Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Para começar esse texto, queria esclarecer algumas coisas
aqui. Para começar, quando digo Deus eu não me refiro Jesus de Nazaré que ficou
o deus-homem do cristianismo tradicional, mas eu me refiro a força criadora que
construiu a realidade no qual conhecemos, sem partir de religião nenhuma (mesmo
o porquê, as religiões mais confundem do que esclarecem por motivos óbvios). O
Deus que me refiro é o Deus que criou as coisas a partir do nada e por alguma
razão, ele se entediou e fez tudo para não terminar em si mesmo por toda a
eternidade. Ora, Deus não quis ser egoísta (na essência do termo) e ficar
somente nele a eternidade, então, fica difícil conceber um Deus que julga seres
humanos – que entre bilhões de estrelas é um ser entre milhares de seres que
povoam o universo – como se ele tivesse dado a vida para ser reverenciado. Esse
deus-rei é claramente um deus medieval ou um modelo de um deus judeu da época dos
reis, que ordenava o povo a reverenciar sua gloria eterna. Mas que tipo de deus
iria fazer um ser para te reverenciar? Deus muito pequeno, porque se Deus é
magnânimo, onisciente, onipotente e onipresente, não iria ter um sentimento tão
humano.
Muitos acham que há um paradoxo entre o deus abraâmico e o
deus amoroso jesuítico e essa discussão do mal foi uma discussão teológica por
muitos séculos. Mas antes mesmo dos cristãos os filósofos gregos já estavam
nessa discussão, porque há uma ilógica achar que um deus que transmite bondade,
fez todo o universo tenha feito também o mal. Epicuro foi um desses filósofos
que fez esse paradoxo, pois se deus é bom, se deus fez todas as coisas para dividir
essa bondade, por que ele fez o mal? Talvez, aumentando o paradoxo epicurista
(já que foi de Epicuro), o mal é feito por Deus e Deus é mal. Mas como pode
ser? O mesmo paradoxo pode sim ser acoplado dentro do espiritismo, pois, se o
espirito nasce simples e ignorante, Deus um dia foi simples e ignorante. Então,
se há ignorância e dessa ignorância, há o mal, como Deus pode ser onisciente?
O cristianismo resolveu isso com uma leitura enganosa ou
tendenciosa, esse problema. Colocou um texto que eram reis – já que o termo
hebraico “heliel” é um termo de elogio que foi traduzido para o latim como
“lucifere” e que em português Lúcifer que significa “portador da luz” – como se
fosse um querubim (os querubins são guardiões do trono de Deus) que era o
portador de luz, sendo que, se ele era um querubim, não poderia ter sentimentos
humanos. Na história, não só do ocidente, deuses ou seres divinos sempre
tiveram sentimentos humanos e para mim, é muito estranho, pois, se são divinos
e estão em um outro plano, deveriam já ter superado. Mas essa “inveja” que esse
querubim teve de Deus é um sentimento de seres “caídos” ao materialismo e por
outro lado, Lúcifer segundo a história que contaram ou uma delas, é que ele era
o querubim mais querido e o mais perfeito. Ainda mais, foi ele que fez o mundo
e ele deveria governa-lo, mas não foi, Deus preferiu amar um ser vindo do “pó” (sempre
lembro da afirmação de Carl Sagan que viemos do pó das estrelas) e ele, Deus,
lhe deram a alma. Na verdade, essa história está mal contada, porque em Pedro
quem é Lúcifer é Jesus e em João, quem está no lado direito de Deus, como o
“verbo” – que aliás, o termo grego “logos” é um termo bem abrangente para
demonstrar até a “ciência” – era Jesus. Ainda por cima, dentro do espiritismo,
há uma forte tendência de achar que quem construiu o planeta foi Jesus,
portanto, o portador de luz é Jesus.
Os yazdi (curdos), tem uma visão interessante e ao mesmo
tempo, essa visão é motivo para os islâmicos matarem eles. Esse querubim é o
comandante dessa horda celeste ainda, ele é o mais poderoso e que não admitiu
ajoelhar diante da criação de Deus e Deus o reverenciou dizendo que estava
certo. É o Melek Taus ou melhor, “anjo pavão” que tem a ver com a origem do
universo. Eles são acusados de adorar o “demônio” e muitas tribos ou clãs,
acabam morrendo pelo fanatismo e da ignorância. Mas diante disso tudo, como
posso conceber um ser divino, que tem inveja daquele que lhe fez e esse ser
divino o ama? Quer dizer que não fez o que ele quis, o amor acabou e ele fica
fazendo “pirraça” com a criação do seu “pai”? Então, é um querubim mimado que quer
tudo para si, quer tudo que não pode ter? O problema é que quem tem uma
natureza elevada nunca regride, porque você estuda e não deixa de estudar e
volta para a ignorância.
Mas o que é conhecimento? O que é a ignorância? Sim, com o
conhecimento vimos uma outra realidade – Platão expos isso em seu teorema da
caverna – que não poderíamos perceber dentro do mundo social, porque o senso
comum não há o que pensar. Na verdade, tudo que sabemos, tudo que somos e tudo
que evolve a sociedade são meros pensamentos engendrados pelo poder dês de
quando o ESTADO foi criado. Não sabemos o que é a realidade, não sabemos nem o
que somos e nem se aquilo é verdade mesmo e se realmente aconteceu. Não podemos
saber se o homem pisou mesmo na lua, se realmente, houve um ataque americano na
Síria, isso é um ato de fé. Temos fé que o que nos informaram que o homem foi a
lua, temos fé que informaram que o governo americano atacou uma base na Síria,
porque não estamos lá. A verdade sempre é aquilo que colocamos como o que
nossos olhos captam, porque se não for assim, podem te enganar como enganavam
os humanos acorrentados na caverna como bem disse Platão. Aliás, um dos poucos
pensamentos de Nietzsche que não concordo, é atrelar esse pensamento de Platão
com a ideia metafisica e não é verdade. Platão estava falando em fatos concretos
e diante dos nossos olhos, como mostrou o filme Matrix, não há uma realidade
além o poder quer que tenhamos essa realidade como verdade.
Entre o conhecimento e a ignorância, há um mundo que nos
aprimora ou nos aprisiona. No budismo, por exemplo, há o conceito que quanto
mais temos o conhecimento, mais elevamos nosso ser e quando elevamos nosso ser,
menos “tarefa” temos que praticar e se vivemos na ignorância, estamos sempre
atrelados na roda de samsara. O futuro não interessa, mesmo o porquê, o futuro
é o agora, nesse momento, neste instante que estou escrevendo esse texto que já
se tornou, passado. A questão do budismo é o nosso ato enquanto ser que existe,
porque a culpa de algo sair de errado é sua, se o seu futuro está errado foi o
seu ato aqui no presente que descambou nesse futuro. Mas também, não interessa
o futuro, não interessa se tenho milhões ou não, se tenho carros ou não,
interessa o que eu sou e não o que a sociedade quer que eu seja. O “bem” para o
budismo é o conhecimento que aquele ouro é uma ilusão, ele é só um minério e
quando você morrer, não levara. Mas os budistas nem estão preocupados com a
morte, porque o apego é o mal que gera o medo da perca, pois, o medo gera a
raiva e a raiva te leva ao estado da ignorância. Parecido com o pensamento do
mestre Yoda? Isso porque, os jedis foram construídos dentro do budismo, então,
o conhecimento da FORÇA é importantíssimo, pois, a FORÇA vive dentro de nós.
Então, Deus é o conhecimento e o diabo é a ignorância? Se
for assim, por que Deus proibiu de comer o fruto da ciência? Por que Prometeu
foi castigado por Zeus por causa do fogo do conhecimento? Os gnósticos fizeram
um engenho nisso para resolver isso, ou seja, quem fez tudo é o deus mal e por
misericórdia, o deus bom mandou Jesus. Assim, o deus do velho testamento que
matava, que tinha ciúmes, que sentia ódio, eliminava quem não concordava com
ele, era o deus mal e o deus que mandou Jesus, é quem chamava de “abba” que era
um termo aramaico que significa “pai”. Na verdade, essa história é muito
confusa. Para eles existe um Deus maior que não pode entrar na matéria, ele
criou o pleroma e junto se criou
Sophia (sabedoria) e que ela queria muito conhecer esse deus, mas a membrana
não poderia ser quebrada e ela cai no abismo. Nessa queda ela fica gravida de
um outro deus e esse deus, continuou a criação. Ele é o deus que acha ser o
deus verdadeiro, o Demiurgo que faz o mundo e tudo que conhecemos e ignora
Sophia. Mas ainda assim, Sophia engendra o nosso lado espiritual (pneuma), onde
manda Jesus para levar o ser humano para o lado de Sophia.
A questão gnóstica é bastante clara quanto o papel da
sabedoria na elevação do ser humano a realidade, porque a realidade pode ter um
outro lado, deve ter alguma porta para fora. A questão é que a sabedoria
(sophia) quer penetrar o véu além da nossa realidade (pleoma), e nesse
penetrar, a sabedoria cai num abismo e meio que ilude com outras coisas gerando
o Demiurgo, que seria tudo que nós construirmos dentro dessa realidade, nosso
ser falso, nossas coisas ilusórias. Jesus vem meio que para mostrar o caminho
ao ser humano onde está a sabedoria, onde se tem que penetrar para encontrar a
nossa origem. Então, chego à conclusão que Deus e o diabo simplesmente, é uma
maneira de enxergar apenas algum sentido da vida e o dualismo gnóstico, ainda
persiste de algum modo sem o simbolismo que fizerem eles serem eliminados,
porque ninguém entendeu nada.
Deus e o diabo é
meramente humano e limitado em teologias rasas, porque existem gamas de coisas
muito mais profundas do que isto. Acho que os budistas têm razão, o que importa
é o agora, porque não há nada no mundo além do presente, aqui e o agora. O que
achamos que tempo é uma entidade e não é, o tempo é somente gravidade e uma distorção
do espaço como demostrou Einstein, então, o tempo que nos envelhece faz parte
da realidade. Também, acho que Deus (vamos assim chamar), não é um velhinho em
um trono de outro com um monte de gente dormindo em baixo, isso é apenas um
simbolismo simplista. Acho que é a força criadora que não pode ficar na matéria,
porque não se pode ficar dentro daquilo que criou. Porém, fica a dica, eu não sei
se isso realmente é importante, porque o que estou buscando é o nosso aperfeiçoamento
diante de tudo. Buscamos a verdadeira sabedoria e nessa busca, temos a ignorância
(diabo) e depois, com vários erros, temos o conhecimento (lucifere), com a
sabedoria (Deus) alcançamos a evolução verdadeira e definitiva. Mas concordo, a
vida não tem propósito nenhum a não ser, nosso aprimoramento.
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