Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Eu estava lendo o texto “TELETON FARÁ 20 ANOS E GANHARÁ VERSÃO ONLINE”, fiquei pensando sobre essa questão da web e me veio uma outra
questão. Como o Teleton tem um estúdio se a unidade de Nova Iguaçu, no RJ, está
quase fechando? Como uma entidade “filantrópica” pode ter um diretor de
marketing? Quem sabe o básico de administração e sabe o básico de marketing,
essa ferramenta só vende algum bem e algum serviço, vender quer dizer que
alguém compra. Além do mais, vamos ser honestos, quais seriam os 4 Ps na
questão? O produto, o público, a praça e a promoção.
O produto é aquilo que você quer vender, aquilo que o
cliente (seria o público), quer desse produto. Mas qual o produto nessa
questão? O tratamento da deficiência. Mas se é um produto, então, quem paga
esse produto? Essa é a questão, se o dinheiro vem da família, ou o dinheiro vem
do governo, os contribuintes pagam. A praça é onde esse púbico pode estar ou é
onde os anúncios podem ser veiculados e muito pior, o anuncio tem que vir com
uma promoção. Entenderam dos bonequinhos? Sempre promovam algo como se
atingisse um número muito grande de pessoas. Daí chegamos a algo das pessoas
com deficiência que ninguém imaginou, por incrível que pareça, se ganha
dinheiro com a deficiência e muito. Ou você acha que a igreja criou casas de
caridade para abrigar essa gente por bondade? Quantos os nobres não doavam para
ir ao paraíso? Isso não é diferente e tão pouco menos lucrativo, porque mexe
com o sentimento das pessoas.
Essa deveria ser uma questão ética, porque tem a ver com
conceitos de ver e sentir o que o outro sente, e essas coisas deveriam ser
ensinadas nas escolas. Nem acho errado ensinarem religião nas escolas como
forma de ensinar um caminho ético, o problema é qual religião que poderia ser ética
sem passar pela questão ideológica. Por outro lado, não acho que um sujeito
ateu ou laico, de modo de aceitar qualquer religião, seja muito mais
inteligente do que as outras pessoas. É uma questão de comodidade, porque é
muito mais fácil ser ateu e não pensar fora da caixinha do que o povo prega. Não
acho que existe salvação na deficiência, nem na religião, nem na ciência. Por falar
em ciência, duas coisas fazem esse “sucesso” do evento Teleton: primeiro, é a medicalização
que mostra um monte de criança com deficiência que precisam ser cuidadas ou
tratadas; segundo, a sensibilidade de fazer com que a deficiência seja uma “vitima”
e que a criança, supostamente, pode morrer se não tiver um tratamento adequado
ao que é mostrado. Ou seja, a medicalização é uma porta bem grande para a vitimização
e isso é muito perigoso para a questão da deficiência. A grosso modo, muita gente
ganha muita grana, ou com a medicalização da deficiência inventando tratamentos
milagrosos, ou com a vitimização da deficiência que faz aparecer entidades
santificadas e exemplos de superação, o resto, é só besteira.
Eu estou com 41 anos, passei 26 anos na entidade, estou
ainda numa cadeira de rodas – eu andava em andador até os 14, depois eles
suspenderam o tratamento – e nenhum tratamento que eu fiz, melhorei. Isso mostra
que a ciência não vai fazer milagres e nem que a entidade esteja com esse tipo
de ciência, somente fazem uma fisioterapia, fazem um tratamento fajuto e acha
que fazem algum tratamento. Sugaram o que puderam da grana do meu pai, e quando
meu pai ficava desempregado, ainda desconfiavam dele. No meu livro recente, “O Clube das Rodas de Aço - Tratado sobre o Capacitismo”, falo um pouco sobre isso
e como eu vejo entre a filantropia e a fraternidade, pois, ser filantropo e
diferente de ser fraterno.
Para ser transparentes, como mostra o texto, deveriam contar
que não conseguem manter suas unidades, que a grana toda, é para pagar o
marketing. Na verdade, a AACD é ainda uma entidade que exige uma filosofia que não
cabe mais no mundo de hoje e para dizer a verdade, estão pouco se linchando com
a inclusão. Mas a questão é: até quando
vamos ter que aguentar esse tipo de chacota?
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