terça-feira, 26 de dezembro de 2017

É machismo ou um grito contra a igualdade de gostos?








Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Em grupo de Facebook, uma colega postou um meme – figuras que imitam fatos reais – que dizia: “Num mundo cheio de Anittas, sejam mais uma Kate Middleton”. Vamos esclarecer algumas coisas aqui que não estão, muito bem, esclarecidas. A Catharine Middleton é a duquesa de Cambridge e esposa do príncipe William, que é, a nobreza britânica. E a Anitta, como todos sabem, é a cantora que se diz de funk, mas faz um “frete” com o pop que as maiorias das cantoras, cantam. A questão não é musical, é comportamental. Enquanto Lady Middleton anda com roupas elegantes, aparece com os filhos sempre com sutileza, Anitta aparece com roupas bem mais provocativas. Mas a frase acima tem várias interpretações que não podem faltar.

  Mesmo que em alguns casos a frase é acusada de machismo – existe sim mulheres machistas – que tenho que descordar. O começo da frase começa com “num mundo cheio de Anittas”, como se todas quisessem ser iguais a Anitta, serem mulheres independentes, seres mulheres bonitas, serem mulheres que rompem as amarras de uma dominação masculina e encontram uma outra proposta. A questão vai muito além do machismo, vai até o medo que essas mulheres geram aos homens e eles, terem que se desdobrar para agradar as mulheres. A tempos atrás, o homem era o grande dominador e as mulheres eram “obrigadas” a aceitar isso, e quem rompia tudo isso, ou arranjava um outro igual (a diferença era mínima), ou era chamada de “puta” naturalmente, por aquelas que não tinham coragem. A questão é freudiana, porque tudo que criticamos, será sempre aquilo que não temos coragem de fazer. Aquelas mulheres e até essas que concordam com esta frase, não tem coragem de romperem com o “martírio” de um marido chato.

Outra questão “num mundo cheio de Anittas”, é a questão de todo mundo querer ser um personagem dentro da mídia. Eu quero ser “panicat”, eu quero ser igual o que está na moda. Quanto mais na nossa cultura que as pessoas tendem a fazer o que os outros fazem, tendem a fazer o que a maioria faz. O moralismo “tupiniquim” sempre tende a ficar repetindo o que os religiosos falam a séculos, porque, bem ou mal, somos herdeiros da religião católica romana. Ponto. O espiritismo é católico. O protestantismo é católico. O budismo é católico. Enfim, até o conservadorismo é católico e nada tem a ver com a essência do conservadorismo que é, sem dúvida, muito mais cético (eu diria, estoico), do que, propriamente, uma ideologia religiosa. Por outro lado, ser moralista não é ser conservador. O moralismo é uma doutrina ou um comportamento filosófico ou, até mesmo, religioso, que elege a moral como um valor universal, em detrimento a outros valores culturais. A frase sobre a Anitta e a duquesa Middleton, é muito mais moralista do que machista.

Por que? Porque a outra questão do moralismo é considerar inconsistente a moral considerada, com o sentimento moral, por se basear em preceitos (norma contém uma forma abstrata, ou seja, a descrição do fazer ou não fazer, e toma um comando em reação à conduta omissiva ou ofensa à conduta esperada), tradicionais irrefletidos (que não se reflete) ou por ignorar a particularidade e a complexidade da situação julgada. Ou seja, essa frase ignora a complexidade da questão, pois, ninguém poderia julgar ninguém por uma roupa, ou por ser apenas, ser diferente daquilo que todo mundo espera. Por outro lado, é uma questão de cultura. Em lugares tropicais, as pessoas tendem a serem muito mais propensas a serem sensuais e ponto, o resto é conversa moralista. E também existe outra coisa, a mistura que deixa o corpo da mulher brasileira muito mais definido. Então, não vejo diferenças morais entre a Lady Middleton e a Anitta, e sim, diferenças culturais. Os britânicos são mais conservadores por causa do seu clima, porém, não quer dizer que sua moral seja superior ou maior do que a nossa. Como disse em um outro texto, o conservadorismo não é uma doutrina de religiosos paranoicos e sim, uma doutrina cética que nada tem a ver com o modus operante das religiões.


Mas, porém, o verdadeiro religioso (no modo espiritual) é o cara cético que gosta do modo racional. Claro, que as pessoas creem em muitas coisas que não tem muito a ver, mas, as pessoas se enganam com suas crenças porque querem ser mais e ter razão. As coisas são muito mais complexas. As histórias são muito mais subjetivas e as verdades não são absolutas. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário