quarta-feira, 12 de abril de 2017

Deus e o diabo sem hipocrisia






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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Para começar esse texto, queria esclarecer algumas coisas aqui. Para começar, quando digo Deus eu não me refiro Jesus de Nazaré que ficou o deus-homem do cristianismo tradicional, mas eu me refiro a força criadora que construiu a realidade no qual conhecemos, sem partir de religião nenhuma (mesmo o porquê, as religiões mais confundem do que esclarecem por motivos óbvios). O Deus que me refiro é o Deus que criou as coisas a partir do nada e por alguma razão, ele se entediou e fez tudo para não terminar em si mesmo por toda a eternidade. Ora, Deus não quis ser egoísta (na essência do termo) e ficar somente nele a eternidade, então, fica difícil conceber um Deus que julga seres humanos – que entre bilhões de estrelas é um ser entre milhares de seres que povoam o universo – como se ele tivesse dado a vida para ser reverenciado. Esse deus-rei é claramente um deus medieval ou um modelo de um deus judeu da época dos reis, que ordenava o povo a reverenciar sua gloria eterna. Mas que tipo de deus iria fazer um ser para te reverenciar? Deus muito pequeno, porque se Deus é magnânimo, onisciente, onipotente e onipresente, não iria ter um sentimento tão humano.

Muitos acham que há um paradoxo entre o deus abraâmico e o deus amoroso jesuítico e essa discussão do mal foi uma discussão teológica por muitos séculos. Mas antes mesmo dos cristãos os filósofos gregos já estavam nessa discussão, porque há uma ilógica achar que um deus que transmite bondade, fez todo o universo tenha feito também o mal. Epicuro foi um desses filósofos que fez esse paradoxo, pois se deus é bom, se deus fez todas as coisas para dividir essa bondade, por que ele fez o mal? Talvez, aumentando o paradoxo epicurista (já que foi de Epicuro), o mal é feito por Deus e Deus é mal. Mas como pode ser? O mesmo paradoxo pode sim ser acoplado dentro do espiritismo, pois, se o espirito nasce simples e ignorante, Deus um dia foi simples e ignorante. Então, se há ignorância e dessa ignorância, há o mal, como Deus pode ser onisciente?

O cristianismo resolveu isso com uma leitura enganosa ou tendenciosa, esse problema. Colocou um texto que eram reis – já que o termo hebraico “heliel” é um termo de elogio que foi traduzido para o latim como “lucifere” e que em português Lúcifer que significa “portador da luz” – como se fosse um querubim (os querubins são guardiões do trono de Deus) que era o portador de luz, sendo que, se ele era um querubim, não poderia ter sentimentos humanos. Na história, não só do ocidente, deuses ou seres divinos sempre tiveram sentimentos humanos e para mim, é muito estranho, pois, se são divinos e estão em um outro plano, deveriam já ter superado. Mas essa “inveja” que esse querubim teve de Deus é um sentimento de seres “caídos” ao materialismo e por outro lado, Lúcifer segundo a história que contaram ou uma delas, é que ele era o querubim mais querido e o mais perfeito. Ainda mais, foi ele que fez o mundo e ele deveria governa-lo, mas não foi, Deus preferiu amar um ser vindo do “pó” (sempre lembro da afirmação de Carl Sagan que viemos do pó das estrelas) e ele, Deus, lhe deram a alma. Na verdade, essa história está mal contada, porque em Pedro quem é Lúcifer é Jesus e em João, quem está no lado direito de Deus, como o “verbo” – que aliás, o termo grego “logos” é um termo bem abrangente para demonstrar até a “ciência” – era Jesus. Ainda por cima, dentro do espiritismo, há uma forte tendência de achar que quem construiu o planeta foi Jesus, portanto, o portador de luz é Jesus.

Os yazdi (curdos), tem uma visão interessante e ao mesmo tempo, essa visão é motivo para os islâmicos matarem eles. Esse querubim é o comandante dessa horda celeste ainda, ele é o mais poderoso e que não admitiu ajoelhar diante da criação de Deus e Deus o reverenciou dizendo que estava certo. É o Melek Taus ou melhor, “anjo pavão” que tem a ver com a origem do universo. Eles são acusados de adorar o “demônio” e muitas tribos ou clãs, acabam morrendo pelo fanatismo e da ignorância. Mas diante disso tudo, como posso conceber um ser divino, que tem inveja daquele que lhe fez e esse ser divino o ama? Quer dizer que não fez o que ele quis, o amor acabou e ele fica fazendo “pirraça” com a criação do seu “pai”? Então, é um querubim mimado que quer tudo para si, quer tudo que não pode ter? O problema é que quem tem uma natureza elevada nunca regride, porque você estuda e não deixa de estudar e volta para a ignorância.

Mas o que é conhecimento? O que é a ignorância? Sim, com o conhecimento vimos uma outra realidade – Platão expos isso em seu teorema da caverna – que não poderíamos perceber dentro do mundo social, porque o senso comum não há o que pensar. Na verdade, tudo que sabemos, tudo que somos e tudo que evolve a sociedade são meros pensamentos engendrados pelo poder dês de quando o ESTADO foi criado. Não sabemos o que é a realidade, não sabemos nem o que somos e nem se aquilo é verdade mesmo e se realmente aconteceu. Não podemos saber se o homem pisou mesmo na lua, se realmente, houve um ataque americano na Síria, isso é um ato de fé. Temos fé que o que nos informaram que o homem foi a lua, temos fé que informaram que o governo americano atacou uma base na Síria, porque não estamos lá. A verdade sempre é aquilo que colocamos como o que nossos olhos captam, porque se não for assim, podem te enganar como enganavam os humanos acorrentados na caverna como bem disse Platão. Aliás, um dos poucos pensamentos de Nietzsche que não concordo, é atrelar esse pensamento de Platão com a ideia metafisica e não é verdade. Platão estava falando em fatos concretos e diante dos nossos olhos, como mostrou o filme Matrix, não há uma realidade além o poder quer que tenhamos essa realidade como verdade.

Entre o conhecimento e a ignorância, há um mundo que nos aprimora ou nos aprisiona. No budismo, por exemplo, há o conceito que quanto mais temos o conhecimento, mais elevamos nosso ser e quando elevamos nosso ser, menos “tarefa” temos que praticar e se vivemos na ignorância, estamos sempre atrelados na roda de samsara. O futuro não interessa, mesmo o porquê, o futuro é o agora, nesse momento, neste instante que estou escrevendo esse texto que já se tornou, passado. A questão do budismo é o nosso ato enquanto ser que existe, porque a culpa de algo sair de errado é sua, se o seu futuro está errado foi o seu ato aqui no presente que descambou nesse futuro. Mas também, não interessa o futuro, não interessa se tenho milhões ou não, se tenho carros ou não, interessa o que eu sou e não o que a sociedade quer que eu seja. O “bem” para o budismo é o conhecimento que aquele ouro é uma ilusão, ele é só um minério e quando você morrer, não levara. Mas os budistas nem estão preocupados com a morte, porque o apego é o mal que gera o medo da perca, pois, o medo gera a raiva e a raiva te leva ao estado da ignorância. Parecido com o pensamento do mestre Yoda? Isso porque, os jedis foram construídos dentro do budismo, então, o conhecimento da FORÇA é importantíssimo, pois, a FORÇA vive dentro de nós.

Então, Deus é o conhecimento e o diabo é a ignorância? Se for assim, por que Deus proibiu de comer o fruto da ciência? Por que Prometeu foi castigado por Zeus por causa do fogo do conhecimento? Os gnósticos fizeram um engenho nisso para resolver isso, ou seja, quem fez tudo é o deus mal e por misericórdia, o deus bom mandou Jesus. Assim, o deus do velho testamento que matava, que tinha ciúmes, que sentia ódio, eliminava quem não concordava com ele, era o deus mal e o deus que mandou Jesus, é quem chamava de “abba” que era um termo aramaico que significa “pai”. Na verdade, essa história é muito confusa. Para eles existe um Deus maior que não pode entrar na matéria, ele criou o pleroma e junto se criou Sophia (sabedoria) e que ela queria muito conhecer esse deus, mas a membrana não poderia ser quebrada e ela cai no abismo. Nessa queda ela fica gravida de um outro deus e esse deus, continuou a criação. Ele é o deus que acha ser o deus verdadeiro, o Demiurgo que faz o mundo e tudo que conhecemos e ignora Sophia. Mas ainda assim, Sophia engendra o nosso lado espiritual (pneuma), onde manda Jesus para levar o ser humano para o lado de Sophia.

A questão gnóstica é bastante clara quanto o papel da sabedoria na elevação do ser humano a realidade, porque a realidade pode ter um outro lado, deve ter alguma porta para fora. A questão é que a sabedoria (sophia) quer penetrar o véu além da nossa realidade (pleoma), e nesse penetrar, a sabedoria cai num abismo e meio que ilude com outras coisas gerando o Demiurgo, que seria tudo que nós construirmos dentro dessa realidade, nosso ser falso, nossas coisas ilusórias. Jesus vem meio que para mostrar o caminho ao ser humano onde está a sabedoria, onde se tem que penetrar para encontrar a nossa origem. Então, chego à conclusão que Deus e o diabo simplesmente, é uma maneira de enxergar apenas algum sentido da vida e o dualismo gnóstico, ainda persiste de algum modo sem o simbolismo que fizerem eles serem eliminados, porque ninguém entendeu nada.


 Deus e o diabo é meramente humano e limitado em teologias rasas, porque existem gamas de coisas muito mais profundas do que isto. Acho que os budistas têm razão, o que importa é o agora, porque não há nada no mundo além do presente, aqui e o agora. O que achamos que tempo é uma entidade e não é, o tempo é somente gravidade e uma distorção do espaço como demostrou Einstein, então, o tempo que nos envelhece faz parte da realidade. Também, acho que Deus (vamos assim chamar), não é um velhinho em um trono de outro com um monte de gente dormindo em baixo, isso é apenas um simbolismo simplista. Acho que é a força criadora que não pode ficar na matéria, porque não se pode ficar dentro daquilo que criou. Porém, fica a dica, eu não sei se isso realmente é importante, porque o que estou buscando é o nosso aperfeiçoamento diante de tudo. Buscamos a verdadeira sabedoria e nessa busca, temos a ignorância (diabo) e depois, com vários erros, temos o conhecimento (lucifere), com a sabedoria (Deus) alcançamos a evolução verdadeira e definitiva. Mas concordo, a vida não tem propósito nenhum a não ser, nosso aprimoramento. 



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