quinta-feira, 27 de julho de 2017

Teleton na web: a ética dos esquecidos



Resultado de imagem para inclusão das pessoas com deficiencia


Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Eu estava lendo o texto “TELETON FARÁ 20 ANOS E GANHARÁ VERSÃO ONLINE”, fiquei pensando sobre essa questão da web e me veio uma outra questão. Como o Teleton tem um estúdio se a unidade de Nova Iguaçu, no RJ, está quase fechando? Como uma entidade “filantrópica” pode ter um diretor de marketing? Quem sabe o básico de administração e sabe o básico de marketing, essa ferramenta só vende algum bem e algum serviço, vender quer dizer que alguém compra. Além do mais, vamos ser honestos, quais seriam os 4 Ps na questão? O produto, o público, a praça e a promoção.

O produto é aquilo que você quer vender, aquilo que o cliente (seria o público), quer desse produto. Mas qual o produto nessa questão? O tratamento da deficiência. Mas se é um produto, então, quem paga esse produto? Essa é a questão, se o dinheiro vem da família, ou o dinheiro vem do governo, os contribuintes pagam. A praça é onde esse púbico pode estar ou é onde os anúncios podem ser veiculados e muito pior, o anuncio tem que vir com uma promoção. Entenderam dos bonequinhos? Sempre promovam algo como se atingisse um número muito grande de pessoas. Daí chegamos a algo das pessoas com deficiência que ninguém imaginou, por incrível que pareça, se ganha dinheiro com a deficiência e muito. Ou você acha que a igreja criou casas de caridade para abrigar essa gente por bondade? Quantos os nobres não doavam para ir ao paraíso? Isso não é diferente e tão pouco menos lucrativo, porque mexe com o sentimento das pessoas.

Essa deveria ser uma questão ética, porque tem a ver com conceitos de ver e sentir o que o outro sente, e essas coisas deveriam ser ensinadas nas escolas. Nem acho errado ensinarem religião nas escolas como forma de ensinar um caminho ético, o problema é qual religião que poderia ser ética sem passar pela questão ideológica. Por outro lado, não acho que um sujeito ateu ou laico, de modo de aceitar qualquer religião, seja muito mais inteligente do que as outras pessoas. É uma questão de comodidade, porque é muito mais fácil ser ateu e não pensar fora da caixinha do que o povo prega. Não acho que existe salvação na deficiência, nem na religião, nem na ciência. Por falar em ciência, duas coisas fazem esse “sucesso” do evento Teleton: primeiro, é a medicalização que mostra um monte de criança com deficiência que precisam ser cuidadas ou tratadas; segundo, a sensibilidade de fazer com que a deficiência seja uma “vitima” e que a criança, supostamente, pode morrer se não tiver um tratamento adequado ao que é mostrado. Ou seja, a medicalização é uma porta bem grande para a vitimização e isso é muito perigoso para a questão da deficiência. A grosso modo, muita gente ganha muita grana, ou com a medicalização da deficiência inventando tratamentos milagrosos, ou com a vitimização da deficiência que faz aparecer entidades santificadas e exemplos de superação, o resto, é só besteira.

Eu estou com 41 anos, passei 26 anos na entidade, estou ainda numa cadeira de rodas – eu andava em andador até os 14, depois eles suspenderam o tratamento – e nenhum tratamento que eu fiz, melhorei. Isso mostra que a ciência não vai fazer milagres e nem que a entidade esteja com esse tipo de ciência, somente fazem uma fisioterapia, fazem um tratamento fajuto e acha que fazem algum tratamento. Sugaram o que puderam da grana do meu pai, e quando meu pai ficava desempregado, ainda desconfiavam dele. No meu livro recente, “O Clube das Rodas de Aço - Tratado sobre o Capacitismo”, falo um pouco sobre isso e como eu vejo entre a filantropia e a fraternidade, pois, ser filantropo e diferente de ser fraterno.


Para ser transparentes, como mostra o texto, deveriam contar que não conseguem manter suas unidades, que a grana toda, é para pagar o marketing. Na verdade, a AACD é ainda uma entidade que exige uma filosofia que não cabe mais no mundo de hoje e para dizer a verdade, estão pouco se linchando com a inclusão.  Mas a questão é: até quando vamos ter que aguentar esse tipo de chacota?


 cinvute

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