quarta-feira, 6 de setembro de 2017

“Olavismo Cultural”= o heavy metal emburrece?




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Para mim, o problema dos filósofos contemporâneos, é que muitas coisas sobre os inúmeros pensamentos antigos, devem mudar para caber em seus conceitos. Como expliquei no texto anterior sobre a sentença do ejaculador do ônibus (aqui), conceito é uma representação abstrata (que podemos definir como subjetivo), de uma realidade ou da realidade. Sendo assim, não podemos, por exemplo, definir um pensamento a partir da nossa realidade, mas da realidade do pensamento da época e o porque daquele pensamento. A grosso modo, você não pode analisar Epicuro, por exemplo, a partir de métodos e morais contemporâneas a partir até mesmo, de uma moral cristianizada. É o caso do filósofo Olavo de Carvalho que analisa pensamentos da antiguidade como se fossem, pensamentos contemporâneos e aí que está o erro. As morais são conceitos e conceitos são verdades (no sentido de realidade), mas que verdades não são absolutas e podem sofrer mudança. Se o ser humano acreditou que o sol e todos os planetas giravam em torno da Terra, que era uma verdade na época, hoje se sabe que a Terra gira em torno do sol.

Só que o Olavo de Carvalho estuda tudo e sabe tudo, pois, ele estuda também, muitas outras coisas e uma delas é o heavy metal que em 2014, mais ou menos, disse emburrecer a juventude. Ora, se ele se atentar nas letras do Led Zeppelin – que ele diz ser os inventores do heavy metal sendo que há pesquisas que mostram que foi a banda Steppenwolf – ou do Black Sabbath, são letras voltadas ao que na época poderíamos chamar de contracultura – até mesmo Ozzy tem uma bíblia do século 16 na entrada da casa dele. A coisa beira a teoria conspiratória de um louco que fugiu de um hospício, ou um cara que só está pensando na sua própria fé, sendo que, achar que a música pode emburrecer uma pessoa, não há base nenhuma dentro de qualquer pesquisa. Nas palavras do notório filósofo:

A maior prova de que o heavy metal tem algum potencial emburrecedor são as analogias deslocadas e absurdas que, à menor provocação, seus cultores disparam em defesa dele, como se tocar nesse ponto ativasse algum núcleo psicótico escondido em seus cérebros.

Primeiro que não há nenhuma defesa do heavy metal, sendo uma música de contracultura, ela também questiona o cristianismo como cultura vigente. Como acontece nos países nórdicos, onde bandas cultuam a volta da cultura pagã viking – seu maior representante é a banda Bathory – o heavy metal sai da subjetividade popular ou religiosa (senso comum), para se emprenhar em uma outra visão. Na maioria dos casos, não estão questionando Deus ou sua existência, mas a subjetividade religiosa e cultural da maioria. Mas claro, que alguns fanáticos – como os olavettes – vão dizer absurdos ou atacar a pessoa e não questionar a ideia, como acredito que não é culpa do próprio estilo musical.

Uma reportagem de 2007 na BBC-Brasil, diz que fizeram uma pesquisa – feita na Universidade de Warwick, na Grã-Bretanha – coordenada pelos pesquisadores, Stuart Cadwallader e Jim Campbell, que são Academia Nacional para Jovens Talentosos e Superdotados da universidade britânica. Eles pesquisaram em torno de 1.057 pessoas entre 11 a 18 anos para realizar a pesquisa, que responderam algumas perguntas que eram sobre família, sobre comportamento na escola, em horas de lazer e até a preferência de como fazer as tarefas. E também, claro, responderam perguntas sobre sua preferência musical. O estilo mais popular é o rock seguido bem de perto, pelo pop. Porém, mais um terço dos entrevistados citou o heavy metal como gênero preferido. Esses estilos musicais também foram associados a características de personalidade dos jovens, os que diziam gostar de heavy metal, teriam uma autoestima mais baixa do que os outros. O que intrigaram os pesquisadores com essa relação, então, entrevistaram dezenove estudantes superdotados sobre a opinião deles acerca do heavy metal. 

Embora os estudantes não acreditam ser “metaleiros”, eles analisaram alguns aspectos do estilo musical. Dizem que o heavy metal pode ser usado um instrumento de catarse (Libertação de sentimentos reprimidos: libertação, purificação, purgação, purga, limpeza, depuração, expiação, ab-reação), usando as músicas normalmente, altas e agressivas para liberar suas frustrações e irritações. Embora há fãs que tenham a opinião que o estilo deve ser ouvido a todas as horas, muitos disseram (os estudantes superdotados), esse estilo por estar de mal humor. Segundo Cadwallader, talvez as pressões de serem superdotados associadas com o talento dessa característica deles, possa temporariamente, ser esquecidas a partir da música. (aqui)

O que parece? Pessoas inteligentes escutam o estilo – mesmo que não seja um estilo preferível – porque é um estilo que tira a tensão de ser o que se é. Toda a agressividade é focada dentro da música como como um alento. Sem contar que se você fizer uma simples pesquisa no Google, se vai constar que os rockeiros são mais inteligentes. Isso que o filósofo Olavo de Carvalho disse não faz sentido nenhum e nem é sério, pois em uma das suas palestras chegou a dizer que o Bolero de Ravel seria como uma “masturbação”, não há embasamento nenhum nisso. Em um outro trecho ele diz:

Em todos nós existe algo de metaleiro pelo simples fato de que vivemos numa época em que ninguém escapa de participar, de algum modo, do sentimento apocalíptico que está no ar.


Não acho que há nada de metaleiro na filosofia do Olavo, mesmo o porquê, toda a sua filosofia beira a loucura conspiratória. Nem acho que tem um “sentimento apocalíptico no ar” – sendo que o significado de apocalipse é uma obra obscura, escatológica e aterrorizante – e sim, estamos rompendo algumas coisas que não cabem mais nesse momento. A questão é muito mais complexa do que achar que o estilo de música que emburrece o ser humano, sendo que um estilo de música é um conjunto entre a melodia e a letra. Por outro lado, há sempre aquilo que achamos que nosso gosto é superior, nosso ritmo é o que melhor mostra o que tem de melhor e no bem. E no caso do filósofo, tem a parte da fé e das suas próprias crenças. 

Juiz Sérgio Moro escolheu o caminho do bem


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