sexta-feira, 10 de março de 2017

O Mito da Moral





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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Algumas coisas são necessárias para entender o meu texto que vou escrever agora. Para começar temos que entender que mito não é sinônimo de mentira, porque um mito não é uma mentira ao ponto de enganar alguém. Se papas, se governantes e reis tiveram a capacidade de enganar usando os mais variados mitos, isso é uma questão muito mais ética do que moral, porque tem muito a ver com caráter muito mais do que costumes. E nem acho que alguns costumes sejam errados, só acho que são mal interpretados dentro do caráter (no sentido de intenção), daquele que propaga tal moral. Mas segundo Harari no seu aclamado livro antropológico, Sapiens – Uma Breve História da Humanidade, somos animais que criamos ficções e com essas ficções nós nos adaptamos melhor ao meio. Portanto, quando dissemos que aquilo é verdade, cuidado, aquilo é só uma ficção que nossos ancestrais inventaram para manter a unidade do grupo. Mas, espero que os ateus inteligentinhos, não usem o que eu digo como uma desculpa do seu trauma freudiano de descobrir que Papai Noel não existe e que, eles não ganham a bicicleta esperada.

Podemos dizer que toda a estrutura moral que construirmos ao longo de milênios, na verdade, não existe. Até no mesmo livro, Harari argumenta que todo o luxo que possibilitou a civilização nascer após a revolução agrícola, na verdade, foi uma armadilha e possibilitou a várias doenças e não foi vantajosa para a nossa evolução biológica. Vamos aos fatos: fomos feitos para subirmos em arvores, colher figos silvestres e caçar animais, somos animais onívoros (tenho que decepcionar os verganos), e numa hora para outra, paramos de dar leite materno aos bebês (possibilitando o enfraquecimento do sistema imunológico). Outras comunidades não quiseram ser agrícolas e começaram a brigar uma as outras, tivemos mais filhos (quando digo nós, digo querendo dizer como espécie homo sapiens), nós com mais bocas para alimentar tivermos que trabalhar mais. Tudo isso, a grosso modo, não passa de uma imensa ficção que possibilitou a convencer vários seres humanos a acreditar que o luxo, que perdura até na pós-modernidade, daria ao ser humano mais possibilidade de evoluir e ser feliz. Pensando assim, chegamos até a achar que o filósofo Rousseau não estava tão totalmente, errado. O erro dele é outro.

O erro de Rousseau não era que a propriedade privada não seria um roubo, que foi de algum modo, mas que existiu um “bom selvagem” e que no meio da natureza éramos seres imaculados que não matávamos, não largamos os velhos e os deficientes no meio do caminho, coisas do gênero. Rousseau, de algum modo, foi enganado sobre isso graças ao mito da moral que dominava na época. Pensamos um pouco, achávamos que os índios americanos (de toda América), eram felizes e pacíficos e que não tinham maldade nenhuma, viviam harmoniosamente. Hoje, sabemos, que os índios também faziam guerras, que quem vendiam os negros para os escravagistas brancos eram os próprios negros, que as brigas (que chamamos de guerras), foi uma invenção ou um efeito colateral, digamos, da revolução agrícola. Será que as teorias anarquistas e humanistas, diante de fatos de estudos sérios, então totalmente erradas? Não estão. Na verdade, fomos enganados com a promessa que ficaríamos mais felizes, mas que de fato, nós nos acomodamos e nos acovardamos diante de coisas que tiraríamos de letra quando éramos colhedores-caçadores. Não evoluímos, nós criamos mitos para pensarmos que estamos evoluindo e isso, já sabiam os orientais.

Os orientais – incluindo os budistas e os hinduístas – sempre ensinaram que tudo era mera ilusão e que devemos superar o nosso EGO. A grosso modo é um convite a repesarmos se, depois de milênios de guerras e fomes, mortes e estupros, a dominação da mulher e de povos, realmente, isso iria trazer alguma felicidade ao ser humano. Aliás, não era tão somente a cultura oriental, as culturas antigas eram cheias dessas resoluções e isso abrange até a cultura hebraica. Será que já tinham percebido o erro de ter sociedade agrícolas?  Talvez, isso já tenha sido percebido, mas já era uma coisa enraizada por muitas gerações e até hoje há uma ilusão que quando trabalhamos demais, podemos acumular bens para a nossa felicidade. Será que tudo isso não é uma ilusão? Exatamente o que diz os orientais. Para eles, o dinheiro tem um outro significado que nada tem a ver com a felicidade, por isso, talvez, eles tenham mais desenvolvimento com a tecnologias e resolvem mais rápido os problemas. Eles não têm vínculo nenhum com a imagem humana idealizada, porque sabem da capacidade humana de inventar algo para ajudar o outro. Os melhores exoesqueletos vêm dos israelitas, os melhores robôs são japoneses, os melhores índices de educação são orientais, porque não vivem da ilusão que somos seres superiores. Como diz a própria Bíblia: do pó viemos, do pó voltamos, somos somente pó de estrelas a muito tempo, mortas. O ouro é uma substancia em abundancia no universo, o cobre é um minério, a celulose é uma camada fina de madeira de alguma arvore por aí: então, por que se matar por míseros minérios e madeira processada? O pó que fala a Bíblia é a significância humana perto de um universo infinito, dentro de muitas outras galáxias e que, a ilusão que somos a imagem e semelhança do Eterno.

Mesmo eu lendo artigos e livros científicos não acho o ateísmo atraente, concordo com o filósofo Pondé que o ateísmo é um modo mais fácil de conceber uma realidade, então, eu mistifico os achados científicos. O Eterno pode ser invocado não para fazer pedidos ou atender suplicas, não temos um código do consumidor divino e ele não fez universo somente para nós. Portanto, ele nada deve a ninguém e dentro disso, deve ser invocado em momentos de encontro consigo mesmo. A Bíblia hebraica, o Torá que chamamos de Velho Testamento, fala que o Eterno não tem nome e não podemos chamar e nem falar seu nome em vão, porque seu nome é sagrado e sua discrição é muito além da nossa linguagem. Agora eu entendo – lendo um livro de um ateu não praticante, mas ainda assim, ateu – que o Torá tem uma mística muito além do que dizem e não é à toa que os cristãos o puseram nos evangelhos. Está muito além da moral que enraizaram em torno dos livros sagrados, está muito além daquilo que falam o que Jesus quis passar ou os profetas, pois, Jesus e os profetas eram os escolhidos do Eterno porque eram verdadeiros. O Eterno gosta de pessoas verdadeiras que discutem com ele, que não o bajulem, só ver o que o rei Davi fez diante dos olhos Dele. Jesus negou sua missão (Pai, afasta de mim esse cálice), Moisés discutiu com Ele, profetas inúmeros fizerem isso porque tinham uma ligação direta com ele.  Era pesada essa ligação com ele.

Nessa altura do campeonato fica a pergunta: o que tem tudo isso a ver com a moral? Tudo. Quando nós criamos a agricultura, criamos regras para aquilo não ser usurpado e não acontecer mortes que, segundo pesquisas arqueológicas, acontecia aos milhares. Criamos regras para conviver com milhares de cercados numa mesma comunidade, e essa, construíram cidades como centros de comércio. Construirmos regras éticas para a convivência mutua, e junto, leis que possibilitaram que essas regras éticas não fossem quebradas. Cada cidade-estado, tinha sua regra ética e assim, uma cidade e outra podia entrar em conflito. Ora, as guerras foram causadas muito mais por causa desse luxo todo, do que outra coisa. Antes do império romano não havia moral, porque moral vem do termo latim mos e o significado é “costume” que é uma tradução (mal traduzida, aliás), do termo grego ethos que não tem um significado certo, mas alguns pesquisadores traduzem como “caráter”. Faz todo o sentido, pois, o grego clássico estava muito mais preocupado com o caráter, do que o costume de uma cidade inteira. Mas você deve estar perguntando: os espartanos tinham um código moral e não ético, como assim? Respondo: os espartanos não tinham código nenhum moral, porque cada cidadão era levado a acreditar que deveria morrer pelo ESTADO e então, deveria obedecer às regras éticas. Mas, tudo isso não passa de um mito, uma invenção para fazer acreditar que tudo isso era uma realidade. Os hoplitas – povos escravizados pelos espartanos – que o digam.

Para entender a gloria espartana de morrer pelo ESTADO e as conquistas dos imperadores – de Alexandre até Napoleão III – são meras ilusões, temos que entender que tipo de ilusão que até mesmo, Jesus estava de acordo (contrariando muita seita cristã de hoje que prega a teologia da prosperidade). Na realidade, quem colocou condutas morais dentro do cristianismo foram os romanos, pois, Jesus nunca se preocupou muito com nossa conduta dentro dos costumes. Se pensarmos direito, nunca li nenhum versículo de Jesus que falasse de condutas morais (costumes) e sim, conduta ética (caráter) que tem a ver com o melhoramento de si para temos uma mais compreensão da verdadeira realidade. Amar a Deus sobre todas as coisas, ao próximo como a si mesmo, não é uma conduta moral e sim, um ato ético de melhorar nosso caráter para desenvolver nosso lado critico de questionar nossa vida. O por que fazemos o que fazemos? O por que existe nossa conduta moral? A questão é que nem Jesus, nem Buda e nem nenhum ser ligado ao Eterno, ensinou condutas morais, essas mesmas, foram implantadas como condutas do poder. O ESTADO como detector de toda a sociedade (que a nossa brasileira, morre de tesão), usa a moral que o constrói para infestar aquilo que não cabe como apoio de seus interesses. O problema, num modo bem especifico, não é o contrato social, mas que esse contrato também é um mito. Tudo não passa de um mito. Mas nossa ética como caráter, é a essência daquilo que somos e aquilo que somos é bem melhor do que aquilo que parecemos ser.

Na sua essência, a moral já era como base, uma conduta hipócrita antes quando os romanos o a construíram. Na verdade, deixamos de ser éticos por interesses difusos de parecemos o que não interessa ao poder sermos, ou seja, quando inventamos a agricultura, inventamos o Poder político. A quem interessa quantos filhos temos, ao Eterno ou ao Poder? Ao Poder. Nossa conduta diante das nossas vontades – que algumas religiões puseram como pecado – a quem interessa, ao Eterno ou ao Poder? Ao Poder. Então vejamos: quem distorceu o verdadeiro significado de ethos, o Eterno ou o Poder? O Poder. Porque outro significado para ethos é “caminho reto”, ou seja, qual filosofia tem como base o “caminho reto”? O caráter não é um “caminho reto” construído em cima dos verdadeiros valores que seguimos? De Sócrates até Buda (incluindo Jesus), a base de seus ensinamentos sempre foi muito mais ética do que morais. Os ensinamentos de Sócrates são condutas éticas construídas dentro daquilo que seguia, porque pouco importava as regras de Atenas, mas seguir elas, foi seguir um princípio dele e provar que elas são injustas e ilusórias. Buda no mesmo modo, tanto fazia as leis morais, mas sim, leis éticas que tem a ver com a conduta e um “caminho reto” a ser seguido. Jesus não era diferente, quando disse: “dá a Cesar o que é de Cesar, a Deus o que é de Deus”, quis dizer que tudo é efêmero, mas a nossa essência é única em todo o universo. Outro ensinamento dele era: “Estreito é o caminho, largo é o caminho da perdição”, ou seja, para seguirmos aquilo que realmente somos num “caminho reto”, muito difícil é esse caminho. Mas para seguir o que a maioria segue é muito mais fácil.


Vendo um biólogo do porte de um Richard Dawkins dizer que uma mãe que tem um filho com síndrome de down é imoral e sacerdotes histéricos vendo imoralidade num selinho num misero desenho, vão influenciar crianças (que sabemos que a homossexualidade é de nascimento). A moral é a mesma e é muito além do que possamos achar que é verdade. A crença da nossa própria verdade, é a crença iluminista da romântica concepção que somos alguma coisa e temos algo. Não temos nada. Não somos o que pensamos ser, o que dizemos ser, o que achamos que somos. A moral impõe, a ética entende. Quem disse que uma criança com síndrome de down sofre? Quantas milhares de crianças com síndrome de down são professoras, são repórter, são modelos? Se um beijo influenciasse crianças, o desenho do Pernalonga que dá longos beijos ao Hortelino, tinham influenciado milhões. Respeitar as escolhas das pessoas e suas opiniões, é uma coisa, mas, achar no direito de agredir para defender a sua crença, é outra bem diferente. Por isso, defendo um mundo ético e não, moral. Desculpe!



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