quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O povo não é preconceituoso, é chato mesmo!


Resultado de imagem para chato

Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Uma das coisas que gosto da filosofia é o ceticismo que ela traz consigo. Desde muito jovem, nunca acreditei muito nas coisas que os outros me diziam. Claro. Eu era bem mais místico que sou hoje, porque aprendi também, que o verdadeiro místico, é aquele que tem um certo ceticismo. O religioso, o verdadeiro, tem um certo ceticismo. A questão é: devemos acreditar mesmo em tudo que nos dizem? Claro que não. Existem muitos blogs e muitos sites que dizem mentiras e muitas pessoas, que podem ser fakes (perfis falsos), manipulam a notícia e manipulam a opinião das pessoas. Falando sério, o nosso povo, é facilmente, manipulável. Nossa baixa escolaridade – não de frequência escolar, mas de qualidade escolar – permite tal coisa.

Vamos esclarecer uma coisa, o conservadorismo verdadeiro não vem de paranoia religiosa, ele vem do ceticismo e mais precisamente, o ceticismo de David Hume. Não tem nada a ver com pastor e seu pastoreio, tem a ver com as mudanças muito radicais, porque um verdadeiro conservador, tem um certo distanciamento a revoluções. Aprendi isso com o filósofo Luiz Felipe Pondé num vídeo interessante sobre o tema.  A questão é que estão confundindo um pouco as coisas e os preconceituosos – não os mesmos que os paranoicos da esquerda apontam – começam a mostrar a cara. Ser conservador requer estudo histórico, ser conservador é ter a certeza daquilo que você acredita e segue. Não ser fiscal de “c*” alheiro. Isso é gente chata. Aliás, gente chata, por exemplo, é contra o sucesso do Pabllo Vittar, não por ele ser um mal cantor e suas músicas serem uma porcaria (que de fato é), mas por ele ser “drag queen” e homossexual. É um fato e não negamos. Não se gosta da Anitta não porque suas músicas não têm nada a acrescentar na nossa vida – gosto do jeito e das atitudes dela – mas porque para ser uma mulher “direita” tem que se vestir sem decote e sem shortinho curto, ainda, ser submissa aos homens. Namoro com uma pessoa que usa decote, porém, me respeita e tem muita gente que não usa, que trai na cara dura. Caráter nada tem a ver com roupas ou religiões, tem a ver com atitudes.

Mas, também, ter atitude não é pedir intervenção militar. Não sou contra uma certa analise do fato da onda crescente da corrupção, mas, pedir que o exército faça o papel de polícia. Polícia é polícia (defende a sociedade civil) e o contingente do exército é o exército (defende as divisas do país).  Se são instituições legitimas ou coercivas, é uma outra discussão que tem a ver com a maneira que tratamos o discurso do poder como apenas um discurso. Aliás, um discurso tem que ter uma certa lógica enquanto o termo grego “logos”, como se tivéssemos que trilhar um caminho e se você desviar dele, você se perdera. A narrativa é um deles.

Daí chegamos ao ônus do problema. As pessoas que não sabem diferenciar os discursos – poderíamos analisar vários, mas esse não é o intuito do texto – acredita em qualquer narrativa que caiba dentro do seu conceito. Poderíamos dizer: “as pessoas com deficiência não podem namorar”, pelos critérios que sabemos existir dentro de uma narrativa sócio-normativa. Como ele vai sustentar a mulher? Como ele vai ter um emprego? Quem vai cuidar do casal se eles forem dois cadeirantes? Acontece que isso é um pré-conceito, ou seja, um conceito pré-estabelecido sem nenhum exame critico daquilo que se colocou como um valor. Assim, os algoritmos das redes sociais trabalham, eles trazem tudo aquilo que acham ser importante para você. Mas aí mora um outro perigo, o fechamento de uma caixa pronta sem que você monte. Ai, não foge da questão da televisão que moldava seus conceitos.  O Facebook e o Instagram – são do mesmo dono – moldam o seu conceito de status quo de sempre ser maravilhosos, sempre sermos pessoas importantes, sempre buscamos o amor enquanto, seres que quer o outro como companhia eterna.

Essa narrativa ocidental acaba sendo, chata. Temos que ser seres humanos, andantes, brancos, ricos (ou em situação média), tem que ser “gostoso”, tem que comer em tal lugar, tem que assistir tal coisa. Tudo aquilo que é popular é chato. Eu estou numa cadeira de rodas e isto não me impede de ter tirado três diplomas e escrever esse texto. Para muitas pessoas, isso não é possível pela imagem da pessoa com deficiência como uma pessoa que não pode nem, pensar. Pensar é inerente aos seres conscientes, portanto, os seres conscientes pensam e, muitas vezes, seres que nem imaginamos pensam também. O pai da computação, Allan Turing, uma vez disse que uma coisa que pensa diferente, não quer dizer que não pensa. Uma pessoa com síndrome de down pensa, ela só tem um atraso mental da idade que tem. Um autista pensa, só tem uma dificuldade de relação as pessoas. Pessoas que tem paralisia cerebral, que é meu caso, pensam e bem, só perderam alguns movimentos. A questão é complexa e merece uma reflexão melhor.


A questão é que esse povo é chato. Não são preconceituosos, são chatos mesmo. Porque querem ser aceitos por uma migalha de atenção. Só isso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário