domingo, 7 de maio de 2017

Cadeirante quer ser assediada?




Resultado de imagem para assedio de mulheres com deficiência





Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Eu não iria escrever mais sobre o segmento das pessoas com deficiência, mas, eu não posso deixar de dar algumas respostas dentro do segmento das pessoas com deficiência sobre certos assuntos. No artigo que eu li primeiramente no blog do Casa Adaptada, que está no blog Blogueiras Feministas e foi traduzido lá pela sua editora, Bia Cardoso. O artigo é da norte-americana cadeirante Kayla Whaley com o título: “Nobody Catcalls The Woman In TheWheelchair“ que em português ficou: “NINGUÉM ASSOVIA PARA A MULHER NA CADEIRADE RODAS”.

Claro, que algumas feministas mais radicais podem criticar um texto escrito por homem, mas, como fui testemunha de um assédio bem na minha frente, eu acho que tenho propriedade o bastante de escrever sobre o assunto. A pergunta do título tem tudo a ver com o texto, porque é exatamente o que Kayla quer, ser assediada ou desejada, o que ela não sabe, é o estado psicológico que as mulheres passaram por isso sentem. Ela não sabe que é uma mulher sortuda, uma mulher que não teve traumas e esses traumas não a levaram ao estado de desespero ao ponto de chorar compulsivamente, querer justiça e nunca essa justiça veio, o que ficou só foi um lapso de retração. Ela deveria agradecer, o assovio seria um começo de algo pior, até um estupro, uma violência muito maior. Como sou um libertário, isso se chamaria agressão ao PNA (Pacto de Não Agressão), porque, é um direito dela querer o assovio, mas, porém, as outras não querem.

Vamos a resposta ao texto.

Ela escreveu: “Dentro dos espaços feministas, é assumido que #TodasAsMulheres experimentam assédio em locais públicos. As maneiras pelas quais esse assédio se manifesta — a idade em que começa, sua intensidade ou forma, as consequências de denunciar — podem variar dependendo das diferentes características da pessoa. ”

O assédio se manifesta sempre com a ideia patriarcal (vulgo machismo), domina os meios culturais. Isso não é uma coisa saudável, porque na adolescência pode trazer traumas mais do que horríveis para as mulheres que sentem vergonha do próprio corpo. Mas ela continua no mesmo parágrafo:  “Mas todas as mulheres, segundo nos dizem, conhecem o medo, a vergonha e/ou a raiva que vem junto com a atenção sexual indesejada.”. A resposta é óbvia, dizem a ela porque aconteceu, é o que elas sentem.

Continuando: “É compreensível a existência dessa presunção. ”
Segundo o dicionário Google (ironia), presunção é aquilo que se supõem ou melhor, “suposição que se tem por verdadeira.”. Então, fica uma pergunta no ar: quem quer ter a presunção de ser assediada na rua? Mais ainda, quem está “supondo” um assédio se esses assédios aconteceram? A autora parece não saber a diferença de “supor” e ter “certeza”, como se ela duvidasse que essas mulheres foram realmente, assediadas.
A autora continua: “É mais fácil construir discussões dinâmicas internas a partir da sólida base de uma experiência em comum. ”
A autora parece achar que é excluída da turma, como se ela fosse a única que não teve um namorado, a única que não foi olhada. Isso não é capacitismo (discriminação por pessoas com deficiência), mesmo o porquê, você achar que não foi assoviada não quer dizer que não foi reparada. O assédio por mulheres cadeirantes sempre são – na maioria das vezes – na calada da noite, em lugares que ela (a Kayla), nem imagina.
A “inocente” autora continua: “Eu sou uma mulher de 26 anos de idade que nunca fui assediada na rua. Eu nunca recebi assovios em meu caminho para a escola, ninguém buzinou para mim num estacionamento, ninguém me olhou de forma maliciosa num trem, não me apalparam na fila da Starbucks, ou qualquer outro tipo de assédio sexual que ocorrem em locais públicos. ”
Com 26 anos tem muito do que viver, é jovem, muitos textos que irá escrever vai ser de outro cunho e quando olhar esse texto, com toda certeza, se arrependerá. Como disse acima, não ser assoviada não quer dizer que não foi reparada, por outro lado, é um texto de tom infantil (como todo texto de pessoas com deficiência). Primeiro, se ela quer ser reparada essa visão de “coitadismo” não vai resolver, o negócio é mudar o comportamento e parar com essa visão “infantil” de achar que ser bonito e reparado é muito importante. A questão é que não é importante, você se sentir ser humano e achar que é feliz por ser você mesmo, é o importante. Segundo, querer que alguém olhasse de forma maliciosa e passasse a mão nela numa fila é patológico, beira a ser sadomasoquista por algum carinho (sendo que o sadismo é uma compulsão de rejeição daquilo que é).
No texto: “Eu não sei o que são o medo, a vergonha e/ou a raiva que vêm junto com a atenção sexual não desejada. Entretanto, uma parte de mim, que não é insignificante, deseja sentir isso. ”
Eu não sou mulher – podem até não acreditarem – mas se uma mulher insiste em querer algo, eu rejeito por ser compromissado e porque não sou obrigado a nada, nem ser “machinho da mamãe”. Eu acho que o normal do ser humano (quando não é alienado), é sempre rejeitar aquilo que ele é obrigado a querer, não obrigado é mais aceitável. Por isso sempre enfatizamos a “conscientização” ao invés da militância cega e desmedida, que ao invés de chamar as pessoas a lutarem conosco, começam a nos olharem com rejeição. A Kayla desejar ter isso é diferente dela querer, desejar é tudo aquilo que não necessitamos, queremos só por pura aceitação social. Claro que ela é humana, mas querer um “assédio” para ser sexualmente, desejada, é uma coisa doentia e podem se tornarem compulsivas. Sexo sem amor ou algum afeto, é instinto e o instinto é animal, somos animais conscientes (com conhecimento), amamos e devemos ser amados.
Lá no texto: “Eu não sou excepcionalmente sortuda, nem estou exagerando, ou sublimando isso tudo. Eu sou uma usuária de cadeira de rodas: uma mulher que visivelmente tem uma deficiência física.”
Repararam como a Kayla sempre enfatiza a deficiência? Além de enfatizar a deficiência, ainda enfatiza a sua cadeira de rodas. Ela visivelmente, não acha que é uma pessoa como outra qualquer, porque sempre vai enfatizar sua deficiência e sua cadeira de rodas. O problema, como disse uma colega um tempo atrás, é que tudo que as pessoas com deficiência fazem são taxadas de extraordinárias pelos próprios deficientes. Ser mãe, ganhar medalha de ouro, praticar algum esporte, até namorar, para os deficientes é algo extraordinário, quase um milagre de Deus, e não é bem assim. Essas coisas só mostram que é normal fazemos, somos seres humanos e podemos fazer como todo mundo e ser mãe, ser esportista, ser namorado ou namorada de alguém, não é nada de extraordinário e sim, ser um humano como outro qualquer. Assédio não é bom, é invasão e toda invasão é uma violência.
“E, minha cadeira de rodas age como um estranho tipo de campo de força. As pessoas veem primeiro a “deficiente” antes de perceberem a “mulher”, e a primeira impressão é a que fica, porque em nossa sociedade capacitista um corpo com deficiência é automaticamente um corpo dessexualizado. Somos pessoas grotescas ou trágicas, excêntricas ou anjos, existimos para sermos temidos ou lamentados dependendo de como o olhar capacitista nos vê naquele dia. Porém, não importa como nos olham, não somos desejáveis. ”
A cadeira de rodas é um assessório que nos auxilia a se locomover, mas é claro que há um arquétipo (uma imagem projetada como verdade universal, mas é uma ilusão coletiva), da imagem da cadeira de rodas como um assessório de pessoas doentes. Até hoje temos um vício de linguagem de dizer que “o meu problema” é paralisia cerebral, por exemplo, e não “minha deficiência” como se a deficiência fosse um “problema”. Acho que quem não aceita a cadeira de rodas é a Kayla e não os outros, porque há uma grande discussão em torno da imagem de perfeição que a mídia prega, mas que a aceitação só pode ser feita pela própria pessoa com deficiência. Então, achar que a cadeira de rodas é um campo de força que nos deixa invisíveis, não vai trazer aceitação, porque a atitude de aceitação começa com a autoaceitação. Se sabemos que temos um corpo “assexuado” por que provar ou não para os outros se somos ou não? Temos que dizer para quem interessa, nosso companheiro, alguém que queremos conquistar.
“Alguma parte traiçoeira e insistente de mim obviamente acreditava que eu nunca poderia atrair nenhum homem decente, sendo assim, atrair os piores tipos de homens era o melhor que eu poderia esperar. Se eu não conseguisse fazer nem mesmo isso, então talvez realmente meu corpo fosse totalmente inútil. ”
Lamentável. “Mendigar” carinho conquistando os “piores tipos” é como comer o resto da comida dos outros, não tem amor próprio.

“Apesar das melhores intenções, a forma como as feministas tendem a discutir o assédio em locais públicos, como um fato concreto para todas, reforça conceitos capacitistas dentro do feminismo, porque é apenas um elemento da questão se o seu corpo é visto pelo patriarcado como um objeto sexual. O meu não é.”

Não vai ser nunca, aceite. Acontece que a Kayla como outras mulheres com deficiência são vistas como “meninas grandes”, mesmo que existe uma atração elas são rejeitadas. O que acontece é que o mundo não vai mudar por causa que ela está sendo rejeitada, mas ela próprias pode mudar e deve mudar.

“Reconhecimento. Isso é tudo que eu peço.”

Depois de tudo isso ela quer reconhecimento. Entenderam o porquê o segmento não é levado a serio e somos taxados como crianças?


Sem mais. 


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