segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Os surdos têm a sua vez



Enem 2017 - prova de redação (Foto: G1)



Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Mesmo alguns colegas, por razões ideológicas ou praticas, fazerem duras críticas, o tema da redação do ENEM foi interessante. Mesmo o porquê, a questão da educação para surdos – esse politicamente correto ficar chamando de pessoa com deficiência auditiva é muito chato – não é debatida e tem muito a ver, não só os surdos, mas outras deficiências. Na ilustração está: “SOU SURDO E PÓS-GRADUADO EM MARKETING. E NA SUA EMPRESA, TEM ESPAÇO PARA MIM? ” e embaixo está escrito: “TRABALHO NÃO TOLERA PRECONCEITO, VALORIZE AS DIFERENÇAS”. É uma verdade e ninguém enxerga e ainda chama o ENEM de “comunista” por defender as minorias, trabalhando, para quem dirige as empresas não eticamente. Na verdade, bem educadamente, devo dizer que a grande maioria nem sabe o que é socialismo e comunismo.

Voltando ao tema do ENEM, já expliquei milhares de vezes que dentro da publicidade e do marketing há sim, uma grande gama de preconceito e desrespeito. Mas, se as pessoas não têm ética nem em coisas simples como as vagas de pessoas com deficiência – inclusive, uma mãe se machucou muito ao tirar a filha do carro, vejam aqui – quanto mais, contratarem pessoas com deficiência nas empresas? A ética tem a ver com o caráter, com o costume de uma sociedade, se uma pessoa está vendendo um trabalho – sim, senhores de engenho não existem mais – o empresário ético não está preocupado em seu estado físico e sim, sua total eficiência. A questão é como lhe dar com a diversidade, porque além do mais, o investimento pode voltar em dobro. O que é um investimento de adequação para surdos? Software até mesmo gratuitos, o mínimo de adequação, para de repente, ter uma eficiência mais eficaz do que uma pessoa que não tem uma deficiência. Pessoas sem deficiência estão preocupado com a sexta-feira, pessoas sem deficiência está preocupado em viajar, está preocupado com a saída da sexta-feira à noite e se encher de cerveja. As pessoas com deficiência podem sim fazer isso, mas de um jeito muito diferente, sem reclamar e muito mais, com vontade de trabalhar. Daí é um negócio meio platônico-espinoziano.

Platônico, porque o amor para o filósofo grego, é tudo aquilo que lhe falta. Para nós, pessoas com alguma deficiência, nos falta trabalho naquilo que gostamos e estudamos. Afinal, investimos nos estudos comprando livros, nossos pais levaram a escola, fizeram fichas para o transporte público, investiram em aparelhos como transplante coclear, cachorro guia, cadeira de rodas, aprendizado de libras, aprendizado de leitura de lábios, bengalas, muletas entre outras coisas, como aguentar a má-educação de entidades como a AACD. Sempre aquilo que nos falta é aquilo que nos traz prazer em fazer, traz uma oportunidade em mostrar nossa eficiência e vontade. Para sermos felizes, dizia Baruch Spinoza, que viveu no século dezessete, temos que potencializar a nossa vontade ao ponto de você fazer aquilo com muita paixão. Juntando aquilo que falta (oportunidade) e aquilo que lhe traz prazer (vontade, que para mim, é como ter tesão).


A redação do ENEM é um modo de provocar a discussão que a uns 30 anos estamos tentando começar ela – que começa com a lei de cotas de empreses para pessoas com deficiência – porque, a discussão é preciso e está muito além da ideologia de esquerda e direita. Está além da moral, porque a moral está relativa dos costumes, mas, essa discussão tem a ver com o próprio costume e caráter. A questão é a ética das empresas, a ética dos costumes, é modernizar o Brasil que só tem teias de aranha, e essas aranhas, são o preconceito. Parabéns MEC. 

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