quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A caverna chamada “rede social”


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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Estou de “castigo” do Facebook por causa de uma música que nem fui eu que postei lá, apenas achei bonita e compartilhei. Tive que migrar para o Twitter, porém, eu analiso muito melhor a conjuntura política por lá. Embora, eu acho que essa rede social sempre me lembra muro de periferia que tem sempre um revoltado que picha algo clichê. Quem não é clichê na nação dos “maria-vai-com-as-outras”? Sim. Eu posso dizer tranquilamente “Fora, Temer” e não ser de esquerda, eu posso muito bem não apoiar o Bolsonaro e ser conservador cristão. A questão é que o povo não entendeu que não estamos num jogo de futebol que você escolhe um lado, se a economia não vai bem, você não vai bem. Se a infraestrutura não vai bem, você não vive bem. Se o país não vai bem e não colocar pessoas certas e preparadas, as questões nem conseguirão ser discutidas em redes sociais. A questão não é ter um “herói”, mesmo o porquê, ele não conseguirá governar sozinho e se você não prestar atenção no voto parlamentar, você pode até atrapalhar seu candidato à presidência.

Agora imaginem pessoas acorrentadas desde seus nascimentos e essas correntes lhe prendiam para olharem na parede, onde refletiam sombras. Ninguém sabia que aquelas sombras eram sombras de algo muito mais verdadeiro, mas, essas sombras eram a verdade para aquelas pessoas. As pessoas nasciam nas correntes, cresciam nas correntes, ficavam adultos nas correntes, ficavam velhos e morriam acorrentados. Porquê, por quem, e o que levava a isto, ninguém sabia. Aliás, ninguém sabia sequer que estavam na verdade acorrentados e as sombras são ilusões de objetos atrás da fogueira que se encontrava nos fundos dessa caverna. E assim, um desses humanos, quebra as correntes, o porquê, não se sabe e nem se foi proposital. Sabemos que essa corrente foi partida e o homem saiu dessa caverna e viu um mundo diferente, um mundo que no primeiro momento fez doer seus olhos. Mas, ao acostumar sobre a luz do Sol, ele vê um outro mundo muito mais colorido, muito mais iluminado e muito mais, real. Não são sombras de algo atrás de um fogo, mas algo materializado e único. Algo belo e que nada tinha a ver, com uma projeção.

Poderíamos cair em uma certa tentação em colocar esse mundo verdadeiro em um mundo metafisico, mas, existem realidades que não percebemos e nem vamos perceber. O ser humano não percebe o obvio. Pesquisas mostram que nosso cérebro transforma o caos em ordem, o obvio muitas vezes, é caótico por desmontar nossas crenças que aquilo é uma ilusão e não existe. A questão é: por que aquele homem não surtou com esse obvio? Porque a nova realidade era ordenada, agora imagine que aquele homem descobrisse que não era homem e que era um inseto sonhando ser um humano. Com certeza ele iria surtar ao ponto de não aceitar. Porém, ao ver essa nova realidade o homem ficou maravilhado com que viu e quis alertar os outros, porque achou que aqueles seres humanos, eram aprisionados naquela pequena realidade. Mas ele aceitou rápido, ele de alguma forma, sabia que aquelas correntes o limitavam a ver coisas limitadas e bastante, comuns. Foi daí que o homem descobriu que as crenças daqueles seres humanos, acreditando que aquilo seja realidade, na verdade, eram meras sombras que os “donos” da caverna queriam que acreditassem. Mas cuidado, talvez um apresentador de tevê também esteja vendo sombras, um comunicador esteja vendo sombras.

A informação passa pelo filtro das nossas crenças pessoais, dos valores que somos educados. Então, aquele homem passou a falar sobre essa nova realidade aqueles seres humanos, dizendo que aquelas imagens são na verdade, sombras, copias de algo verdadeiro atrás do fogo. Ninguém acreditou. Todos acharam que o homem tinha ficado maluco, porque não poderia existir outra realidade a não ser aquela realidade que viviam. Disseram barbaridades para ele, ameaçaram, riram, até que, como o homem insistiu muito, ele foi assassinato por aqueles que quis libertar. Por que? Simples. As crenças dependem muito da realidade na qual vivemos e o que nos transmitiram. As pessoas da caverna acreditavam piamente que a realidade eram aquelas sombras, aquilo era apenas projeções de algo muito mais além do que poderiam imaginar. Os valores são criados dentro da cultura que esses valores foram construídos. Então, quando vimos um Sócrates, um Buda, um Jesus ou outras pessoas que saíram dessas “correntes”, eles são desprezados enquanto vivos. Porque o que diziam não interessavam muito os que detém o poder. Os donos da caverna.

Jesus é um exemplo bem significativo. Foi desprezado durante os três anos que tentou trazer a verdadeira realidade da alma humana, mas, não desistiu da sua missão emblemática de tentar tirar as “travas” dos olhos dos homens. Teve um fim trágico. Foi condenado e um bandido foi solto. Foi açoitado até suas costelas apareceram em carne viva e ainda, como um escarnio, teve sua coroa de espinhos que o machucaram até seu crânio ficar amostra. Seu olho ficou quase pendurado. Suas pernas foram quebradas na crucificação e suas mãos, quase se dividiram e duas. Sagrando, não conseguindo respirar, cego de um olho, no meio de dois ladrões, disse ainda: “perdoai pai, eles não sabem o que fazem”.  Ainda, um judeu caçador de cristãos, após sua morte, disse ter sido chamado por ele para ser seu discípulo e escreveu cartas, essas cartas são mais lidas do que seus ensinamentos. O mesmo império que matou Jesus, depois de trezentos anos, com a desculpa de seu imperador tinha se convertido, instituiu uma “ekklesia universalis” para pregar o que diziam ser as palavras de Jesus. Mas, no meio disso, o império se desfez só sobrando sua “ekklesia” e na idade média, muitos desses ensinamentos se mesclaram com ensinamentos de interesse político, interesses de dominar povos bárbaros, de limitar a procriação humana.

Então, novos homens se levantaram da caverna e quebraram a correntes como Lutero, como Calvino entre outros, também, na filosofia. Depois de quinhentos anos as correntes voltam e as crenças voltam como eram nos tempos do império romana. Jesus, não ficava com os moralistas, nem com os que defendiam a direita ou a esquerda, mas ficava com os “pecadores” e aqueles que eram doentes, eram tristes e se vivesse hoje, ficaria com o povo LGBT e com aqueles que precisasse de consolo. Ele mesmo dizia que o reino dele não era desse mundo, pois, ele não tinha nada que o prendia aqui e não dá satisfação para sacerdote nenhum.

Assim como Platão escreveu o mito da caverna em sua obra A Republica, no livro sétimo, poderíamos dizer que ele se referia ao que aconteceu com seu mestre Sócrates. Sócrates desfez a crença das sombras mostrando que os mestres que sabiam nada sabiam, mas eles mesmo, disse isto. A frase mais famosa dele: “sei que nada sei”, nada mais é do que a demonstração da humanidade do filósofo.  Quem mostra a sua ignorância sabe que entendeu a realidade. A ignorância desfaz as crenças construídas a partir de ensinamentos daqueles que querem dominar, os donos da caverna são aqueles que projetam as sombras. O que são essas sombras? Os anúncios de tevê? São as crenças religiosas? São aquelas crenças políticas?

As sombras são muito mais do que meras propagandas de objetos inúteis, muitas vezes. Quando acreditamos que uma rede social tem uma relevância política, você está numa sombra. Quando você acha que uma discussão política e usa meme, ou usa escarnio para atacar uma pessoa e não uma ideia, você vê as sombras. Quando você acredita que um único homem, seja da direita ou da esquerda, pode melhorar um pais de tamanho continental como o nosso, você está vendo as sombras. Na verdade, as sombras são todas as crenças que não sabemos educar nossa mente em não acreditar e não é culpa sua, muitas vezes, e sim, do sistema que você está inserido. Eu, por exemplo, tenho um ceticismo bastante apurado para heróis, para informações da mídia, e para, aqueles que ficam dizendo em “teorias da conspiração”, porque, a ciência como arma de dissipar as sombras, começam a produzir elas. Não acredito na ciência cegamente, do mesmo modo que não acredito na religião. Mas atenção! Eu não disse que Deus não existe ou sou ateu, eu não acredito cegamente na religião. Do mesmo modo, não acredito mais nessa forma arcaica de fazer política, mas também, não acredito em ditaduras os “messias” do tipo D. Sebastião, o rei que até hoje é esperado em Portugal.

Eu sempre digo que o Twitter parece um muro de periferia, memes sem sentido nenhum, escritos políticos de ordem (ordem até para o exército), como se as pessoas perdessem a sanidade. A questão é que as redes sociais viraram a caverna que Platão descreve, como sombras de uma realidade muito maior. Sempre, no Natal, acreditamos em um papai Noel fabricado por uma fábrica de refrigerante – que foi acusada de usar coca na sua formula -  que hoje, sabemos não ser verdadeiro. São Nicolau andava de treino, puxado por cachorros e tinha uma roupa verde e não vermelha. Acreditamos num coelho da pascoa do tipo das fabulas dos desenhos Disney – a maior desgraça de George Lucas foi vender os direitos autorais para ela do Star Wars – porque, coelhos são animais que se reproduzem rápido e o ovo, de chocolate, é o símbolo da renovação. Mas a maioria prefere ficar nas sombras e acreditarem só no que compram, no que enxergam, no que pensam ser a felicidade. A felicidade não é ter um carro, é poder ter um carro, pois, o comprar não quer dizer se vai poder manter. A felicidade não é parecer rico no Instagram, é manter essa felicidade quando não tiver mais nada disso. A felicidade deveria ser igual Deus para o judaísmo, pois, escrevem D´us para não dizer o “nome dele” em vão, no mesmo modo, deveríamos escrever “alegrinho”. Somos, na verdade, alegrinhos.

Talvez, eu nasci com as correntes fracas porque sempre tive a necessidade de aprender e quanto mais aprendemos, sempre vamos enferrujar essas correntes. Mas se as sombras são símbolos de uma realidade ilusória, e as correntes são os conceitos que nos ensinam dentro da cultura onde foram produzidas. Ficamos presos em religiões. Ficamos presos em conceitos. Ficamos presos em ideologias. Sem questionar nada, ficamos acreditando em crenças que nada vão ajudar em nosso crescimento. A evolução universal, não tem a ver só na biologia, mas existe uma evolução muito maior dentro do que conhecemos. Você acha que todo o conhecimento acaba nessa vida? Você acha que tudo que leu, aprendeu, que viveu, que absorveu e fez, acabara no nada? Seria muito mais simplista e preguiçoso achar que acabou na hora da morte, seria, no entanto, mais cômodo acreditar no nada.


O nada é uma sombra, tem a mesma validade da questão do mistério divino, não há como acreditar cegamente. Sou cético ao ateísmo militante ou não, sou cético na questão religiosa, sou cético na questão cientifica. Minha mãe morreu de câncer e todos nós sabemos, que a onda crescente de câncer é devido aos testes nucleares do atlântico. Isso não é uma teoria da conspiração, isso é fato comprovado com as bombas de Hiroshima e Nagasaki, do acidente de Chernobyl e por mais que neguem, muitas nações fizeram sim testes nucleares.  Então, eu não acredito que as coisas são simples como explicações cientificas só para explicar uma doença que era rara, passou a ser comum no século XX.  Porque? Por que tantos esforços para explicar algo que quem tem uma leitura razoável cientifica, sabe que as explicações não têm nenhum embasamento? Por que devo acreditar em algo que é financiada pelo dono da caverna? Isso é não acreditar nas sombras. As crenças não são só religiosas, vivemos numa realidade que aprendemos ser realidade. Mas será mesmo que é a realidade?

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