Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Vendo toda essa polemica do ataque norte-americano na Síria
– após um suposto ataque químico do ditador Assad a população – lembrei da
frase de um dos membros do ANER (Associação Nacional de Editores de Revista)
que saiu numa matéria online do jornal Meio&Mensagem de 4 de abril. O então
membro (Marcelo Rech) disse: “Pós-verdade parou glamour das redes sociais” e
outras coisas foram ditas nesse mesmo evento como a frase de Carlos Eduardo
Lins da Silva, que foi ombudsman da Folha de S. Paulo e é jornalista: “Notícias
falsas sempre existiram, mas criou-se uma indústria da pós-verdade com as
mídias sociais, que utilizam recursos de geolocalização de anúncios e remuneram
quem tem mais compartilhamentos”. Será mesmo que estão preocupados com a
“pós-verdade” ou estão preocupados da superação das revistas e jornais? Vamos
ser verdadeiros, quem espalha tão sinistramente, explorando o medo da população
do que a mídia em geral? Quantos links abrimos para saber o que estava escrito
nos jornais online e não era nada daquilo que estava sendo mostrado no nome?
Isso eram veículos respeitados e de bastante tradição no meio da comunicação.
Nós podemos até analisar de forma crítica – como bons amigos
do saber – o que seria “pós-verdade” e o impacto que ela tem dentro da
informação nas redes sociais. Dizemos o que é “pós-verdade” tudo aquilo que se
quer passar com uma dose bem exagerada de sentimentalismo e não de forma
apenas, como informativo racional. Depois que um site cientifico, Universo
Racionalista, anda postando notícias e textos de pós-verdade, nada me
surpreende nessa internet. Na verdade, o termo “pós-verdade” virou uma espécie
de “clichê” para notícias que não são verdade, mas histórias que estão além daquilo
que é mostrado. Como os milhares de teorias da conspiração, várias teorias das
famílias que dominam o mundo, milhares de teorias ufológicas e por aí vai ao
infinitum. Mas não é nada disso, um termo como “pós-verdade” é muito mais
refinado, são informações que tem um exagero sentimental muito grande. Será que
é só blogs de “fake news” fazem isso? Será que hoje os veículos de comunicação não
usam isso para serem mais lidos?
Quando uma notícia de uma das minorias – no qual faço parte
como uma pessoa deficiente física – sempre há um ar de sentimentalismo por
causa da condição que se criou em volta dessa minoria. Por exemplo, sempre há
pessoas com eficiência que choram ou contam sua vida como se interessasse para
alguém a vida de um cara ou uma moça, que tem alguma deficiência. Claro, que um
caso ou outro, não acho errado, mesmo o porquê, há casos que se tem que relatar
para acontecer uma certa conscientização, mas achar que o mundo tem que chorar
por isso, chega a ser doente. Sempre o problema da humanidade e o
sentimentalismo, a maneira meio “piegas” que as pessoas ainda enxergam essas
situações. De alguma maneira, essa briga política no meio facebookiano, é uma
derivação dessa visão sentimentalista de defender aquilo que está em voga ali
naquele momento. Mas você pode muito bem perguntar: como assim? Como a discussão
de direita e esquerda pode ser um sentimentalismo? Só pelo simples fato de
acharmos que um ato de corrupção só estará em um partido e em todo ele – há membros
realmente, honestos sim – já prova que há um dever moral de levar a discussão num
parâmetro totalmente, pessoal. Política não é algo pessoal, porque é um assunto
coletivo, um assunto que envolve o bem-estar de bilhões de pessoas em todo o
planeta Terra, e estará, além da calçada da sua própria casa. A polarização de
um assunto tão importante é sim, sentimentalizar esse assunto.
Você jogar um suposto “glamour” onde nunca houve nenhum, é
sim, tão tendencioso quanto você usar o sofrimento de pessoas, num
sentimentalismo sem noção nenhuma. Esse assunto sempre entrou na pauta da mídia
e sempre vai entrar, porque todos nós sabemos, que editores sentem medo das
suas profissões acabarem. Por que será que o Orkut despertava tantas polemicas?
Por que será que casos de pessoas que se conheceram nas redes sociais, viravam
manchetes nos telejornais policiais? Eu sei e você sabe, muito bem, que pessoas
que se conhecem pessoalmente de uma rede social, são de menor número do que
pessoas que se conhecem em uma balada, por exemplo. Então, essa “implicância”
com as redes sociais são coisas tendenciosas sim, mas é claro, que existem
pessoas que usam as redes sociais para fazerem certas coisas não éticas. Está cheia
de pessoas misóginas, pessoas pedófilas ou pessoas de qualquer tipo de caráter (sim,
isso tem a ver com o caráter, aquilo que ele é), mas não muito diferente do que
uma saída para tomar cerveja num barzinho, ou numa balada, ou até num “rave” de
uma turma de faculdade. Tratar isso num nível não racional e sim, num nível problemático
e nojentamente, sentimentalista, não é o caminho.
Agora, num modo muito mais racional da frase, claro que
estamos na era da pós-verdade e isso é incentivado sim, pelas revistas que o
condenam. Quantas matérias da própria Veja são exageradas? Quantas matérias da
Carta Capital, são tendenciosas? Quantas matérias da Folha de S. Paulo (online são
impossíveis de ler com tanta burocracia da Folha), são matérias para vender
jornal apenas? Eu até acho “graça” quando um editor solta uma frase dessa que
mostra o quanto estamos caminhando para o fim, o fim da era da mídia escrita
que não é bom ou ruim, é a evolução inevitável. Como publicitário – o meio não me
aceitou por causa de aparências que não compota um publicitário – acho que a comunicação
e a informação são meios importantes dentro de qualquer povo. Não à toa, os
reis antigos deixavam seus bardos entoarem canções, os primeiros cristãos levaram
a “boa nova” para longe, Roma construiu um império se comunicando de algum
modo. Esses exemplos mostram, que a comunicação era e é importante ´para a
humanidade e não pode estar fechada a alguns interesses do 5º poder. E sinto decepcionar
o caro editor de revista – de algum modo, somos colegas porque sou editor do
meu blog – as pessoas não estão nem um pouco interessadas em notícias e sim, estão
interessas na vida do outro, na vida do seu ídolo. Muitas poucas pessoas estão interessadas
em política, muito poucas pessoas estão interessadas em aprender alguma coisa
na internet, muito poucas pessoas sabem usar as ferramentas de procura. Eu,
sinceramente, nunca vi glamour nenhum em nada popular ou que tenha caído no
gosto da maioria – vide o Orkut que teve um fim trágico e solitário – porque se
começa a ser vinculado falas e pensamentos que só ficavam em periferias e isso,
ao meu ver, não tem nada de conhecimento.
Ai que se gera a confusão, conhecimento é diferente do que informação.
Conhecimento é aquilo que se aprende entendendo a informação, que só tem o
papel de informar um dado fato que esteja acontecendo. A pouco tempo atrás, eu não
sabia que existiam bandas africanas e eu aprendi no MuseuAfroBrasil aqui de São
Paulo, que tirou esse preconceito de mim e fez eu me informar e dessa informação,
eu fiz disso um conhecimento. O termo informática (computing), tem como significado
informação automática, que pelo visto, o editor que quer glamourizar as redes
sociais, não sabe. Mas informar é diferente do que ter o conhecimento daquilo,
informar é narrar um fato acontecido e saber que aquele fato narrado, teve
alguma história por traz. Então, por outro lado, não podemos ser ingênuos em
achar que as redes sociais foram idealizadas e construídas para o “bem da
humanidade” ou para informar o mundo de tudo e de todos; mas a maioria, foram
redes de comunicações comerciais, foram experiências tecnológicas para ganharem
dinheiro. Vendo a história do Facebook, por exemplo, que glamour existe em uma
rede social que começou com a exposição da garota que não quis nada com seu
fundador? Que glamour existe numa rede social de cento e alguma coisa
caracteres que nem dá para glamouriar muito? Patético!
A questão é que empresas de mídia sempre acham que somos ingênuos
em não perceber que a questão é muito além. As revistas e meios de comunicação não
são concessões governamentais? Sem o
financiamento do governo, um meio de comunicação não é nada e por outro lado, o
ESTADO brasileiro tem uma obsessão fantástica de ser controlador em tudo, burocratizar
tudo. Vai que eu contrario interesses, né? A “glamourização” das redes sociais
tem seus interesses, tem sua lógica, tem a sua “imposição”.
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