito mais práticos e pouco retorico, vi também, que as discussões
giram em torno de um mercado que muitas vezes, está fora de um âmbito mais
popular. É popular uma cadeira de R$ 28.000,00? Tem outra coisa, vamos ser
realistas, existem matérias irrelevantes dentro da área que não tem que
existir, como se fosse mais importante comprar um carro do que comprar uma
cadeira de rodas. Se é, por que o barateamento do carro e não da cadeira de
rodas? Vejam bem, é só ter um pouco de cérebro para saber, que você não entra
dentro de casa com o carro.
A grosso modo, as coisas vão ficando bastante claras quando você
faz essas indagações e essas indagações são importantes. Por que? Começo a
achar que essas revistas foram criadas como mídia especializada para nos
alienar, porque todo o mundo que ela mostra não é o mundo no qual eu vivo, não é
a linguagem que eu necessito e abre ainda, porteiras bem grandes para a exclusão.
Por exemplo, numa das reportagens da revista, mostrava uma escola de teatro que
só era de pessoas com deficiência e não abria para outras pessoas. Isso é segregação
como acontece com os Menestréis Cadeirantes, como acontece com milhares de instituições
que estão cheias essas revistas e estou cheio de papinho furado que o problema
da Lei de Cotas é a qualificação. O problema da Lei de Cotas é a multa, é muito
mais barato você pagar uma multa do que acessibilizar uma empresa e isso é uma
verdade, pois, além dos direitos trabalhistas que temos (e ainda bem que
temos), o cara tem que gastar para acessibilizar sua empresa dentro da ABNT. Aliás,
vendo as adaptações dentro do serviço ATENDE e dentro do transporte público e
banheiros dentro de estabelecimentos, não sei se a ABNT tem alguma autoridade
sobre o assunto. Mas voltando a Lei de Cotas, além da multa ser barata, ainda existem
outras falhas que não são mostradas.
As outras falhas é o básico da lei, o que seria a deficiência.
O ex-presidente Lula que não tem um dedo por ter perdido num torno, entraria
como um deficiente e poderia concorrer com um cadeirante. Mas vamos pensar bem
fisiologicamente (num modo bem concreto), sem sermos demagogos, um deficiente
que manca numa perna ou não tem um braço, tem muito mais chances de trabalhar
em uma empresa do que um cadeirante e isso é fato. Há um certo preconceito, mas
há muito mais chance de isso acontecer. Quando esse tipo de pessoa com deficiência,
entra numa lei como essa, eu sempre imagino que quem fez essa lei não sabia nem
o que estava fazendo e isso é bem claro. Fora que existe outros fatores que
impedem outras deficiências serem contratadas, como os deficientes mentais (que
com um trabalho bem feito, pode ser sim um bom profissional), como os
deficientes visuais que tem cão guia e existe toda uma adaptação em braile; os
deficientes auditivos que existem adaptações também. Mas, não é muito melhor
achar que é mais prático achar que somos bobos? Achar que estão procurando, mas
não estão e contratam pessoas com o mínimo de deficiência? A quem querem
enganar pondo nestas revistas discussões toscas sem serventia concreta? A maioria
das pessoas com deficiência, não estão interessadas em coisas que nunca vão alcançar
na vida e é lógico e por isso, que as revistas não vendem.
Outro ponto de exclusão são instituições que sabemos, foram construídas
em cima de uma filosofia que as pessoas com deficiência não são capazes. Não adianta
me mostrar deficientes sorridentes, funcionários e diretores dizendo que apoiam
a inclusão que não, não é verdade. Eu vivi 26 anos dentro de uma instituição famosa,
a AACD, e vi que por mais que queiram passar uma filosofia inclusiva, tudo gira
em torno de uma filosofia excludente de trancafiar o deficiente lá. Essa propaganda
grande dessas instituições tem a ver com a grana que rola para fazer essas propagandas,
isso é fato, porque a AACD tem um departamento de marketing que eu acho, não caberia
numa instituição filantrópica. Aliás, eu trato isso com mais detalhes no meu
livro: Clube das Rodas de Aço: Tratado sobre o Capacitismo que está no Clube de
Autores.
A questão das instituições são questões importantes dentro da
inclusão, mas não pode ser tratada como prioridade dentro de veículos da mídia que
querem tratar na questão. Eu nunca vi denúncias, eu nunca vi reportagens de
pessoas com deficiência física casando, contando como é seu casamento, seu dia
a dia, seu mundo dentro da realidade onde vivemos. As revistas perdem milhares
de páginas mostrando realidades que nunca vou querer, que não me interessam e
posso garantir, não interessa para a maioria dos deficientes. Também não vejo
discutirem pautas como sondas, como tratamentos para escaras, tratamento para escoliose,
instituições que não tratam direito e há sim sequelas no futuro. Não vejo esse
tipo de coisa, não vejo relações desse porte. A vida tem que ter um certo ar de
verdade, se não, comigo não rola.
Imposto para entidades filantrópicas
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