Por Amauri Nolasco
Sanches Junior
Uma das coisas que gosto da filosofia é o ceticismo que ela
traz consigo. Desde muito jovem, nunca acreditei muito nas coisas que os outros
me diziam. Claro. Eu era bem mais místico que sou hoje, porque aprendi também,
que o verdadeiro místico, é aquele que tem um certo ceticismo. O religioso, o
verdadeiro, tem um certo ceticismo. A questão é: devemos acreditar mesmo em
tudo que nos dizem? Claro que não. Existem muitos blogs e muitos sites que dizem
mentiras e muitas pessoas, que podem ser fakes (perfis falsos), manipulam a notícia
e manipulam a opinião das pessoas. Falando sério, o nosso povo, é facilmente,
manipulável. Nossa baixa escolaridade – não de frequência escolar, mas de
qualidade escolar – permite tal coisa.
Vamos esclarecer uma coisa, o conservadorismo verdadeiro não
vem de paranoia religiosa, ele vem do ceticismo e mais precisamente, o
ceticismo de David Hume. Não tem nada a ver com pastor e seu pastoreio, tem a ver
com as mudanças muito radicais, porque um verdadeiro conservador, tem um certo
distanciamento a revoluções. Aprendi isso com o filósofo Luiz Felipe Pondé num
vídeo interessante sobre o tema. A
questão é que estão confundindo um pouco as coisas e os preconceituosos – não
os mesmos que os paranoicos da esquerda apontam – começam a mostrar a cara. Ser
conservador requer estudo histórico, ser conservador é ter a certeza daquilo
que você acredita e segue. Não ser fiscal de “c*” alheiro. Isso é gente chata. Aliás,
gente chata, por exemplo, é contra o sucesso do Pabllo Vittar, não por ele ser
um mal cantor e suas músicas serem uma porcaria (que de fato é), mas por ele
ser “drag queen” e homossexual. É um fato e não negamos. Não se gosta da Anitta
não porque suas músicas não têm nada a acrescentar na nossa vida – gosto do
jeito e das atitudes dela – mas porque para ser uma mulher “direita” tem que se
vestir sem decote e sem shortinho curto, ainda, ser submissa aos homens. Namoro
com uma pessoa que usa decote, porém, me respeita e tem muita gente que não
usa, que trai na cara dura. Caráter nada tem a ver com roupas ou religiões, tem
a ver com atitudes.
Mas, também, ter atitude não é pedir intervenção militar.
Não sou contra uma certa analise do fato da onda crescente da corrupção, mas,
pedir que o exército faça o papel de polícia. Polícia é polícia (defende a
sociedade civil) e o contingente do exército é o exército (defende as divisas
do país). Se são instituições legitimas
ou coercivas, é uma outra discussão que tem a ver com a maneira que tratamos o
discurso do poder como apenas um discurso. Aliás, um discurso tem que ter uma
certa lógica enquanto o termo grego “logos”, como se tivéssemos que trilhar um
caminho e se você desviar dele, você se perdera. A narrativa é um deles.
Daí chegamos ao ônus do problema. As pessoas que não sabem
diferenciar os discursos – poderíamos analisar vários, mas esse não é o intuito
do texto – acredita em qualquer narrativa que caiba dentro do seu conceito.
Poderíamos dizer: “as pessoas com deficiência não podem namorar”, pelos
critérios que sabemos existir dentro de uma narrativa sócio-normativa. Como ele
vai sustentar a mulher? Como ele vai ter um emprego? Quem vai cuidar do casal
se eles forem dois cadeirantes? Acontece que isso é um pré-conceito, ou seja,
um conceito pré-estabelecido sem nenhum exame critico daquilo que se colocou
como um valor. Assim, os algoritmos das redes sociais trabalham, eles trazem
tudo aquilo que acham ser importante para você. Mas aí mora um outro perigo, o
fechamento de uma caixa pronta sem que você monte. Ai, não foge da questão da
televisão que moldava seus conceitos. O
Facebook e o Instagram – são do mesmo dono – moldam o seu conceito de status
quo de sempre ser maravilhosos, sempre sermos pessoas importantes, sempre
buscamos o amor enquanto, seres que quer o outro como companhia eterna.
Essa narrativa ocidental acaba sendo, chata. Temos que ser
seres humanos, andantes, brancos, ricos (ou em situação média), tem que ser
“gostoso”, tem que comer em tal lugar, tem que assistir tal coisa. Tudo aquilo
que é popular é chato. Eu estou numa cadeira de rodas e isto não me impede de
ter tirado três diplomas e escrever esse texto. Para muitas pessoas, isso não é
possível pela imagem da pessoa com deficiência como uma pessoa que não pode
nem, pensar. Pensar é inerente aos seres conscientes, portanto, os seres
conscientes pensam e, muitas vezes, seres que nem imaginamos pensam também. O pai
da computação, Allan Turing, uma vez disse que uma coisa que pensa diferente, não
quer dizer que não pensa. Uma pessoa com síndrome de down pensa, ela só tem um
atraso mental da idade que tem. Um autista pensa, só tem uma dificuldade de relação
as pessoas. Pessoas que tem paralisia cerebral, que é meu caso, pensam e bem, só
perderam alguns movimentos. A questão é complexa e merece uma reflexão melhor.
A questão é que esse povo é chato. Não são preconceituosos, são
chatos mesmo. Porque querem ser aceitos por uma migalha de atenção. Só isso.
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