tradução: "Não pise em mim" |
Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Estava lendo um artigo do blog cientifico, Universo
Racionalista, que na verdade é uma tradução de um artigo do The Guadian (jornal
diário britânico), chamado “A ideologia libertária é a inimiga natural daciência”. Fiquei bastante surpreso pela ignorância do assunto, mas não surpreso
pela oposição dos britânicos, já que eles são bastante conservadores na sua
maioria. Mas, acho, que há uma certa confusão enquanto a política liberal e o
libertarianismo que é uma derivação da Escola Austríaca, no qual, Ludwig von
Mises é o principal teórico.
Para começar há uma terrível confusão dentro do que é
política. Eu, pessoalmente, gosto da definição do filósofo Aristóteles que
definia o homem como um animal político. Na verdade, etimologicamente, política
vem do grego “politikon” que eram aqueles cidadãos das cidades-estados, que se
preocupavam com a polis. Então, não haviam políticos como conhecemos, mas eram
os “politikons” que decidiam toda a manutenção e o funcionamento da polis. Agora,
hoje em dia, há políticos que são escolhidos – mesmo o porquê, os países ficaram
maiores e não há mais meios de se ter “Àgoras”, que eram praças de discussões –
para decidirem por nós (depois voltarei a essa questão). Acontece que quem
escreveu o artigo, se esqueceu que nem sempre a política é feita só
ideologicamente, mas as ideologias muitas vezes, é tentada também. Eu não vejo
a ciência (conhecimento) acima da política, mesmo o porquê, há as ciências políticas
que estudam as diversas ideologias que foram ou ainda não, tentadas.
Também há erros dentro da ideia que você como cientista,
isso é a ideia que passa o texto, é um ser ético e que não se tem nenhuma
ideologia dentro da ciência. Ora, por muito tempo houve estudos científicos
antropológicos que deveriam colaborar com as políticas racistas norte-americanas,
houve pesquisas cientificas dentro do governo nazista e fascista – tanto no
plano biológico, quanto na tecnologia de guerra – se teve pesquisas soviéticas
para provar que o socialismo é uma ideologia perfeita. Até mesmo, houve dentro
da guerra fria (isso não foi uma guerra ideológica?), uma corrida cientifica
para a hegemonia, hora da democracia norte-americana, hora do socialismo
soviético. Diante disso tudo: ainda existem pessoas que acham que a ciência não
há ideologias? Fora a bomba atômica, que o Sr Oppenheimer manda um “oi” para
todos. Até acho, se o editor do texto não reparou, que esse começo ficou muito
libertário colocando a ciência a parte do resto, como se a ciência fosse
“propriedade” dos cientistas que pesquisam. A gente sabe que não é, mas é apenas
um conjunto de conhecimentos que transcende a questão.
Na sequência eu tive certeza do que falou Thodore Dalrymple
no livro “Podres de Mimado: As consequências do sentimentalismo toxico”, que a
educação britânica está “mal das pernas”. Você confundir políticas liberais com
egoísmo é uma forma de ignorância bastante grave, mesmo o porquê, o liberalismo
econômico, não é um sistema ético e sim um sistema moral. Pelo simples fato de
você não se preocupar com o caráter de cada indivíduo, mas mexer diretamente
com os costumes de uma determinada cultura. Pode ser, por exemplo, que alguns povos
africanos nunca tenham visto uma garrafa de Coca-Cola, mas se apresentarmos uma
a eles, vai mexer com sua cultura e até pode haver um comercio de coca ali. Eu
acredito que o direito de um ser humano de escolher, está além do direito de
propriedade, está na própria natureza humano. Claro, como toda invenção humana,
há falhas (inclusive a coroa da eterna rainha, Elizabeth II), e nessas falhas,
há sim ideologias que colocaram como interesses difusos. Como o conservadorismo,
que vem dos interesses religiosos protestantes, como medidas mistas, que há
interesses governamentais e das industrias,
Ou seja, o liberalismo é uma doutrina de uma corrente política
que abrange diversas ideologias históricas – ideologias acumulativas de anos de
desenvolvimento humano dentro da história – onde se objeta uma só forma que o
governo preserva, da liberdade individual. Daí que a essência do liberalismo
contrasta com o conservadorismo, porque ele assegura o direito de cada um, a
preservação da liberdade individual de favorecer a discordância de credos
ortodoxos e das autoridades estabelecidas em termos políticos ou propriamente,
religiosos. Assim, na essência até do próprio termo – já que liberalismo vem do
termo latim “liber” (livre) – os liberais, de todas as correntes, podem ser
chamados de amigos da liberdade e sendo amigos dessa liberdade, lutam para que
ela continue no meio social. A origem do liberalismo é no iluminismo, que
colocaram, como oposição ao feudalismo e o mercantilismo. Já no século XX,
entre diversas outras correntes, fizeram (com um discurso mais radical da Revolução
Francesa), oposição ao socialismo e ao comunismo. Alguns dos liberais sociais,
simpatizaram com alguns dos objetos e métodos da democracia social.
Sendo assim, como o liberalismo (sendo uma corrente derivada
do próprio iluminismo), pode se opor a ciência e não deixar a própria ciência
trabalhar? O grande Colisor de Partículas, não foi construído por governos
liberais? Os grandes avanços das diversas áreas do desenvolvimento humano, biológico,
tecnológico, ecológico e etc, não foram desenvolvidos nos governos liberais? Lógico,
os governos dito liberais, não seguem muito à risca o que diz o conceito do
liberalismo, por motivos óbvios de interesses. Ou temos liberdade em tudo, ou
não é liberdade e ser um liberal conservador, é contraditório e não há, em
todas as explicações possíveis, para tal soma. Acho que temos muito mais de
subtrair o conservadorismo dentro das políticas liberais e muito menos, acreditar
que elas podem ser harmonizarem. Talvez, uma das minhas críticas mais acirradas
contra aqueles que não entenderam o que é o liberalismo ou o libertarismo.
Não tenho a menor dúvida que as pessoas não conhecem o
libertarianismo ou o libertarismo, porque dentro da ideia se cria vários mitos.
Primeiro, ser um libertário – já que o libertarianismo é uma concepção de
liberdade em sua essência, que alguns chamam de anarcocapitalismo - não tem a
ver com ideologias e muito menos ideologias morais, porque o libertarianismo é
uma corrente de teorias econômicas e não ideologias éticas ou morais. A Escola
Austríaca (onde mais se derivou pensadores), surgiu de uma ideia de
escolásticos tardios do século XV que eram da Espanha e tomistas (seguidores de
Tomás de Aquino). Eles perceberam que
haviam leis econômicas, que eram forças inexoráveis de causa e efeito da mesma
maneira ou parecida, as forças naturais. Também, defendiam a propriedade
privada e a liberdade de comercio e de contrato.
Quem na verdade fundou a Escola Austríaca foi Carl Menger (1840-1921),
com seu livro “Princípios da Economia Política” de 1871, ressuscitou a abordagem
franco-escolástica, e acentuou em pilares muito mais firmes e concretos. Junto com a economia franco-escolástica,
também Menger, colaborou com a tradição britânica que teve uma força bastante
acentuada. Menger decifrou o teor subjetivo do valor econômico e explicou, pela
primeira vez, a teoria da unidade marginal. Essa teoria marginal consiste
quando maior o número de unidades de um bem que um indivíduo possa possuir,
menor é o valor ele dará a cada uma das unidades adicionais. A título de
exemplo, se tenho um maior número de chocolates, eu não pagarei a mais daqueles
chocolates, porque já tenho os chocolates que necessito; se tenho uma loja de
doces, um outro exemplo, eu sempre pagarei a menos daqueles que possuo. Ou
seja, quanto mais um produto está sempre comprado e consumido, maior é a
tendência de esse produto baratear. Além do mais, Menger mostra como surgiu o
dinheiro e defende (com razão), que foi no livre mercado, quando o “commodity” (antigamente
era um termo que designava qualquer produto, hoje significa qualquer produto
virtual dentro da bolsa de valores), mais vendido se torna desejável, não para
ser consumido, mas sim, ser usada como meio de troca por outros bens.
Ludwig von Mises (1881 – 1973), foi um grande seguidor de
Carl Menger, tanto que afirma que foi Menger que fez dele um economista. Sua
abordagem mais significativa é se opor a teoria marxista e defender o livre
mercado (como Menger). Fora outros teóricos como Hayek (que foi aluno de
Mises), Murray Rotthbard, só para mostrar os principais. Na verdade, há um
grande erro em achar que o libertarianismo é conservador ou é de direita (já
que é um tipo de anarquismo capitalista), porque o livre mercado nem sempre tem
que conservar o mesmo plano econômico. O que foi bom nos anos 80, por exemplo,
não cabe dentro de uma economia mundial de hoje. Assim, o libertarianismo (que
o editor do The Guardian insiste em atacar), é contra a intervenção
governamental, sendo uma liberdade de mercado total e a defesa irrestrita da propriedade
privada que Rotthbard, colocara como o fim do ESTADO. Quer liberdade? Acabe com
o ESTADO!
Ora, já pensaram o quanto a ciência poderia produzir sem a
intervenção do ESTADO? Quantos inventores podem inventar coisas para a
humanidade sem que o ESTADO tenha que interferir e burocratizar essas
invenções? Na questão do aquecimento global – que o editor do The Guardian disse
que nós libertários, somos egoístas – podem facilmente, boicotar empresas
poluidoras e não usar nada de carvão ou petróleo. Por que somos obrigados
sempre usar carvão e petróleo? Pela intervenção do ESTADO, o ESTADO induzi
porque atende interesses dessas corporações (que o diga, a família Bush). Por
outro lado, a questão climática com o libertarianismo, ficaria sempre como uma
escolha, porque poderíamos não comprar e pronto. Num estabelecimento, para
citar outro exemplo, que expulsasse por preconceito, não iriamos comer lá e nem
haveria preconceito, pois, o ESTADO que faz essas separações. O ponto ético e
moral que o texto aponta, não existe no liberalismo ou no libertarianismo, sim,
numa economia baseada da coerção de um
ESTADO que atende interesses e cobra para impor curas e tecnologias inúteis. Ainda
o texto aponta a teoria do egoísmo positivo de Ayn Rand, que não se baseia no
egoísmo negativo (aquele que só há você mesmo), mas um egoísmo de preservar a
si mesmo e seu patrimônio. Em outras palavras, para a filosofa, há sim uma
virtude dentro do egoísmo.
O objetivismo de Ayn Rand não é um egoísmo clássico (que é o
fechamento de si mesmo), mas um individualismo que defendia Aristóteles, seu filósofo
favorito. Um exemplo para entender o objetivismo é entender que todo ser humano
e um ser autônomo por natureza, ele é o que ele independente onde e o porquê
ele vive. O problema, para Rand, não era o homem ajudar um outro e sim, o
auto-sacrificio no qual, se pautou com o governo socialista (não chegou ser um
comunismo por motivos óbvios), que jogou a sua família na miséria. Afinal, a evolução
bolchevique não era um auto-sacrificio em nome de uma ideologia? O nazismo não era
um auto-sacrificio do povo alemão por uma ideologia que iria salvar o mundo (na
mente do Firher)? A indução a isso é errada, mas a ajuda voluntaria e movida
pela vontade não o é. Cada ser humano era um ser em potencial em construir a
sua realidade e se preocupar consigo mesmo, com seus bens (por que não?) e os
seus entes queridos. Na ciência, o objetivismo é necessário, porque um
cientista deve defender a sua tese e não deixar que outras pessoas se apropriem
do seu trabalho. O editor do The Guardian, iria gostar que esse texto fosse
traduzido e copiado sem dar seu devido credito? Claro que não. Não trabalhamos
dentro de qualquer coisa, sem ser reconhecido, nem ser editor no The Guardian.
O ESTADO é o grande
inimigo de qualquer liberdade ou o conhecimento, porque não se pode pensar
livremente sem que o ESTADO tente dominar o pensamento e atender interesses. Quanto
mais pessoas puderem exercer algum tipo de comercio, algum tipo de invenção ou
algum tipo de ideia. A liberdade se faz necessária, até mesmo, dentro da ciência.
Bibliografia
https://pt.wikipedia.org/wiki/Commodity
http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=35
http://www.liberal-social.org/liberalismo
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