Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Vamos ser sinceros aqui, você já viu um publicitário bem-sucedido
aparecer em uma cadeira de rodas? Você já viu alguma instituição de pessoas com
deficiência cumprir a lei de cotas de 1991, que determina de 2% a 5% de pessoas
com deficiência, cumprirem essa lei? Se você não viu, eu também nunca vi. Numa
reportagem que saiu no O Globo e que está no blog da consultoria de emprego
para pessoas com deficiência I.Social, que faz a muito tempo, um trabalho
dentro da área de emprego para PCDs, que tem o nome “MESMO COM A LEI DE COTAS,PESSOAS COM DEFICIÊNCIA AINDA ENFRENTAM DIFICULDADES NO MERCADO” que achei
superinteressante. Destaquei alguns pontos da reportagem e vou respondendo e
pondo meu ponto de vista sem hipocrisia.
Os resultados mostraram que, apesar do conhecimento da
lei, a falta de interesse ainda é um forte obstáculo: 86% das companhias
pesquisadas contratam somente para cumprir a cota. O levantamento apurou ainda
que, em relação à qualidade das vagas, os entrevistados consideram a maioria
das oportunidades regulares (60%) ou ruins (16%).
Há uma pergunta que eu tenho uma necessidade de fazer: a
canalhice virou falta de interesse ou o jornalista quis ser educadinho? Sim,
porque se você sabe que existem pessoas com deficiência qualificadas e a lei e
não tem interesse de aproveitar essa parcela de mão de obra, desculpe os CEOs,
mas ou é canalhice ou é burrice mesmo. Se existem 86% de empresas que contratam
pessoas com deficiência só para cumprir tabela governamental, alguma coisa tem
de errado. Em algum lugar da reportagem estar a questão educacional – talvez eu
comente pra frente – mas não estamos lhe dando com pessoas sem estudo e sim,
pessoas que tem curso superior administrativo ou de RH, temos que parar de
querer passar a mão na cabeça de pessoas que deveriam entender e parar de ficar
ligando para o senso comum. Essas pessoas já não deveriam, de uma forma ética,
ou seja, de caráter, estar ligado com o preconceito e a discriminação do senso
comum.
Todo curso de administração, do top ao mais vagabundo, sabe
que em uma organização todas as pessoas têm um objetivo comum, dos sócios até
os empregados, o objetivo é fazer a empresa crescer e ter muitos clientes. Como
fazer isso? Bom, os sócios e diretores tem que garantir boas condições de
trabalho para o funcionário, pois, sem essas condições não é possível levar
adiante a empresa e tenha um contato direto com o cliente. Assim, ao mesmo
tempo, todos que lá trabalham, precisam ter o comprometimento com a empresa,
que é importante tanto para os sócios, como para os funcionários. Para as
pessoas com deficiência não é diferente, porque além de dar condições para
essas pessoas trabalharem, tem que haver serias mudanças no prédio onde é a
empresa. Como tudo no Brasil, o empresário só quer o resultado, ele não quer
arriscar no investimento. Só prestar atenção nos serviços, nos produtos, a
oferta, ele quer tirar o lucro logo de cara e ai que pega; sem investimento, só
há um lucro momentâneo e além do lucro, há a imagem da empresa.
Daí chegamos aonde queremos chegar: a imagem da empresa.
Numa visão pouco hipócrita, tentamos imaginar uma empresa que contrata pessoas
com deficiência e a sociedade começa a achar que essa empresa é um fracasso: “por
que como pessoas podem trabalhar se nem ao menos andam? ”. Claro que a
sociedade nem vai saber que o produto foi feito por uma pessoa com deficiência
ou não, mas é essa a visão de um diretor chefe de empresas que querem pessoas bonitas
e interessantes trabalhando lá. Isso que acontece com empresas de mídia,
empresas como agências de publicidade, não devem ter pessoas desassociadas a
perfeição. Qual é a soluções?
Se a lei de cotas é um marco inquestionável dentro desta
discussão, Haber destaca que o texto ainda funciona melhor para um grupo seleto
de pessoas.
— É muito comum as empresas buscarem trabalhadores com
deficiências consideradas mais leves, que não impliquem em grandes modificações
de infraestrutura — observa ele.
Ou seja, a solução de não investir em prédios acessíveis é
contratar pessoas com deficiência com deficiência leve e não dará o menor
trabalho. Qual Mcdonald vai contratar um cadeirante para, pelo menos, ficar no
caixa? Qual loja vai contratar uma pessoa cadeirante para ser vendedor? Eu digo
cadeirante, porque a minha realidade é ser ou não cadeirante. Porque só há uma
exigência para as empresas obedecerem a essa lei: um deficiente que fala bem,
se locomove bem, tenha boa aparência e seja uma pessoa com uma certa
experiência. A pergunta inevitável é: em que mundo esses empresários ou CEOs
estão, em achar que existem pessoas com deficiência desse porte? Acho engraçado
a FIESP botar um “pato” gigante dizendo não querer pagar o pato – e não pagou
mesmo, porque roubou do artista lá – e querer ética na política, se não cumprem
uma lei tão simples como esta. Ainda
pior, disfarça contratando pessoas que quase não tem deficiência, mas são
considerados como pessoas com deficiência e a não especificação da porcentagem
de cada deficiência, colabora com isso.
O grupo de profissionais com deficiência intelectual é um
dos mais negligenciados. O Instituto Mano Down tem entre as atividades a
inserção de pessoas com síndrome de Down no mercado de trabalho e esbarra
cotidianamente neste bloqueio. Como relata o presidente da entidade, Leonardo
Gontijo, o preconceito é escancarado nas solicitações de algumas companhias.
— Já nos procuraram pedindo um profissional para constar
no quadro de funcionários em função do cumprimento da lei, mas que não
precisaria ir trabalhar. E houve solicitações em que eram requisitadas pessoas
com um “grau menor” de síndrome de Down, uma classificação que simplesmente não
existe — conta ele.
Sinceramente, eu não vejo que uma deficiência seja mais
negligenciada do que a outra, mas com certeza algumas mesmo mostrando que não deixam
a dever a dedicação, as pessoas ainda são discriminadas. Com certeza a síndrome
de down e o autismo é muito discriminado, assim como as pessoas cadeirantes que
não conseguem serem contratados. Isso, as empresas são bem democráticas. Isso
passa pelo sistema ético e o sistema moral de uma cultura, lá fora as pessoas
com deficiência tem uma vida quase normal, quase que não existem barreiras.
Porque é respeito pelas leis e o respeito pelo ser humano. Mais uma vez, é
muito fácil as pessoas pedirem ética e quando pedem para cumprir uma lei, fazem
isso. Então, ninguém pode falar de ninguém.
— O número de pessoas com deficiência na universidade
aumentou 500% entre 2004 e 2014. Isso já é uma resposta às demandas das
empresas. Mas as organizações também precisam entender que nem sempre a pessoa
está 100% pronta e podem se flexibilizar neste aspecto — salienta ela.
A consultora Tabata Contri tem um discurso diferente da
atriz Tabata Contri, porque ela viu que eu falava era verdade, porque ela sempre
criticou meus textos e chamava de “pessimistas”. Não. Eu estava alertando
exatamente com dados que eu mesmo via e não era “palpite”, ainda hoje as
pessoas não contratam as pessoas com deficiência porque não querem. 500% é mais
que a demanda que precisava para cumprir a meta. Eu desafio a Tabata e a dona
do I.Social a me mostrar um publicitário com alguma deficiência, levantar dados
de instituições e órgãos públicos que contratam pessoas com deficiência. Porque
a lógica é clara, se nem as instituições de reabilitação e nem órgãos estatais
cumprem a lei, muito menos empresas particulares vão cumprir a lei. Afinal, por
que iriam? Isso passa por situações éticas muito serias, pois, isso não é uma
campanha como não fumar ou não beber antes de dirigir, a lei de cotas é uma
lei, não é um pedido e nem uma meta, é uma LEI e as mesmas pessoas que me
criticaram viram que eu tenho razão.
A definição de LEI é bem clara, porque segundo a Wikipédia,
lei vem do latim ligare que significa
“aquilo que liga” ou ligere que
significa “aquilo que se lê” e é um conjunto de normas recolhidas e escritas,
baseadas na experiência das relações humanas, que servem para ligar os fatos ou
os acontecimentos ao direito, em ordem a paz social. Ou seja, perante um
determinado fato, a norma adequada e diretamente ligada a ele, mostra a quem
deve ser atribuída a legitimidade ou razão, e assim, desfazendo o equívoco. Qual
o equívoco nesse caso? As empresas não estavam contratando essas pessoas por
razões diversas e já em 91, o Brasil estava atrasado nesse aspecto. A questão
sempre passa pelo crivo da acessibilidade, seja em matéria do que se entende
como acessibilidade do prédio, seja em matéria da acessibilidade do próprio trajeto.
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