sábado, 13 de maio de 2017

A visão da inclusão de um cadeirante anarquista





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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

O que acontece dentro da nossa cultura – principalmente, dentro do mundo político nacional de gestão pública – é confundir o conhecer e o ser. Conhecer sempre é um esclarecimento sobre determinado assunto e determinada espécie de pessoa, o ser é o que se é e o que você pode ser. A título de exemplo, podemos pegar um engenheiro que faz uma adaptação dentro de um ônibus ou dentro de uma van (de serviços desse tipo), ele pode conhecer as normas da ABNT, mas ele não pode saber o que cada deficiência necessita para ter um transporte de verdade e mais ou menos, confortável. Isso exige um estudo muito mais aprofundado sobre a ergonomia das deficiências físicas, deficiências sensoriais e deficiências cognitivas e mentais. Não basta conhecer as adaptações, tem que conhecer a realidade de cada pessoa que usa e vai ser “beneficiada” por aquela adaptação ou aquela acessibilidade.

Diante disso nós, seres pensantes, podemos perguntar o que é acessibilidade. Muitos irão responder, que acessibilidade são atitudes de arrumar rampas, portas, sanitários e fazer algumas adaptações dentro de uma dada situação, para as pessoas com deficiência terem uma certa autonomia dentro da via pública, prédios ou lugares. Mas o que a maioria não sabe é que acessibilidade quer dizer “facilidade na aproximação” no tratamento (aquilo que se é tratado) ou na aquisição (aquilo que se adquiri) diante de certa situação. Então, podemos concluir que o termo acessibilidade está muito próximo de inclusão, pois, se acessibilidade é uma facilidade de aproximação, seja do tratar, seja na aquisição, a inclusão é o meio de incluir. Mas temos que analisar mais de perto essa inclusão, porque devemos incluir aquilo que se excluiu da sociedade e ao que parece, não somos excluídos e não nascemos fora da sociedade. Melhor ainda, não ser aceito não é o mesmo que exclui, mas não ser aceito é ser discriminado que é diferente de excluído.

No livro Sapiens – Uma breve história da humanidade do historiador israelense Yuval Noah Harari, está que mesmo que o ser humano tenha tido a revolução da agricultura – que para o autor foi um erro – nós ainda não tivemos tempo de evoluir de caçadores-coletores e continuamos com as mesmas coisas inconscientemente. Daí tudo se encaixa, se interna idosos em asilos porque eles “vão atrapalhar o bando”, se discrimina as pessoas com deficiência pelo mesmo motivo. O que mudou entre nós e os caçadores-coletores? Quase nada, porém, os caçadores-coletores não tinham o problema de se submeter para governos que não resolviam seus problemas e por outro lado, nós seres humanos, pouco ou muito, temos a consciência. O nosso raciocínio se deveu, em sua maior parte, a essa consciência (com conhecimento), e graças a ela, se deveu a frase mais conhecida do filósofo francês Rene Descartes “penso, logo existo”. Quando percebemos a nossa realidade e que pensamos, segundo a frase de Descartes, a única coisa que não podemos duvidar é da nossa própria existência. O “EU SOU”. Assim, portanto, não tem como alguém ainda ter a consciência de um sapiens de 100 mil anos atrás, porque o sapiens moderno e o sapiens pré-histórico são dois seres diferentes.

Se o sapiens moderno tem a plana consciência do “eu sou”, então, por que ainda existe duvidas que nós, pessoas com alguma deficiência, temos necessidades para essa aproximação com a sociedade?  Porque, acontece, que as pessoas não entendem que se eu tenho consciência (eu sou) da deficiência que tenho, por exemplo, eu sei das limitações que eu vivo e sei se o meu bairro supre toda essa acessibilidade. Porque não supre. Para andar de ônibus, tenho que andar um quarteirão, andar em ruas esburacadas, tenho que atravessar avenidas e contar com a sorte de ter ônibus adaptado na linha onde quero ir. Isso que São Paulo existe uma certa acessibilidade, porque existem lugares que por mais que se exija por lei, a lei nunca é cumprida. Se não tem como pegar ônibus não podemos sair? Se não temos lugares acessíveis, não podemos andar com nossas cadeiras de rodas? O ESTADO arruma a solução dando o prazo para o próprio ESTADO acessibilizar as escolas, acessibilizar o transporte, acessibilizar os prédios públicos, que muitas vezes, se prorroga ao infinito. Fora que fazem leis para a iniciativa privada se adequar as nossas necessidades, nos empregar naquilo que nos formamos, mas além de não haver nenhuma fiscalização, ainda a iniciativa privada não cumpre a forma básica da lei de cotas, empregar no que as pessoas com deficiência estão formadas.

A gestão estatal, que tanto nosso povo “ama”, fracassou dês do começo da revolução da agricultura. Interesses foram mantidos, nós como pessoas incapazes de produzir e incapazes de ter autonomia para se locomover, muitos foram mortos. Nós não éramos aptos a serem soldados, morríamos no abismo espartano. Nós não poderíamos produzir bens ou sermos filósofos, sermos políticos, então, éramos deixados para morrer comidos por animais selvagens. Povos e mais povos nos viam como uma maldição ou como demônios, éramos escravos ou “bode expiatório” de situações que eram erros do próprio povo e suas crenças. Além de não sermos dignos nem de aproximação do altar de Deus por sermos impuros.

Dentro dessas crenças, sempre o ser humano julgou o diferente como algo “bizarro”, que sai da natureza do “normal”. O discurso da normalidade é um discurso sempre do ESTADO para padronizar aquilo que ele acha que é importante, para sustentar a sua “máquina” de ter recursos para sua própria manutenção. Não importa o regime, o que importa para o ESTADO é que você produza para ele converter em bens próprios para agradar os poucos que elegeram com benefícios paliativos. O homem criou aquilo que te escraviza, um meio para ser governado e esse governo molda tudo aquilo que ele é e o que ele pode ser ou não. Eu sei dos meus limites, todos nós sabemos dos nossos próprios limites, então, não precisamos de conselhos e secretarias para nos representar se nem eles sabem o que necessitamos.

Aqui em São Paulo existe um transporte a mais que a 21 anos nunca foi ampliado e nunca foi modernizado, só é uma “casinha” nos fundos da SPTrans (São Paulo Transporte). O ATENDE – seriam vans acessíveis que na teoria, era para atender quem realmente não poderia andar de ônibus – atende de semana para transporte de pessoas para trabalho, tratamento fisioterapêutico, isso é o regular (modalidade principal). Existe a modalidade do EVENTUAL que é uma vez por mês para levar em consultas (como se houvesse só uma consulta ao mês), com o prazo de 20 dias (as consultas não são marcadas 20 dias antes nunca). E existe os eventos que são apenas 160 vans para mais de 20 movimentos, aproximadamente. Existem, em estimativa, trezentas e algumas vans para carregar mais de 10 mil ou mais pessoas com deficiências. Ora, primeiro podemos perguntar: diante de tantas pessoas com deficiência – mesmo na moderação eventos – como podemos permitir não ter serviço em alguns feriados? Como podemos abrir mão do serviço toda vez que há o evento Teleton? Daí eu volto a definir o poder público como o poder fracassado nesse requisito, porque a 21 anos existe o mesmo número de vans, a 21 anos existe os mesmos vícios (como se eles fizessem um favor para nós, mas eles são pagos com nossos impostos), as vans não são conservadas – todas vão para o conselho municipal que tem preferência de vans melhores e motoristas melhores entre outros movimentos – e eles fazem o que querem e atendem quem eles acham que devem. Agora eu pergunto: os motoristas de ônibus têm algum feriado junto com outros funcionários da SPTrans? Chegamos na questão ética e ao mesmo tempo em um paradoxo, pois, ao mesmo tempo que eles têm o direito de ter esse feriado, eu tenho o direito de sair garantido por lei na constituição federal.


Diante disso tudo, eu posso estar muito seguro no que vou dizer, eu não desejo votar em ninguém porque nenhum partido, nenhum governante, tem o meu voto. Mesmo o porquê, não há nenhum plano efetivo para melhorar o país inteiro para as pessoas com deficiência em acessibilidade e a inclusão. Sempre nossas prioridades ficam para depois, sempre nós ficamos esperando e quanto mais reivindicamos, mais ficamos à mercê de políticas oportunistas e que nada tem a ver com a verdadeira meta do cidadão com deficiência. 



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