segunda-feira, 29 de maio de 2017

Por que eu não vou na REATECH?




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

A uns 17 anos, existe uma feira de tecnologia inclusiva – voltada as pessoas com deficiência – chamada REATECH. Muitos anos venho frequentado esse tipo de feira, afinal, esse tipo de feira tem o intuito mostrar novas tecnologias para o bem-estar das pessoas com deficiência. Aqui em São Paulo, é a maior feira tecnológica que existe, embora, as feiras europeias são muito mais acessíveis e muito mais voltadas a essa demanda de público – que realmente, vai para esse tipo de evento para ver essa tecnologia – e traz sempre novidades, banheiros são verdadeiros, não há tumulto e nem excesso de má educação.

Só para esclarecer eu vou explicar o que é tecnologia. Tecnologia vem do grego τεχνη (tecné) que quer dizer “técnica, arte, oficio” com λογια (logos), onde seu significado quer dizer “estudo”. Ora, tecnologia é o estudo da técnica de aperfeiçoamento de sempre haver ofícios de melhoramento dessas técnicas. Isso tem a ver com o conhecimento dessas técnicas e o quanto essas técnicas podem, por ventura, ajudar o ser humano a sempre superar aquilo que dificulta o seu limite que ali só ele chega. Isso tem a ver com a epistemologia (do grego πιστήμη [episteme]: conhecimento científico, ciência; λόγος [logos]: discurso, estudo de), que é um ramo dentro da filosofia que trata os limites do conhecimento humano, principalmente, quando se trata entre as relações que se estabelecem entre o objeto do conhecimento e o sujeito. Pode ser também chamado de teoria do conhecimento ou gnosiologia (também grafado gnoseologia; do grego gnosis, 'conhecimento', e logos, 'discurso”), em um sentido muito mais restrito, se refere as condições sob as quais se pode produzir o conhecimento cientifico e dos modos para alcançá-lo. Sempre avaliando a consistência lógica das teorias, se identificar com a filosofia cientifica. Exatamente é o caso da filosofia cientifica, porque se trata de tecnologias que facilitam a vida das pessoas com deficiência.

Uma cadeira de rodas comum como eu uso tem um estudo muito importante da técnica de durabilidade (que nunca é respeitada no Brasil), da ergonomia (que é o estudo cientifico das relações entre o homem e a máquina, sempre visando, segurança e eficiência ideais no modo com um à outra interação), que pode ser muito bem visto, quando nos posicionamos melhor em uma cadeira e podemos nos deslocar de maneira mais eficiente. Portanto, o estudo tecnológico e ergonômico das tecnologias inclusivas, devem ser muito bem vistas e bem analisadas, temos que ter um senso crítico muito bem apurado, muito bem analisado.  O que adianta achar bonita uma cadeira de rodas se não serve para o deficiente? O que adianta adaptações inúmeras, se essas adaptações são bonitinhas, mas não são eficientes para as pessoas cadeirantes? Acontece que o nosso segmento (pessoas com deficiência), não tem nenhum senso crítico, nenhum senso que você não está lá para se divertir, mas está lá para ver a tecnologia que vai ajudar outras pessoas. Acontece que tudo vira uma “Disneylândia” para esse segmento, aqui tudo vira fraco e sem uma opinião consistente.


Acontece que as pessoas de tanto serem “infantilizadas” elas acabam sendo infantis mesmo assim. Só vê os assuntos que caem nas pautas dos youtubers do segmento, só ler os textos dos escritores do segmento, só olhar como cada pessoa com deficiência se relaciona no mundo. Por que para mostrar que eu tenho sexualidade eu tenho que tirar foto pelado ou com poses eróticas? Aliás, para mim não interessa o que as pessoas acham da minha vida sexual, o que as pessoas acham da minha vida amorosa, porque não interessa para ninguém. Eu não preciso “cantar” todas as mulheres para dizer que eu sou homem, porque eu sei que sou homem amando e respeitando uma só. Acontece que temos uma cultura “chucra” que ser homem é encher o saco, ser um ser que tem uma sexualidade é mostrar que tem de formas vulgares e de maneira “baixa” sem um tom artístico do modo erótico e não pornográfico. Não vou me ater a diferença dos dois, pois, quem quiser e ter a capacidade mental para isso, só pesquisar no Google. A feira se tornou uma Disneylândia a muito tempo, tempo para perceber que não tem mais nenhuma graça ser tratado como eterno adolescente.

Na última vez que eu e minha noiva fomos, isso em 2014, não tinha nenhum banheiro verdadeiramente, adaptável e a minha noiva quase caiu nos banheiros químicos. Os banheiros mesmo do local, foram adaptados como tudo, nas “coxas” e não tinham condições de serem usados, não tinha aonde comer, porque tudo ali era caro, não tinha aonde ir, porque todas as atrações são a mesma coisa. Cadastros de emprego que não podiam ser feitos, que aliás, não adiantam nada porque nunca somos chamados. O banco Santander, por exemplo, enche o saco de todo mundo que precisa de pessoas com deficiência para preencher as cotas, mas quando nos cadastramos, nunca somos chamados; mas claro, temos nosso prêmio de consolação, somos agraciados com inúmeras propagandas. O marketing – falando como publicitário formado – dessas lojas são fracos, são inócuos, não convencem ninguém a comprar uma cadeira de rodas ou fazer algumas adaptações, porque exige criatividade e um toque de humanismo. Tirar da cabeça que não somos doentes, não somos gente de outro mundo, podemos sim ser consumidores e uma cadeira de rodas ou outro aparelho, não é uma prisão ou um castigo. Podemos ser felizes sim, numa cadeira de rodas ou em qualquer outro aparelho.


O pessoal era mal-educado, tanto assim, que eu tinha que ficar olhando para atravessar um cruzamento senão os bombadinhos de cadeira de rodas te passavam por cima (literalmente). Eu não podia deixar minha noiva sozinha que sempre vinha um “bombadinho de rodinhas” achar que ele era “o galo no galinheiro” e começava a encher o saco, que aliás, esse tipo de pessoa é muito chata e não mostra que é o que ele pensa que é. Eu, sinceramente, não acho que é o perfil de uma feira desse porte, não é o perfil de uma feira que deveria – sem sombra de dúvidas – mostrar tecnologia que nos ajudara a ter, mais ou menos, uma vida feliz. 



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