sexta-feira, 2 de junho de 2017

Como ser um intelectual em uma terra de “burros”





Por Amauri  Nolasco Sanches Junior

Primeiro eu vou explicar o que quero dizer com “burro” depois explicarei os motivos que me levaram escrever esse texto. O burro, como muitas pessoas sabem, é um animal muito forte, mas muito difícil de lhe dar por motivos do seu instinto. Se o burro vê que não dá e corre perigo, ele empaca naquilo e você pode puxar ele a vontade que ele não dará um passo sem precaver desse perigo. A questão do burro não é a ignorância de não saber nada – que pesquisas mostram que o burro aprende depressa o caminho – o problema é que empaca demais em certos caminhos e não avança em nada. Acho que é esse o caso do nosso povo, empacou no passado, empaca naquilo que é mais cômodo para ficar um pouco mais “fácil” para ele lhe dar com a situação. A situação é essa: não sabemos votar, não sabemos escrever, não sabemos da situação política mundial, não sabemos nem expressar nossas ideias, não sabemos nem seguir as nossas ideologias religiosas e políticas.

Pra começar, não sabemos votar. Votamos não em um plano melhor no nosso país, mas votamos ideologicamente. Como eu sou libertário (vulgo anarcocapitalista), tanto faz o assaltante de gravata, ele é um burocrata que vai dificultar o máximo você ter dinheiro e bem-estar. Ele nunca vai olhar para você como um ser humano, mas vai olhar para você como mais um de uma multidão de milhões de eleitores. Esqueçam os sorrisos. Esqueçam ele no meio do povo (que acontece em quatro em quatro anos); isso é marketing e para entender isso, tem que entender de marketing como eu que sou publicitário. Dando uma explicação básica, marketing vem da palavra “Market” que pode querer dizer mercado, ou “to Market” que é o verbo comercializar. O “ing” é um sufixo de ação que está acontecendo agora, neste instante e então, podemos traduzir o termo como “a ação de comercializar agora” (bem apropriado aos políticos, né?). Assim, fazer marketing é sempre agregar todas as funções necessárias que fazem que um produto, ou um serviço oferecido por uma empresa, possa ser adquirido pelo consumidor. Junto com isso existe os 4 Ps: Preço, Praça, Produto e Promoção.

Qual é o preço de se votar no sujeito? O voto. Se você comprar as ideias e os planos que ele prometeu, você estará comprando o seu plano de governo. Qual é a praça nesse caso? O beijo na criança, o aperto de mão do velhinho, a casa que entrega quando ainda governa, é a praça aonde ele atua para oferecer um plano – que supostamente é para o seu bem, que para mim, é um perigo essas pessoas que querem o “bem” dos outros – e você escolhe se compra ou não esse plano com seu voto. O que seria o produto? Bom, sabe aquelas empresas que você entra e não tem um produto definido como concreto, mas te oferece ganhos se você der x de valor? Seria o mesmo caso. O político não tem um produto concreto como proposta, tem promessas e mais promessas, que na maioria das vezes, nunca se cumprem. Que é a promoção? Assim: “se você acreditar no meu plano de governo, te farei uma pessoa mais feliz”, simples assim.

 Não sabemos a situação política mundial, porque sempre achamos que a direita e esquerda lá fora é igual daqui. Quem em sã consciência iria dizer que uma Hilary Clinton era socialista? Nos EUA, a direita e esquerda é completamente diferente do que a direita e esquerda daqui, porque a organização eleitoral daqui não é a mesma de lá. Por exemplo, colocaram meio na marra o liberalismo na direita aqui, mas quase no mundo inteiro, os liberais além de não serem conservadores (só ler entrevistas do Scruton), ainda são de esquerda. O liberalismo e o libertarianismo são de esquerda pelo simples fato que se há uma mudança de paradigma, há uma mudança de política econômica e cultural. Conservadores não querem uma mudança da política (a bancada ruralista e a evangélica), e nem na economia, e muito menos cultural, se houver uma, tem que ser por meio de muitas analises e um certo “cuidado”. Se você é um liberal conservador, você estará deslocado tanto no liberalismo, quanto ao conservadorismo.

Não sabemos expressar nossas ideologias políticas ou religiosas.  Ideologias políticas são estudos importantes para entender o processo político do nosso país e mundialmente, porque senão, vai passar vergonha. Nossa política tem algumas ideologias, como as ideologias liberais mistas (porque introduzem uma economia keynesiana), porque o liberalismo   não sobem os juros, não tem o extremo controle do ESTADO na economia e nos meios de produção. A economia baseada em Keynes é uma economia totalmente controladora e restrita a uma só solução, então, não podemos dizer que o governo brasileiro é verdadeiramente, liberal. Temos o “ruralismo” que é a parte do conelismo que são as famílias que controlam a maior parte da produção pecuária, agrícola e porque não, os sertões nordestinos e nortistas. Depois, tem a esquerda socialista, a esquerda democrática social, a esquerda da mobilidade democrática brasileira. Na verdade, a única ideologia de direita é os ruralistas e a chamada bancada evangélica, o resto é esquerda mesmo (por causa da sua ideologia econômica).  E tem um povo por aí, que se acha inteligentinho que está pedindo a volta da monarquia (num processo histórico meio a reversa, porque querer a monarquia é retroceder), ou está pedindo intervenção militar. Para temos a volta da monarquia tem que ter um plebiscito, um plebiscito não vai acontecer porque não temos tempo, não temos dinheiro, não temos um acordo em comum na classe política e convenhamos, o Brasil está no século vinte e um e querer a monarquia é querer a volta ao medievalismo.

A intervenção militar é uma outra questão que exige intervenção diplomática, exige apoio internacional, exige liberação da ONU e convenhamos, o exército é uma defesa da nação e não pode ser usado como uma espécie de polícia. Você pedir ordem é você achar meios de fazer funcionar as instituições que devem punir os corruptos, punir aqueles que não respeitam as leis que regem o país. Além, claro, que após a segunda grande guerra, várias convenções foram criadas no intuito de não ter intervenções (só aquelas “de baixo dos panos” para conter avanços ideológicos danosos ao capitalismo selvagem, danosos aos interesses a grandes nações e as grandes instituições), que garantam certos direitos humanos e a proteção um pouco humanitária, mesmo que em alguns casos, isso não funciona. Depois o Brasil é muito importante para a economia mundial para sofrer uma perca na autonomia dentro de um sistema democrático, onde uma intervenção, acabaria com a compra e venda de alguns itens de matéria prima de importantes empresas mundiais. E outra coisa, todos nós sabemos que em 64 era uma outra realidade, era uma realidade pós-guerra, onde o comunismo avançava na América Latina e os norte-americanos buscavam hegemonia. Saber de história antes de dizer bobagens, é essencial e não acreditar em blogs que usam o anseio alheio, tendencioso em outras palavras, para ganhar dinheiro em cima.

Já disse que se tem que saber de ideologias políticas, agora tenho que dizer sobre ideologias religiosas. Existem três religiões predominantes no Brasil – mais as de berço africano – o catolicismo, o protestantismo e o espiritismo, o resto, só pega carona. Basicamente, o catolicismo foi fundado pelo imperador Constantino I no século terceiro e é uma religião romana, os santos são os deuses romanos, os dias festivos sãos os dias festivos romanos (do império), as leis dos reinos que vieram depois foram fundadas dentro do direito romano. Nós que viemos de uma cultura latina (Portugal era uma província romana que pertencia a Espanha, Portugal veio de “portugale” que queria dizer “porto gaulês”), somos herdeiros de um catolicismo muito forte e assim, muitas religiões se mesclarem de alguma forma a maneira de pensar católica. O protestantismo foi fundado pelo teólogo agostiniano alemão Martinho Lutero no século quinze, quando pregou as suas cismas na igreja e criou uma revolução, a revolução protestante, onde se quebrou a hegemonia católica. Seguindo sua linha o teólogo francês João Calvino que colocou o protestantismo na França. Basicamente, o lema protestante deveria ser: “Sola Scriptura, Solo Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Soli Deo Gloria” que numa tradução ficaria: “só há as escrituras, só há Cristo, só há a graça, só há a fidelidade e só há a Glória de Deus.”. Você vê isso nessa religião? Não, claro que não. Até nisso houve uma degeneração da religião verdadeira, porque hoje se tem muito marketing e pouco o que é a religião verdadeira. E o espiritismo que foi fundado e teve a doutrinação estruturada por Allan Kardec na França no século dezenove. Não tem uma teologia, mas tem uma doutrinação que são os cincos primeiros livros da codificação kardeciana. Vimos muito espiritas agregando uma mística de outras religiões (mais do catolicismo por causa da nossa cultura).

Por fim, depois dessa análise do que é o pensamento do nosso povo, além de não saber dados histórico, dados políticos, dados ideológicos e dados religiosos, não sabem a própria língua que fala. Se lemos nas redes, concluímos, que não se sabe nem ler e nem escrever (muito menos, ter um critério básico de ceticismo do que se ler e onde se ler), porque a abreviação não é uma escrita exata. Você não é “vc”, diálogos tem que ter travessão, pensamentos ou destaques tem que ser entre aspas ou entre parênteses, “mim” não conjunta verbo. Outra coisa, são criadas muitas gírias para pouca utilização concreta dessas gírias, como Friboi para “corno” ou homem traído; Friboi é uma empresa de carne e é a junção entre “frigorifico” (onde a carne fica para não estragar) e boi (animal bovino para o corte). Ou seja, os homens traídos são os homens traídos, porque não estamos falando de qualquer animal, mas o animal humano sapiente daquilo que tem como consciência. A escrita é uma comunicação para o modo escrito, o escritor (aquele que escreve), tem que levar o leitor a aquilo que ele quer passar. Se você dificultar isso, ele passa a não ler e as pessoas não vão se interessar, não vão nem debater isso.


Assim, como ser um intelectual no meio disso tudo?



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