sábado, 18 de março de 2017

Porquê ri de Platão?




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

“O sábio que tudo sabe é aquele que sabe que nada sabe”
(Platão)

Vendo uma aula do professor Sidney Silveira – que existem várias críticas “ferozes” do Olavo de Carvalho – onde ele explica duma forma bem simplificada, as teorias do filósofo clássico Platão. Todo mundo sabe que Platão gostava da religião órfica e parte das teorias platônicas são de origem órficas, então, não há razão nenhum e não vejo o porquê, alunos de filosofia darem risada de Platão. Para mim é uma grande prova da empáfia (uma vaidade sem propósito nenhum) em achar que você entendeu alguma coisa e você não entendeu nada, não leu nada, não sabe nada e deveriam estar em constante aprendizado. Filosofia é a busca da sabedoria e como disse o mestre de Platão, Sócrates, que “Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.”.

Etimologicamente, filosofia veio de dois termos em grego, um é “philia” que era o amor amizade, ser amigo. Outro termo era “sophia” que se traduz até os dias de hoje como sabedoria, ou seja, a “Philosophia” (como escrevia Heidegger), é a busca da sabedoria através da amizade com essa sabedoria. Talvez, foi isso que o filósofo grego Pitágoras, cunhou o termo “philosophós” quando um governante o chamou de sábio, ele disse que era apenas “um amigo da sabedoria”. Exato! Pitágoras poderia muito bem, gostar do termo ou se auto afirmar dentro da influência que tinha como um sábio de Samos. Mas não fez. Longe disso, se mostrou como apenas um “amigo da sabedoria” que o a acompanha, mas, que ainda não o a conheceu por completo. Se o termo é grego, seu significado ficou universal, quando se descobriu que muitas culturas almejavam chegar a sabedoria. Cientistas antropológicos e historiadores podem ter estudado muitos aspectos culturais – com apoio de outras áreas cientificas, como a psicologia e a fisiologia – e talvez, nós filósofos devemos sim ler suas conclusões, mas não podem saber o porquê o ser humano (homo sapiens) está procurando a sabedoria. Aliás, defendo que os filósofos sejam estudiosos nexislistas (que ligam os nexos ou as conexões), porque existem muitos filósofos que estão se prendendo em ideologias e religiões que não deixam fluir as diversas ideias em outras culturas.

As coisas poderiam ser outras se não achássemos que uma só religião poderia salvar nossa alma, assim como, uma ideologia pode salvar a humanidade da injustiça. Mas, na verdade, sempre generalizamos e achamos “engraçado” tudo aquilo que não entendemos ou tudo aquilo que achamos como menor. Como você pode achar que Platão é um filósofo menor? Como você pode abrir um livro de Kant (filósofo prussiano do século dezoito), por exemplo, um Crítica da Razão Pura, e achar que você descorda de alguma coisa? Refutar, todos podemos refutar, mas temos antes de tudo, entender com detalhes tudo aquilo que o autor escreveu. Garanto que nem 10% dos alunos que estavam ali naquela aula, sabia sequer o que era metempsicose para acha engraçado tudo aquilo, e mais uma vez, tudo aquilo que não entendemos, rimos. E se rimos de tudo é um sinal de desespero, como diz o cantor Frejat em uma das suas músicas, porque ficamos com medo daquilo que não entendemos. Sócrates, pegou uma frase no Oraculo de Delfos, disse para conhecemos a si mesmo e descobri o que nós temos de mais importante. Um filósofo deveria saber que o Mundo das Ideias não é uma coisa intangível (fantasia), mas algo que vem primeiro do objeto e a ideia em essência, se torna algo tangível (objeto).

A “PhiloSophia” só existe graças a três princípios: aquilo que era (origem), aquilo que é (existência) e aquilo que será (caminho ético). Aquilo que era é uma resposta à pergunta: de onde viemos?  Ora, Tales de Mileto, nos disse que foi na agua, que por termos corpos húmidos, temos que ter originado na agua. Diferente de vários mitos que dizem que somos obras dos deuses ou de um só “deus”. Só abrindo um parêntese, o politeísmo (crença em vários deuses), não descartava uma Divindade mais poderosa que tudo criou, mas que essa mesma divindade era inacessível e tinha que ter intermediários que em alguns casos, não deixamos de acreditar. Continuando. A origem tem que ser lógica dentro da filosofia, como Tales fez ao olhar os corpos e ao olhar os corpos, concluiu que vinha de uma substancia húmida que na lógica é a agua. Ou a noção de Tales seja uma noção de mistificar a agua como uma substancia de origem universal – que mesmo os cientifistas descordam de mim, faz todo o sentido de tudo que foi descoberto na área biológica – pondo ela, como uma substancia divina como um instrumento para uma causa e que, haveria de ter um efeito. Ou Tales se via diante de aparecimentos de insetos na agua e pensou realmente que a vida surgia lá.

Hoje em dia, sabemos que as espécies evoluíram de outras espécies e que evoluiu de células que tem origem nos ácidos que surgiram com os elementos e fica, mais ou menos, fácil “concluir uma hipótese”. Acontece que a hipótese é uma suposição daquilo que observamos, como supor (tendo uma hipótese), de um comportamento de determinadas pessoas porque sabemos que pessoas tem reações a alguns comportamentos. Ora, a comprovação que todas as espécies vivas do mundo (Terra), ter evoluído de um punhado de células não resolve o problema e não descarta a geração espontânea, tem mais essa. Por que? Simples. Ter células evoluindo para seres mais complexos – do simples ao complexo – não nos esclarece se os seres tiveram geração espontânea (vários fatores colaboraram com isso), ou uma inteligência superior implantou aqui. Extraterrestres fizeram isso? Cientistas de outras dimensões? Cientistas espirituais? Seres divinos? Mesmo chegando a uma das respostas a pergunta, vai ser hipóteses, porque não vamos conseguir chegar a nenhuma conclusão. Só se chegarmos a uma conclusão razoável, encontrando uma capsula onde vieram a células, ou encontrar algo que colabore com isso. Algum tempo atrás, encontraram esferas de aço – dizem que é de um metal raro na Terra – que são ocas e que se desconhece a origem. Quando abriram, encontraram um pó estranho, mas quando foram ver, eram os mesmos ácidos que constituíram as células orgânicas. Mesmo que algum blog desmascarar (que só vai ser uma hipótese, porque não sabemos a verdade), é uma hipótese plausível. Outra hipótese é que Marte também teve vida e em algum momento, um impacto fez que alguns pedaços viessem para a Terra a ponto de eclodirem aqui. Cometas também tem vírus e bactérias congeladas em seus corpos, como se concluiu, pesquisas. Existem trilhões de hipóteses que podem ser e podem não ser.

Quando pensamos “aquilo que era”, pensamos naquilo que originou algo e com o passar do tempo, não tem a mesma forma. O Universo se originou de um ponto, mas ele não é mais um ponto, vários pontos originaram vários universos, mas nenhum deles, é um ponto. A modificação não é a resposta de não existência de um ser inteligente, mas a resposta de um ser inteligente que molda como se fosse um escultor. Talvez, Espinosa esteja certo (que Einstein adota também essa visão), que o que chamamos de “Deus”, esteja em tudo que vimos e percebemos. O motor perpetuo aristotélico que comenda tudo pelo pensamento – que a igreja romana adota – onde todas as coisas são perfeitas. A ideia de perfeição vem dos gregos, mas voltarei depois nisto. O que quero dizer é que não se pode concluir como verdade o que é uma hipótese, apenas. Então, não podemos concluir se Platão estava ou não certo, se existe mesmo alma ou não, se reencarnamos ou não em animais ou em outros humanos. A questão é se a ciência como detectora do conhecimento (aliás, o termo ciência vem do latim scientia que quer dizer “conhecimento” ou “saber”), não está sendo um meio de entravar o ser humano ao conhecimento verdadeiro, ao conhecimento da sua própria natureza. Ninguém tem a “verdade” e nem as “verdades” são absolutas ao ponto de não mudarem.

Se nós não chegamos a responder “aquilo que era” (nossa origem), como poderemos responder “aquilo que é” (a realidade)? Será que estamos na realidade ou isso tudo não passa de uma ilusão? Se botarmos na questão ética (caráter), podemos dizer diante de várias teorias e pesquisas cientificas, que não passamos de coletores e caçadores pensando ser modernos. Assim, todas as culturas que criamos nos últimos 10 mil anos, são apenas ilusões de um bando de homo sapiens que fizeram acreditar ter evoluído. Nós não evoluímos. Nós não cuidamos dos entes idosos (raras exceções por causa de uma certa educação), continuamos a rejeitar pessoas com deficiência pelo medo de doenças (ué, a ciência não fabricou vacinas?), se continua a achar que a guerra é a melhor solução, a dominação do mais fraco, a dominação e a discriminação da mulher. Então, todas as ideologias (que chamo e vários cientistas também, de religião humanista), não resolveram porque não passam de ilusão. O comunismo é uma ilusão, o liberalismo é uma ilusão, o nazismo foi uma ilusão, o fascismo foi uma ilusão e o nacionalismo é uma ilusão. No final das contas, não sabemos nem quem somos.

Se não posso nem responder quem eu mesmo sou, porque eu devo rir de Platão? Se não respondi uma questão primordial dentro da “PhiloSophia” que é “aquilo que era”, porque eu devo fazer “escarnio” do orfismo? Ainda mais longe vamos quando perguntamos: Quem nós somos? Ora, se Tales de Mileto (o primeiro a questionar a ordem mítica grega), disse que os seres vivos vieram da agua (incluindo nós), Sócrates vai propor duas questões primordiais dentro da questão “aquilo que é”. Primeiro, que uma vida sem ser examinada, não vale a pena ser vivida e é uma questão, ética. Por que examinar a vida? Por que devo questionar a minha conduta num mundo que acho ser cruel e que me faz sofrer? Daí entra a outra questão socrática que coloquei lá trás, conhecer a você mesmo, conhecer seus limites e sua própria natureza. Se examino a minha vida, então, eu posso vir a me conhecer? Pode ser que ao me conhecer, eu descubro que a realidade não existe, que me enganaram ao longo da minha vida. Porque não sou a cadeira de rodas cara que tenho, não sou as marcas de roupa que eu uso, o tênis que eu calço, eu sou um ser que gosto de ser eu mesmo. Minha personalidade vai sendo construída a partir das questões que vou respondendo e assim, vou construindo minha própria realidade. Não interessa se a maioria está usando uma Ottobock (falando de cadeira de rodas), eu estou satisfeito com a minha Ortobrás 1996 que a minha noiva me deu, não interessa que a maioria usa a Nike, eu estou satisfeito com meu tênis simples. Porque a publicidade não faz e nem nunca fez a minha cabeça, porque as pessoas são muito facilmente manipuladas. Não me interessa que a maioria gosta de Funk Carioca ou pagode, eu gosto de rock metal.

Conhecer a si mesmo sempre foi a saída para fazer com que o homem veja a realidade, como no Mito da Caverna de Platão, que o homem acorrentado se solta e vai ver a luz. Então me vem uma outra questão: será que tudo que tenho e tudo que gosto, também não é uma ilusão? No budismo (doutrina de Sindarta Gautama que se torno Buda que quer dizer, “o iluminado”), se ensina que todos os sofrimentos vêm do nosso próprio EGO e devemos deixar esse EGO que é a fonte do desejo. Para Buda, esse EGO que quer uma Ottobock na verdade, é um falso EGO. Na verdade, o termo EGO é latim, assim, o termo em português é EU. Esse EU é o EU falso, pois o problema não é ter uma Ottobock, é achar que a sua vida depende da Ottobock para viver, deixar você mais bonito, mais aceito, menos discriminado. Tudo isso é uma ilusão, tanto a Ottobock, como tudo que falaram que ela iria trazer, porque ela é só um instrumento de locomoção. É uma tecnologia, nada mais do que isso. Nós somos pessoas com alguma deficiência, mas ainda assim, pessoas que estamos inseridas com a espécie homo sapiens. Enquanto eu não olhar a minha deficiência e perceber que sou parte do universo, não posso responder à questão “aquilo que é” e não posso seguir e não posso rir de Platão.

A questão só será respondida quando respondemos “aquilo que era” – os existencialistas tentaram responder, mas falharam – não podemos responder “aquilo que é”, não podemos encontrar o meio termo entre a nossa origem e o que somos. Mas se descobrimos quem somos, não vamos descobrir onde viemos? Não foi isso que Sócrates disse para conhecer a si mesmo e Jesus disse para encontrarmos a verdade? Podemos dizer que conhecer a verdade é conhecer a si mesmo, conhecer quem somos e nunca se apegar ao que não somos. Não somos etiquetas, não somos rótulos, não somos nada além do que primatas que inventam tecnologia. Existe a alma? A alma diferencia o homem dos ouros primatas? Pode ser que a existência proceda a essência, mas a essência garante que a percepção da existência aconteça. Pode ser que eu renasça em um animal se eu fizer algo mal, por que não? Algumas religiões animistas acreditam nisso – como algumas derivações do budismo, o hinduísmo, a religião antiga egípcia, a religião órfica entre outras – que podemos ser lobos, podemos ser crocodilos, podemos até renascer em uma vaca ou num boi e ser comido. Por que não? Quem garante? Afinal, não encontraram resposta nenhuma do “aquilo que era”, a ciência não respondeu e não fez feliz, até agora, 7 bilhões de pessoas como prometido. Ainda vejo vultos e não uso nenhuma droga ou sou esquizofrênico, mas sempre acham graça e me refutam com uma risada, mesmo que a ciência não tenha encontrado nada. Sócrates ouvia uma voz, nem por isso era tido como louco (o caso dele foi político), Jesus falou com Moisés e Elias e sua mensagem ética foi dada sem que ninguém o veja como louco ou esquizofrênico.  

Se ainda não respondemos “aquilo que era” e ainda não encontramos “aquilo que é”, podemos ou não, responder “aquilo que será”. Por que podemos responder? Dentro da filosofia, o porvir já foi muito discutido, mas o filósofo que começou foi Heráclito. Para Heráclito, o ser não se molha com a mesma agua duas vezes ou não pisa na agua de um mesmo rio duas vezes seguidas. Simplesmente, porque a água não é mais a mesma e, nós, mudamos nossa percepção sobre o porquê você deve atravessar o rio duas vezes. Outra coisa, não menos importante é: tudo que fazemos no presente vai refletir no futuro, tudo que eu faço hoje eu vou fazer refletir lá na frente. Isso não é um pensamento metafisico, é um ato que pode haver consequências depois. Se eu corro muito com minha cadeira motorizada, uma hora ou outra, vou causar um acidente ou comigo ou com outras pessoas. Claro que existem pessoas que acreditam – que também não passa de uma crença – que o fato de eu causar um acidente houve outras causas a não ser eu correr com a cadeira motorizada.

Tanto no budismo, quanto ao espiritismo kardecista – que é uma ala do cristianismo que segue a moral de Jesus, mas não enxerga ele como Deus – nos diz que há causa e há o efeito, se eu faço algo hoje, amanhã vou ter as consequências desse ato. Atravessar o rio é um ato, pisar na água duas vezes, é a consequência e se essa água não é a mesma, é a mudança. Mas podemos refutar Heráclito – respeitando, lógico, a importância dele na “philosophia” – dizendo que a água de todo mundo é a mesma, que o que chove é a mesma água que eu pisei um dia. Talvez, ele (Heráclito) tivesse querido dizer, que o fluxo temporal é constante e não pode ser quebrado, tanto é, que o fragmento mais famoso dele seja “tudo flui” (panta Rey) ou seja, tudo está em constante mudança. É o que o budismo diz e de alguma maneira, o espiritismo também diz, que tudo que você sente no presente irá fazer em ato, vai acontecer lá para frente. Mas o que isso tem a ver com Heráclito?  Tudo flui porque o tempo não existe, ele depende da ação humana dos fatos ocorridos, porque os fatos podem mudar. As coisas boas ou as coisas más, dentro dos valores que contem a cultura étnica, são ações humanas e então, não depende de nenhuma força metafisica ou força extra-humana (no caso extraterrestre), que faz determinada coisa acontecer. Se pensarmos bem, tanto teístas (que acreditam em Deus) e os ateístas (que não acreditam em Deus), estão errados. A fome, a guerra, as catástrofes, não são atos de um Deus ou atos do acaso, são consequências puramente, humanas.

Por isso que o budismo vai ser classificado como uma religião ateísta, porque para eles não interessa se existe ou não Deus, mas existe uma energia que faz o ser humano viver e se ele focar no presente, não haverá motivo nenhum de se preocupar com o futuro e nem o passado. O passado passou e é só uma lembrança (não dá para mudar mais), o futuro não aconteceu e acontecerá graças ao que fazemos hoje e então, se preocupamos com o presente. De alguma maneira, Jesus disse isso também quando diz: “(...)não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o amanhã trará suas próprias preocupações. É suficiente o mal que cada dia traz em si mesmo”, ou seja, cada mal que fazemos é nós que fazemos. Por que se preocupar com o futuro se o futuro depende do nosso presente?

Se ainda não respondemos o passado (origem), presente (agora) e o futuro (amanhã), como podemos responder as outras questões? Como existem pessoas que podem rir de Platão? Como podemos rir de uma teoria se nem podemos refutar ela? Esse, meus amigos, é o academismo brasileiro.



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