sábado, 30 de dezembro de 2017

Por que professores de filosofia devem ser de esquerda?




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Por Amauri Nolasco Sanches Junior

Pode não parecer, mas sou formado em filosofia. Porém, mesmo acreditando no progresso e que as mudanças são necessárias para a evolução da espécie humana, não tenho nenhuma ideologia. Porque, sempre pensei e tive a convicção que um bom filósofo era aquele que via as coisas sem tomar nenhum partido, que não tivesse nenhuma religião (eu sou partidário de ter uma espiritualidade sim), para analisar todas de modo não contaminar a sua análise. O caso de ser de direita (conservador) e ser de esquerda (progressista), também faz parte da minha convicção do que eu penso. Acho que não há lado no Brasil, porque sempre houve, muito mais, interesses em jogo. Então, as oligarquias que regem o Brasil e séculos – não vou ser idiota de não vê essas oligarquias – usam as ideologias para dominar e manipular a massa, conforme os interesses do momento. Um professor de filosofia deveria – usando um pouco Kant – ter o dever moral de enxergar que a esquerda e a direita, na verdade, só é um “boot” para reprogramar o sistema.

Um sistema não pode ter dois lados, pois, é um conjunto de elementos independentes de modo para formar um TODO organizado. Vindo do grego “σύστημα” (systēma), quer dizer “combinar”, “ajustar”, “formar um conjunto”. As ideologias se combinam dentro do conjunto de tudo e do TODO, portanto, não existe uma esquerda que é contra, uma direita que é a favor, mas todos são o mesmo sistema que corrompe e levam a maioria a miséria material e a miséria espiritual. Assim, quem realmente, aprendeu filosofia, sabe muito bem, que para ser “amigo da sabedoria” devemos sempre olhar num modo transcendente das ideologias e religiões predominantes em uma cultura.

No blog Analise Agora num texto do professor de filosofia, Cicero Barros, “A MÁSCARA DA ELITE RAIVOSA CAIU E APARECEU A FACE DA CORRUPÇÃO.”, mostra o quanto é perigoso uma análise ideológica da política brasileira. Aliás, o professor Cicero já começa errado com o nome do blog, pois, dentro da filosofia se diz crítica e não analise, que tem um tom, muito mais limitado. Uma crítica é uma análise muito mais profunda dentro de um assunto e dentro dos vários assuntos que o autor, gostaria de tratar nele. Na descrição está:
 “Este blog tem como meta promover debates a partir dos principais temas alvos o homem, o conhecimento e o meio ambiente. E todos os tópicos transversais e pertinentes como educação, política, economia, lazer, saúde, cultura do Brasil e do mundo. Compartilhar e interagir com amigos nas redes sociais, as produções deste canal de comunicação. ”

Quando se diz “promover o debate”, se diz promover algo muito mais profundo do que você escrever “elite raivosa”, porque você acaba já dês do começo do texto, dando um ar que defende um lado ideológico. O que seria uma “elite raivosa”? Todos nós sabemos, que em todos os países do mundo, em todos os momentos da história humana, teve aqueles que tinham alguma coisa e aqueles que não tinham, nada. Acontece que o ressentimento do ser humano contemporâneo é que se sentiu enganado da promessa que os regimes democráticos, além de não ter colaborado com a grande promessa da igualdade entre as classes, ainda, aumentou o “abismo” que separou os mais pobres com os mais ricos. Não acredito na meritocracia, porém, não acredito em nenhum regime que tenta nivelar essa igualdade para a linha da miséria humana, após o regime stalinista. Mas, vamos ser justos com a filosofia socialista, Marx nunca disse sobre ficar pobre ou disse sobre socialismo ou comunismo, e sim, Engels. Acontece que a questão socialista não é tão simples assim, não caberia num texto só.

A elite não é raivosa pelo simples fato, que ela tem seus mecanismos de manipulação, até mesmo, acreditar que temos liberdade de escolher alguma coisa. Por outro lado, a elite nunca foi raivosa, porque teve uma escolaridade bem superior e sabe controlar seu próprio sentimento, sua própria raiva, sua frieza fazem deles exploradores. Portanto, seria muita ingenuidade acreditar que a elite poderia estar raivosa por causa de um regime populista que mais ajudou bancos e instituições financeiras e isso estará em qualquer jornal da época.

Entre muitas coisas que estão no texto, já me desanima o autor ficar dizendo chavões populares que nada tem de filosóficos. Chavões como “mídia golpista” me dão, na verdade, uma preguiça imensa em analisar esse tipo de coisa. Claro que as mídias vão ser manipuladas pelo governo, seja ele qual for, porque no Brasil as redes de televisão e rádio são por concessão, ou seja, se o governo achar por bem não liberar para tal rede de televisão, ele pode tirar ou boicotar.  Simples. A questão é que o governo petista abusou desse poder achando que suas resoluções populistas, eram coisas que não podiam ser criticadas, que o caso do mensalão, não podia ser mostrado. Muitos jornalistas foram mandados embora, com um simples telefonema. Se, realmente, a mídia conspirou contra o governo petista, não foi à toa não. Por outro lado, e muita ingenuidade política, achar que as mídias junto com o povo fazem alguma coisa, pois, na minha visão, não tem poder nenhum. Os franceses quebraram toda Paris. Os argentinos quase iniciaram uma guerra civil por causa da previdência. Os brasileiros acham que um “patinho” na frente do sindicato dos industriais – onde mesmo no mundo tem um sindicato dos industriais? – ou um pão com mortadela, bandeiras vermelhas ou piadinhas sem graça, vão realmente intimidar os políticos? Como disse, o sistema é um só, os políticos usam a massa para melhor manipular e fazerem o que querem, mas, quem fazem são eles.

Mas, é claro, que existe uma elite e essa elite ainda detém as capitanias hereditárias pelo simples fato, de ter acordo para melhor governarem. O Nordeste nunca passou a crise da seca, não se tem um plano de industrializar lá, por causa do interesse que há ainda na pobreza. Os dois governos petistas não acabaram com o coronelismo, o petismo não foi capaz de dar ao povo necessitado algo de verdade. Tirar o povo da miséria não é dar cento e alguma coisa de bolsa-família, porque você tem que estruturar a cidade, você tem de dar uma vida digna a essas pessoas. O que adianta dar dinheiro? O que adianta ter dinheiro, mas não ter infraestrutura? E não me venham com esse papo que a “direita golpista” fez a mesma coisa, porque se o petismo foi eleito com a promessa de mudança – no qual não se teve nem com as pessoas com deficiência, pois, até a fiscalização da lei de cotas das empresas foram paralisadas – então, deveriam moralmente, fazer diferente ou até melhor do que a “direita golpista”. O que fizeram melhor da “direita golpista”, foi corromper todo mundo sem distinção de ideologia política.

Essa é a vantagem de não ter nenhuma ideologia política, para poder analisar sem nenhuma prisão conceitual, sem nenhum chavão direitista e esquerdista.

Outra coisa é esse “golpe” que tanto os esquerdistas dizem, sem fundamento, que o ultimo governo petista teria sofrido. Para ter um “golpe de estado” tem que ser a força, militarmente, ataque entre outras coisas. Não foi assim. Mas se dizer que teve uma “traição”, aí eu posso até concorda, muito embora, eu concorde, que quem se aliou aos adversários políticos foi o próprio PT. Eles achavam que todo mundo iria ficar aliados a eles por toda a eternidade? Nem os deuses gregos, eram assim. A política tem a ver com o poder e o poder tem a ver com o interesse, esse mesmo interesse, tem a ver com o momento. Tudo é interligado e faz parte da restruturação do sistema. O sistema brasileiro gosta bastante de alimentar a pobreza, a ignorância e a criminalidade para o povo não cobrar do governo, isso nada tem a ver com direita e esquerda. Qual governante gosta de ser questionado? Qual governante que gosta de pessoas que sabem de muitas coisas e querem seu poder ter limitações? Toda crise é tirada dinheiro da educação, porque será? No petismo, não foi diferente.

Assim, dizer que esse governo é “ilegítimo” é forçar demais a “sardinha para sua brasa”. Primeiro, que o PT fez aliança com o PMDB para alcançar o poder, portanto, se elegeu a Dilma Rousseff, também elegeu Michel Temer. Não adianta achar que vai me convencer, que não sabiam das maquinações e as corrupções dentro do governo, porque, é impossível. Depois, sabemos muito bem, que a “direita golpista” faz isso a anos e não foram pegos, mas sabemos e quisermos mudar, pois, se quisermos algo igual, teriam elegido qualquer outro da “elite raivosa”. Essa mesma “elite raivosa”, apoiou a esquerda quando teve a sua maior chance de mudar o Brasil, tirar o povo realmente da miséria e não apenas dar um misero dinheiro a esse povo. A questão é ter uma resolução muito mais definitiva, muito mais afirmativa e muito mais responsável. Sem usar dinheiro público para pagar financiamento de campanha, sem tirar de onde não deve, para tampar rombos que eles mesmos fizeram. Sindicalismo. Você pega uma Kombi emprestada para uma outra função, depois devolve a mesma Kombi para sua função habitual. Só que o governo federal não tem uma Kombi, tem milhões de reais investidos em empresas estatais e fazer isso com esses milhões, requer uma manobra sindicalista muito maior. Ou seja, impossível.

Tem outra coisa, o vice-presidente do ex-presidente Lula é da “elite raivosa”, a mesma elite que os petistas acusam de ter dado o “golpe” a um governo que “pensava” nos pobres. Será? Será mesmo que foi a mídia que mostrou ou a população viu que nada mudou? As mudanças não vieram. As melhorias também não. O governo petista de São Paulo, foi um desastre – não apoio tudo do governo atual do prefeito eleito – porque deixou a cidade completamente, a deriva e gastando muito. O ex-prefeito queria transformar a capital paulista numa cidade europeia, impossível. Sem educação, sem preparo, sem policiamento, sem gerentes competentes, não deu certo. A socialdemocracia não funciona sem educação. A educação não é a escolaridade, a escolaridade é ética, a educação é moral. Portanto, a moral se aprende no berço, a ética se aprende fora dele.

Outra expressão do texto que o professor Cicero Barros escreveu, é a expressão “direita nazifascista” por conter fatos históricos sobre o tema. Uma pessoa que tem uma certa ignorância histórica sobre o tema, ainda podemos até entender, porque essa pessoa não teve uma educação adequada. Mas, um professor de filosofia, que sabe que por mais que esses políticos não tenham ética, estão longe de serem “nazifascistas”, é imperdoável. Eu sei que existem os defensores e até acho louvável, que alguém acredite em algo e defenda esse algo, com bastante fé. Porém, não podemos fazer uma crítica filosófica como se tivesse tendo uma conversa de bar. Impossível um sistema ter dois lados, impossível um sistema ser um TODO se é dividido em dois. Todo “ismo” tem a mesma essência.

Como disse vários autores – Huxley escreveu no prefacio do Admirável mundo novo na segunda edição em 1946 – os novos totalitarismos não são feitos por ditadores, com militarismo, com prisões, torturas e mortes, mas executivos que fazem só os que as corporações querem e desejam para o controle. O populismo é uma ditadura. Mas é uma ditadura numa maneira mais eficiência, o totalitarismo psicológico que faz com que a massa, faça o que querem os detentores do poder. Mas cuidado. Se tem o populismo de esquerda, também tem o populismo de direita, os conservadores também popularizaram o discurso esquerdista para melhor persuadir a massa a fazer o que querem. O professor de “filosofia” que escreve esse texto, esquece que não foi só a “direita raivosa” que fez a corrupção, a “esquerda santa” também corrompeu a grande maioria do poder. Houve o mensalão. Houve corrupção das empresas estatais. Houve acordo com vários governos de esquerda. Houve várias coisas que a direita já fazia, mas foi uma atitude ao extremo com a esquerda.


Portanto, a questão da corrupção do Brasil é uma questão cultural. Como disse acima, a ética é um aprendizado escolar, mas a moral é um aprendizado que se aprende no colo da mãe. Então, se joga um papel de bala na rua, você não tem moral. Se você não devolve um troco errado, você não tem moral. Se você fala mal do outro e só vê defeitos e não se coloca no lugar do outro, você não tem moral. Se nós mudarmos nossa própria atitude, as novas gerações vão aprender e aprendendo, vão agir conforme o que aprenderam. 

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