Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Quando falamos de preconceito, falamos não de maldade que
para mim, pelo menos, não existe. Porque o mal não é uma condição natural do
ser humano e sim, uma condição que vem com a realidade que vivemos. As pessoas não
são malvadas, mas elas são ignorantes e somos testemunhas da ignorância humana
em preconceber uma ideia errada sobre a deficiência, sobre as mulheres, sobre
os homossexuais entre outras coisas. O termo ignorância vem do latim – de onde nossa
língua deriva diretamente – “ignorantia” que quer dizer “não saber” e vem de “ignorare”.
Formado por o sufixo “in” que é “não”, com “gnarus” que é “sabedor, que domina
um assunto”, que se relaciona com “gnocere” que quer dizer “conhecer, saber”. Portanto,
quando dizemos que uma pessoa é ignorante, estamos dizendo que a pessoa “não sabe”
sobre aquele assunto e o esclarecimento – sim, nesse ponto eu sou kantiano –
pode remediar isso. Parece que a deficiência é a “bola da vez” das discriminações
online.
A minha amiga Dariane, postou uma imagem de um sujeito que
disse que o time do São Paulo Futebol Clube era um time de Down e que se
jogasse com atletas da APAE não tomaria dois gols como tomou do Bahia. Fora que
ele descriminou as mulheres, descriminou os homossexuais e as pessoas com síndrome
de down. Vamos por partes: primeiro que pessoas com síndrome de down não são incapazes,
isso é capacitismo. O capacitismo é um preconceito que visa a capacidade e não capacidade
das pessoas e isso, diretamente, tem a ver com as pessoas com deficiência. Nem vou
entrar no mérito espiritual, pois, se acreditamos – como muitos dizem que
acreditam – em uma força criadora que criou tudo e faz um ato desse, é pura ignorância.
Agora podemos perguntar: quando você atormenta uma pessoa com deficiência por causa
da sua deficiência, você é uma pessoa consciente? Não. Se ela tivesse um filho
ou um conhecido com síndrome de down ou outra deficiência, ela teria essa
atitude? Claro que não, por ter o conhecimento disso. Como recentemente, uma
socialite, disse que a filha do Justus com a Taciane Pinheiro, que tem síndrome
de down, parecia o personagem “Chuck” do filme “O Brinquedo Assassino”.
As pessoas não sabem por não terem a informação necessária para
ter o tal conhecimento, pois, toda a mídia distorce as características de muitas
deficiências, para caberem no seu drama que lhe darão maior audiência. Todo cadeirante
é tetraplégico ou paraplégico? Não. Existe cadeirantes com paralisia cerebral,
existem cadeirantes que tem sequelas de poliomielite, existem cadeirantes com
diversas deficiência. Assim como existem outras deficiências mentais, deficiência
sensoriais, deficiência menores ou piores, mas todos têm a sua. Mas a mídia quer
padronizar a beleza e quer padronizar aquilo que não é belo, fazendo com que,
acreditamos que só quem anda é belo, só quem é de uma determinada aparência pode
ser chamado de bonito. A mídia determina o modo estético com que devemos olhar
o mundo, como se houvesse um determinado padrão de tudo. Imagine se não tem as indústrias
da beleza por traz? Eu acho muito desproporcional mulher fitness, mas as
academias ganham muito com esse padrão divulgado.
Não acho também que o grande mal é só do capitalismo, o
capitalismo como uma ferramenta de geração de recursos foi inventado por seres humanos
e assim, herdaram muitos problemas com a sociedade humana. Todas as ideologias políticas
ou religiosas, tem o mesmo problema, são apenas ferramentas usadas para um fim
e a ignorância é importante para aqueles que dominam. O erro iluminista foi dar
esse esclarecimento como uma só parte dessas ideologias tivessem perpetuado
essa ignorância, mas a religião é completamente, humana e nada se pode condenar
a concepção espiritual. Filosofias foram criadas como indagações do mundo em
que vivemos, ideologias foram criadas para ter uma evolução melhor social,
somos animais sociais e por isso, somos políticos.
Por sermos animais políticos não podemos ter ignorância, não
podemos não ter gentileza, porque a gentileza é algo inato no ser humano. Então,
existem dois meios de ignorância, a ignorância por não saber mesmo, aquele que não
estudou. Existe o que não quer estudar ou entender, porque fica na sua zona de
conforto. O preconceito é uma ignorância daquele que faz uma imagem preconcebida
de alguma coisa, seja lá o que for, como aquela imagem fosse real. Como também existe
vida além do futebol, existe vida além das ideologias políticas e o respeito também
é uma questão de educação, pois, a educação não é a escola que tem que dar, mas
os pais em sua casa. Mas quando você vê uma Câmara dos Deputados federais, numa
votação seria um deputado chamar a deputada de “gostosa” o que esperar da população?
Num país desses que as deficiências são quase escrachadas, o que fazer?
E não é só sobre pessoas, é questão de muitas coisas. Se a notícia
não é de um canal da grande mídia, se os livros não são publicados nas grandes
editoras, ninguém nem mesmo olha. Eu tenho 3 livros no Clube de Autores e nem
sequer olham para eles, porque não é de um site ou gráfica conhecida. Mas a
Amazon não pode fazer sacanagem também? Ou outro site de livros? Isso não é
preconceito? O preço da ignorância é o preço de não ampliar seu próprio mundo.
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