segunda-feira, 25 de junho de 2018

Por que que nada muda na inclusão de pessoas com deficiência?






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Amauri Nolasco Sanches Junior (aqui)


Quando nós olhamos o nosso país, temos a impressão que ele é um amontoado de culturas velhas e que não quer ver o futuro. Países lá fora, já perceberam – isso é a coisa mais inteligente que poderiam ter feito – que dois alicerces movem para o progresso: educação, com um ensino bom e não, matérias que acham ser importante; e o bem-estar social, como saúde, emprego e uma casa para morar. Porque, se você tiver uma saúde boa, você trabalha mais e ajudar a crescer a economia. Se tivemos emprego, compramos mais e a “roda” econômica gira e o país tem mais credibilidade dentro da economia global. Se não temos nem casa e nem um saneamento básico – alguns lugares aqui, as pessoas andam com os fossos abertos – temos mais estabilidade dentro das famílias e não temos índices de criminalidade e nem de outras atividades ilícitas. Isso é básico e não precisava ficar aqui falando isso. Mas, os nossos governantes têm prioridades de cunho próprio para se preocuparem.

Por que estou falando isso? Porque sempre temos que escrever isso para lembrar que nós, pessoas com deficiência, não nascemos a parte da sociedade. Nós estamos dentro da sociedade como qualquer ser humano. Nós somos seres humanos. Mas, temos um defeito que a minha noiva alertou, não sabemos o que seguirmos e não tem nada de novo dentro da luta da inclusão das pessoas com deficiência. E isso dentro da política, é muito nocivo e muito preocupante. Porque se você disser que defende a inclusão, todos os movimentos vão defender a inclusão e nós, como movimento efetivo, estamos sempre reivindicando a deputados e senadores, que dizem lutar pela causa. O que há de novo? Não temos e temos uma aversão – não eu, mas, todo o segmento das pessoas com deficiência – a lerem, a escreverem, a planejarem estruturas dos movimentos e reivindicações que estamos a anos tentando conseguir. A questão é que estamos patinando sempre nas mesmas coisas. Sempre achando que eu vou fazer, minhas ideias estão certas, a minha luta é adequada, mas, não há nada que os movimentos não tenham dito antes. Sempre aparece pessoas achando que é inédito lutar pelas pessoas com deficiência e não é, há movimentos aqui, que são movimentos mundiais de 70 anos de luta. Mesmo assim, temos sempre que perguntar: o que há de novo na luta por uma inclusão das pessoas com deficiência efetivamente?

Ora, o novo “barato” da vez, que me chegou por intermédio de alguns colegas, é o Inclusão de Rua. Segundo a boca a boca – como tudo aqui no Brasil – é um movimento que traz as pessoas com deficiência para a rua idealizado por um jornalista social. Primeiro temos que perguntar: qual a finalidade desse movimento? Como me responderam já, uma tomada de consciência. Ora, meu movimento junto com a minha noiva, a Irmandade das Pessoas com Deficiência, fazem exatamente a mesma coisa, saímos para passear e, no entanto, começamos a conscientizar as pessoas no intuito de respeitar a diversidade. A FCD (Fraternidade das Pessoas com deficiência e doentes), fazem o mesmo, passeiam e mostram as pessoas com deficiência para a sociedade. Entre outros movimentos, que fazem a mesma coisa a anos, e que a maioria não quer participar, porque temos um viés político e a maioria, só quer o “oba, oba”. Outra pergunta muito importante é: que jornalista social fez esse movimento? Qual a intenção de ele fazer o movimento e quem ele é? Fica parecendo que as pessoas nos usam – não estou dizendo que é o caso dele, mesmo o porquê, eu nem sei quem é o moço – para melhorar a sua imagem, ou para reforçar a imagem de pessoas que só querem passear e ir em balada (ou coisa parecida).

A questão vai muito além do que sair na rua. Existem pessoas que não saem nem na janela para tomar um sol. Não tem um tratamento médico adequado, existem ainda no Brasil (provavelmente, em outros locais da América Latina), que trancafiam pessoas com deficiência e até, amarram essas pessoas nas camas. Essas instituições foram denunciadas numa reportagem (aqui), que uma ONG internacional (Human Rights Watch), visitaram abrigos que cuidam das pessoas com deficiência física (que não é novidade). Sem nenhuma novidade. Existe isso muito no Nordeste, onde a religiosidade é muito acirrada – não estou falando que não existe em outras localidades – pessoas com deficiência são acorrentadas em suas casas por causa, da vergonha dos pais de terem uma pessoa com deficiência como filho. São crenças. Muitos abrigos – não só para pessoas com deficiência – usam essas crenças para ganharem dinheiro e prestigio como abrigos que cuidam dos “coitados” que não podem se locomoverem. O que fazemos como movimento? Nós não lemos. Nós somente, nos preocupamos com marketing pessoa – que não tem nada de errado – mas, não traz nada de novo na luta das pessoas com deficiência. Somente aquela opinião formada sobre tudo, como diria Raul Seixas. Então, eu prefiro ser uma “metamorfose” ambulante e dizer que sim, mudo de ideia, mas, não saiu do meu foco.

Curiosamente, eu vi dois vídeos bastante interessantes. Um é o chargista, Mauricio Ricardo, que ao falar do ódio virtual estar saindo do mundo virtual e refletir no mundo real, do dia a dia, deu um exemplo do cadeirante. Disse que para o cadeirante subir no elevador (ele disse rampinha), o motorista tem que o ajudar a subir e muitas vezes, as pessoas ficam reclamando e é verdade. Várias vezes, eu e minha companheira, presenciamos, pessoas reclamando de a van descer o cadeirante na rua, porque as calçadas estão irregulares – o tesão do brasileiro de fazer degrau – reclamam, que a van para numa vaga que ela deve sim, parar, porque é a vaga pera pessoas com deficiência. O que me chamou mais atenção foi: um cara que não está engajado na luta das pessoas com deficiência, sabe disso e fala para todo os seus seguidores, o porque os canais que estão engajados não falam? Vou deixar o vídeo (aqui).

O outro vídeo, foi da Mariana Torquato no seu canal “Vai uma mãozinha aí? ”, que respondeu um internauta com deficiência, dizendo que não havia se encontrado. Ela disse que também não tinha se encontrado com sua deficiência, pois, como não tem um dos braços – com má formação congênita – pensava que iria crescer de novo. Com o passar do tempo e com a conversa que ouviu a tia e a mãe dela, sobre vagas em concursos públicos, a ficha caiu e ela (Mariana), ficou muito mal por causa disso e a pouco tempo ela se aceitou. Ora, quantas pessoas com deficiência, não se aceitam e quase se suicidam? Quantas pessoas conseguem cometer o suicídio? Tanto é, que teve aquele filme patético, que cometeram suicídio por causa da sua paraplegia (no filme a culpa da deficiência é do próprio protagonista). Que reforça o que sempre disse: se você não se assumi o que você é, o que você tem, como você se locomove, não adianta você fazer milhares de movimentos que não vai adiantar nada. O vídeo (aqui).

Por fim, não menos importante, é a imagem que fazem das pessoas com deficiência que, reforçam tudo aquilo que eu disse. Não somos nem “anjos” e muito menos, “demônios” e caráter, não é sinônimo de deficiência. Por que estou dizendo isso? Porque existe uma imagem – muito difundida na igreja católica e protestantes – que as pessoas com deficiência são “coitadas” e isso é reforçado com campanhas como o Teleton. Onde as pessoas com deficiência precisam ser assistidas, que as outras pessoas que não tem deficiência, devem tutorear tudo que as pessoas com deficiência fazem. Como fui paciente da entidade, sei muito bem, que a AACD (Associação a Assistência a Crianças Deficientes), além de sub proteger quem fez tratamento lá, não tratou direito (muitas pessoas sofrem dores crônicas e problemas sérios por falta de um tratamento de verdade), não teve nenhum aparelho de verdade, porque sempre deu uma desculpa que não tinha Raio X ou outra coisa. Sempre tratou a mulher com deficiência, como meninas eternas (não tem ginecologista) e também, não deu um tratamento psicológico de verdade. Faziam terrorismo psicológico com os pais, dizendo que seu filho não vai andar, que seu filho desenvolveu o que tinha para desenvolver e ainda, mostra mentiras. Eles não têm trabalho nenhum de inclusão e nunca vão ter, porque ganham com a dependência das pessoas com deficiência, e ganham porque todo mundo paga, ninguém faz nada lá de graça.

A falta de maturidade vem da sub proteção da família e como isso pode refletir dentro da sociedade. Muitas pessoas com deficiência, acabam aceitando o fato de serem bajuladas como “coitados” por pura acomodação, seja familiar, seja institucional. Tem pessoas cadeirantes, que aceitam serem internados, que aceitam serem colocados em quartinhos nos fundos, que aceitam prêmios de consolação. A zona de conforto é gostosa, é confortável, é confortável abraçar causas já prontas. Mas, aí vem de novo a indagação: o que há de novo? Quando você vê que as pessoas não compartilham ou leem notícias que cadeirantes, literalmente, estupraram a amiga por causa de uma opinião dela (não sei em que contexto), podemos ver o quanto ainda temos o nosso estereótipo de “coitados” ou de “santos” que não podem ser mexidos. Deixo a reportagem (aqui). Isso é sim, herança deixada dentro de crenças e dentro da imagem de uma pessoa com deficiência dependente, imatura, que não sabe o que está fazendo. Sabe sim. Muitos cadeirantes engravidam moças e usam as deficiências como escudo para não assumirem, muitos cadeirantes cometem delitos e a cadeira de rodas não é “régua”, para medir caráter.

Fora que os postos de saúde não tratam as pessoas com deficiência direito, sempre jogando a culpa da doença como consequência. Como uma dor de dente tem a ver com a deficiência? Como um posto de saúde não pode tratar uma coisa tão seria de forma tão secundaria? Se pagamos temos entidades como a AACD, se vamos nas redes publica temos médicos que não dão importância para sua dor. Então, como um Inclusão na Rua pode ajudar as pessoas com deficiência trazendo uma nova visão? Porque, insisto, sair, passear, trazer consciência dentro de uma perspectiva nova, não estou vendo. Tudo é bem velho. Acho que usarei uma outra música do Raulzito com o Marcelo Nova, “tem muita estrela para pouca constelação”.

Meu Site (aqui)
Livro: Liberdade e Deficiência (aqui)
Livro: O Caminho (aqui)
Livro: Clube das Rodas de Aço: Tratado Sobre o Capacitismo (aqui)

domingo, 17 de junho de 2018

As cadeirantes estupradoras





Amor sob vontade 

Essa semana uma reportagem do “Globoesporte”, que confirma o que sempre disse nos meus textos sobre o segmento das pessoas com deficiência: cadeira de rodas não é parâmetro de caráter. A ética é primordial dentro de qualquer grupo e direito tem muito a ver, com deveres também. O caso aconteceu em fevereiro de 2017 e só esse ano a vítima relatou o acontecido. Que ao meu ver, deve ser apurado do mesmo modo se qualquer pessoa fizesse isso, inclusive, com prisões.

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Como disse, o caso aconteceu em fevereiro de 2017, quando acabou um treno da equipe Gladiadoras/Gaadin - Grupo de Ajuda dos Amigos Deficientes de Indaiatuba – que fica no interior de São Paulo. As jogadoras cadeirantes envolvidas, Lia, Denise, Geisa e Gracielle Silva, usaram um “pênis” de borracha para abusar de uma companheira. Gracielle era coordenadora do time na época e se suicidou no fim de maio. O fato aconteceu assim: jogaram a vítima no chão e usaram o órgão de borracha para abusarem. O vídeo circulou pelo whattsapp e pelas redes sociais. O advogado da Confederação Brasileira de Basquetebol em Cadeira de Rodas (CBBC) disse que o caso está sendo investigado e caso comprove o crime, há uma previsão mais concreta sobre o banimento das abusadoras, que, para mim, se há um vídeo não tem como negar.

As coisas para mim estão mais esclarecidas, não muito, na reportagem do “O Globo”, porque a reportagem do “Globo Esporte” estava completamente, vagabunda e confusa. Por que acontece isso? primeiro, porque as pessoas tem um tabu enorme de falar das pessoas com deficiência, como se fosse um crime. Uma cultura teletoniana (vinda do Teleton), que mistura uma cultura capacitista e uma cultura vitimista, católica cristã medieval. Ora, porque não tratar de igual realidade qualquer crime feito por uma pessoa cadeirante? Qual a diferença? A campanha “nós fodemos”, foi levada ao extremo.


Uma das envolvidas, disse que o “pênis” de borracha era dela e era apenas uma brincadeira. Mostra a incapacidade madura social que a maioria dos cadeirantes levam a vida. A maioria não lê. Não estuda nada e ainda, só pensa em sexo. Claro, que tem explicações psicanalíticas para isso. Vivemos numa sociedade judaico-cristã onde o sexo é um tabu por ser pecado, por ser errado e temos que não amar e sentir Deus, mas, teme-lo como se fosse um monarca no alto de um trono jogando punições. Os que tem razão são os homens, são os reis da casa, são os provedores, e as mulheres, devem ser submetidas a eles. Tudo que saem disso, ou é do demônio ou é de esquerda comunista (como a liberdade fosse errado), e isso, está na sociedade ocidental, a mais de mil anos (contando a conversão romana). Imagina isso para um cadeirante ou outra deficiência? A repreensão social e a margem de um preconceito perante o sexo, são bem maior do que o resto da sociedade. Começamos a sair para o mundo desde os anos 90 e isso é fato. Com isso a repreensão é bem maior e o libido do cadeirante é uma libido inexistente para a sociedade, que por experiência própria, existe sim.

Por outro lado, não quero parecer aqui que estou dando álibis as jogadoras, que acabaram com suas carreiras – uma até se matou- por causa de uma brincadeira idiota. Aliás, esta história de brincadeira é papo furado, porque se batesse na cara da outra cadeirante com o “brinquedo” ou fizessem outra coisa, mas, houve a penetração sem o consentimento e isto é estupro. Se houve estupro, houve crime. Se houve crime deve ser punido e isso, implica várias coisas jurídicas. Além do mais, há uma conduta anarcocapitalistas (libertário), do Princípio da Não Agressão (PNA). Esse princípio diz, que todas as pessoas são proprietárias de seu próprio corpo físico assim como todos os recursos naturais que elas colocam em uso através do seu corpo antes de qualquer um o faça. Isso implica o seu direito de empregar estes mesmos recursos como lhe convém até o ponto que isto afete a integridade física da propriedade do outro ou delimite o controle da propriedade de outro sem seu consentimento. É um princípio ético interessante na qual, eu concordo plenamente. Meu corpo não pode ser violado, porque as condutas naturais no qual tenho pleno direito de me expressar, foram impostas. No caso da vítima, ela foi violada no direito de querer ou não ser penetrada com o “brinquedo”.

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A questão é complexa, mas, vale uma reflexão. Eu venho falando desde a campanha da Kika de Castro de mostrar pessoas com deficiência pelados ou a campanha “Nós fodemos”, que temos que fazer uma coisa mais madura. Claro, temos todo o direito de expressamos nossa sexualidade, mas, a maioria de nós (pessoas com deficiência), e nossos pais, ainda não estão preparados. Sair de uma repressão sem uma devida educação, transforma uma conscientização em bestialidade e começam brincadeiras desse tipo dentro do segmento de pessoas com deficiência. Pessoas com Síndrome de Down, que são estereotipados como incapazes mentalmente, são muito mais maduros e seus pais tem muito mais capacidade de lhe dar com essas coisas, do que um cadeirante que não tem nenhuma deficiência intelectual. Essa “brincadeira” por parte das cadeirantes, mostra o quanto não querem ler e nem pesquisarem nada. 


Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

sábado, 5 de maio de 2018

Reflexões sobre a verdadeira acessibilidade



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Esse segmento das pessoas com deficiência me dá preguiça, mas, essa preguiça é no sentido de ter que explicar coisas tão obvias, como acessibilidade. Ter que explicar que a questão da acessibilidade não é só uma questão de inclusão de pessoas com deficiência, mas, explicar que uma rampa é sim um meio para uma gestante subir melhor, ou uma mãe subir com um carrinho de bebê. Além disso, muitas pessoas não pensam nos idosos que também, podem ter bastante facilidades, com rampas ou vias mais acessíveis.

Me deparei com o pensamento: “não queremos asfalto novo e sim, calçadas novas e acessíveis”, como se um asfalto novo, não fosse uma solução, mais ou menos, viável. Claro que é. Minhas costas – não só as minhas, mas da minha noiva e de uma grande parcela de pessoas com deficiência – doem ao passar com a van do ATENDE nos buracos de uma Sapopemba. Mas, sempre fazem frases de efeito para chamar atenção ou passar vergonha, porque as calçadas nada têm a ver com as ruas bem asfaltadas e isso, foi dito por uma conselheira do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Aliás, o CMPD está sendo, muitas vezes, usado de uma maneira ideológica para fazer uma política só social, mas, a política é um conjunto.


Além de acabar com a sua coluna, vai sempre danificar carros e qualquer transporte (tanto o ônibus como as vans acessíveis ou não), que os cidadãos de uma cidade usam e têm o direito em ter. Duas questões poderíamos deixar aqui na reflexão: essa pessoa acha que não tem mais ninguém na cidade além das pessoas com deficiência? As pessoas não podem desejar asfalto de boa qualidade para poder ter uma um transporte até melhor? Ora, por outro lado, as calçadas são arrumadas conforme os moradores e os donos de comércios que cuidam dessa calçada. Há multa, mas, deve ter denúncias para tal (no mesmo modo a Lei de Cotas de empresas, mas é tema para um outro texto). Portanto, se você não denuncia esse tipo de calçada, é mais do que óbvio, que a prefeitura não tem como multar o dono da casa ou comercio que arrumou essa calçada.

Ainda acho que é estranho, uma pessoa que gosta e “milita” no segmento da pessoa de deficiência, deve pensar muito além do que o paradigma de sempre. Que paradigma? O paradigma de pessoas que enxergam as pessoas com deficiência como pessoas que não podem fazer, não podem pensar e tem sempre um “paladino” da inclusão como suporte. Só que esses “paladinos” são pessoas que misturam os segmentos, acham que o mundo tem só as pessoas com deficiência e ainda, as pessoas com deficiência deveriam repensar essa atitude. Por que deve seguir outro segmento? Por que não tenho que expor minha opinião contra a maioria? Meu intuito é a reflexão, porém, por falta de estudo da maioria de quem tem deficiência, sempre ficamos à mercê de interpretações erradas e sem o menor, propósito. Tudo na vida é um pensamento, até a nossa realidade.

Mas o que seria uma realidade?

Existem milhares de pessoas com deficiência que não tem dinheiro, não tem emprego – antes do governo Temer (que era vice-presidente da Dilma), já existiam desempregados com deficiência com estudos e qualificados – sempre nenhuma condição de comprar nem um parafuso da sua cadeira de rodas (ou outro aparelho), e nem o próprio aparelho. Eu acho que inclusão não é ir nas baladas, não é em encher a cara em barzinho, não é ir em show de cantor brega ou não, não é ir nos SESCs da vida ou até mesmo, ir nas passeatas ou desfiles (como carnaval, orgulho gay, marcha para Jesus e etc). Inclusão é olhar para o lado e falar um “oi” para uma criança espantada com sua cadeira, é ir comprar o que você mesmo o que você deseja, é ter ética e seriedade nas atitudes que toma. É namorar uma pessoa e ser sério com essa pessoa, casar e ensinar coisas verdadeiras para os filhos. Se não te empregarem, procurar maneiras dignas de sustento e sobrevivência. Porque eu acho que a questão das pessoas com deficiência é ter sempre na cabeça que o mundo não é um playground eterno, um dia vai ter que crescer. Um dia vai ter que sofrer. Um dia vai ter que resolver os problemas. Um dia vamos ter que “crescer”.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News


e-mail: amaurij@gmail.com
@FilosofoAmauri

sexta-feira, 27 de abril de 2018

A verdadeira inclusão escolar



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O filósofo romano Sêneca tinha uma frase que era: “Omnis enim ex infirmitate feritas est” que em português, fica assim: “A maldade provém de alguma fraqueza”. Ou seja, pessoas maldosas sem nenhuma virtude da verdadeira bondade no sentido de ter o conhecimento, mas, é tão fraco e prepotente nesse conhecimento, que acha que sabe além daquilo que sabe. Acaba se auto alienando da sua própria ignorância. Sêneca era da escola estoica, e essa escola – onde a igreja absorveu bastante da sua filosofia – era bastante interessante no sentido de achar que certos assuntos eram perca de tempo e gastaríamos nossa energia, mais ou menos, sem nenhum sentido. Porque você não vai mudar aquilo, esse sentido é o que é e como se diz hoje em dia: “aceita que dói menos”.

Mas voltamos ao motivo do meu texto. Em um grupo sobre deficiência – se eu não me engano, era um grupo de Mielomeningocele – vi um vídeo e uma foto de um menino chorando e resolvi ler o post que a mãe escreveu revoltada com o ocorrido. A professora teria dito – depois de flagrar o menino com deficiência conversando – que mesmo com sua doença, ela não iria “passar a mão na sua cabeça”. Quando você imagina uma pessoa preconceituosa, imaginamos uma pessoa que não tem conhecimento nenhum e que o motivo desse preconceito, é justamente, a questão da sua própria ignorância. Porém, é uma professora e professores ao invés de criticar o ESTADO ou dizer tal bobagem – mesmo o porquê existe milhares de cursos pela internet ou não – deveriam ler sobre o assunto e não ficar com “desculpinha esfarrapada” de falta de tempo, porque para ir em manifestações contra a prisão do “messias” da esquerda, encontra. Claro, que não são todos os professores que são assim, nem todos os professores não estudam a questão. Mas, existem aqueles que ainda acham que crianças com deficiência deveriam ir para “classes especiais”, só que as “classes especiais” deixam um déficit muito grande dentro do aprendizado dessas crianças (experiência própria).

Então, a fala da professora seria um julgamento sem nenhum critério dentro da questão da deficiência (que chamamos de preconceito), se encaixa muito bem com a fala do filósofo Sêneca. A maldade humana é a fraqueza do ser que julgar saber e não sabe o que é a essência da virtude – como a ignorância socrática e a verdadeira bondade sem se preocupar com uma imagem de si mesmo – e a essência daquilo que deveria saber e não sabe. A questão paira não na questão da bronca em si mesma – mesmo o porquê, ele estava conversando – mas, a questão é a diferenciação do aluno e ter chamado ele de doente. Como se tivesse uma doença e que a professora, ter que deixar bem claro, que não iria ter “pena” dele por causa de uma “doença” que ele não tem. Ou seja, uma suposta doença.
Sêneca, assim como os estoicos, iria dizer que o importante ao ser humano é sempre saber quando lutar, quando convencer, ter a honestidade, ter uma vida modesta e não querer mudar aquilo que não pode ser mudado. Aliás, a virtude estoica e a verdade e como eram seguidores de Sócrates de Atenas, eram extremamente, intelectualistas. Portanto, a verdade deve ser dita, mesmo que isto doa. Portanto, a verdade é que nossos professores (nem todos, claro), tem um discurso de proteção das minorias, que na verdade, não corresponde ao que vimos na pratica. Chamam os jovens de burro, chamam muitas jovens de vagabunda (já li isso), fica pregando ideologia ao invés de dar aula, fica reclamando do salário toda hora. E também, fica dizendo essas bobagens que vimos a mãe relatar. Se perdeu a noção da palavra educação, que começa com a paideia grega, passa para o educere latino. Nossa raiz (como língua latinizada e cultura também) como descendentes da cultura latina, deveríamos saber que educere vem da junção de EX (fora) e DUCERE (guiar, instruir e conduzir), ou seja, quando educamos alguém ou nos educamos, estamos trazendo para fora aquilo que está dentro de nós. Sem se prender em questões estéticas ou morais, sem se prender em questões ideológicas e religiosas.
A verdadeira educação inclusiva é exatamente o oposto que esta professora fez, educar é trazer para fora, então, mostrar as crianças e os jovens que a deficiência não é uma doença. Uma deficiência é uma falta, mas, nunca um contagio por algum vírus ou uma bactéria. Trazer as crianças, que a deficiência não nos faz menos humanos e elas podem se aproximar.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

sábado, 14 de abril de 2018

As pessoas com deficiência e os vídeos “bonitinhos”



Descrição: um homem com deficiência recebendo comida na boca por um funcionário da rede Giraffas 


Estava aqui escrevendo meu livro e dado momento, entrei no Facebook e me dei conta de uma Live de um companheiro de segmento das pessoas com deficiência, fez por causa de uma matéria do site Extra, teria destacado. Até pensei que fosse com ele a questão e resolvi ver o vídeo – que foi apagado, se não tivesse visto iria ter ficado no limbo – e escutando esse meu amigo falar, eu vi que não se tratava dele, propriamente, mas de um caso que aconteceu no sábado dia 7. Onde um funcionário do restaurante Giraffas, de um shopping de Salvador (BA), ajudou um homem com deficiência a comer a sua comida e foi filmado pela mulher que iria buscar a comida para o rapaz. A mulher, que segundo o site Extra, tem o nome Laurinha Victória, além de ter filmado, disse ao rapaz:
 “Essa é a verdadeira caridade, que coisa linda.  Que gesto lindo você está tendo .. Deus lhe abençoe. ”

Não quero ter nenhum, o que chamamos na filosofia, juízo de valor da Laurinha. Porque a mulher, talvez, estava fazendo o que todos fazem, enxergam as pessoas com deficiência como coitados, como pessoas que precisam ser carregadas no colinho e cantar cantigas de ninar para elas. Mas, quero explicar a Laurinha e aos demais que acham esse ato de caridade o que seria caridade.

Caridade vem do latim “caritate”, que pode ser: amor a Deus, amor ao próximo, a benevolência, ter bom coração, ter compaixão, ter beneficência ou ESMOLA (guardem esse significado no rodapé).  Deriva do termo também em latim, “Caritas”, que tem o significado de afeto ou amor, que tem a origem de um termo grego antigo que era “châris” que seria o mesmo que “graça”. A caridade pode ter o entendimento como um sentimento ou uma ação altruísta de ajudar alguém sem buscar de qualquer recompensa. A pratica da caridade pode ser um indicativo muito forte de uma elevação moral e uma das práticas que mais se caracteriza a essência da bondade humana, sendo, com alguns casos, chamada de ajuda humanitária. Temos afins: amor ao próximo, bondade, indulgencia, perdão, compaixão. (Tirado do Wikipédia as informações).

Vamos ao que interessa. Feita a explicação de caridade já fica bem mais fácil explicar qual a diferença de caridade e ter boa vontade, que sim, faz a diferença. Na Idade Média – tem vários filmes sobre – existiam as caridades dos nobres na porta das igrejas e haviam milhares de deficientes se arrastando nas suas escadarias. Eram crianças abandonadas que eram alimentadas e criadas ou por moradores de rua (que seriam as cidades em volta do castelo do rei), ou pela própria igreja a pedir esmolas na porta das missas. Ai que está, caridade também tem o significado de ESMOLA. Esmola é uma pequena quantia de dinheiro dada a um pedinte por caridade. Em várias religiões, é considerado como um ato caridoso feito aos necessitados, pode significar também uma concessão a uma graça ou favor. Nas religiões abraâmicas, as esmolas são dadas para beneficia os pobres. No budismo, as esmolas são dadas por leigos para monges e freiras para conseguir méritos e bênçãos e assegurar a continuidade monástica. (Informações tiradas da Wikipédia)

Com certeza a questão é confusa porque nem sempre as pessoas têm noção de alguns significados do termo e além disso, a questão pode ser agravada com a mídia. Eu como sou uma pessoa que acredito no ser humano, acredito que a intenção da Laurinha Victória, não foi ruim (acho eu, né?), só acho, que a gravação do vídeo foi desnecessária. Porque acho que esse tipo de vídeo alimenta uma visão, que ainda, é muito forte dentro da nossa cultura de nos ver como coitadinhos, numa visão, clara, de capacitismo. Mas, quem realmente alimenta essa visão capacitista dentro da ótica social? A mídia. Qual é o intuito de um site de notícia, como o Extra, de usar a postagem de uma mulher que gravou um funcionário ajudando uma pessoa com deficiência? Daí eu remeto a um outro questionamento, não menos importante: por que a mídia não mostra outras situações que não são de imagens piegas? Por que as pessoas não se interessam?

A questão é mais ou menos assim, você escreve tragédia (eu escrevo e eu sei), é um reboliço tremendo, como se aquilo seja de uma importância máxima. Quando você escreve coisas positivas e sem nenhuma tragédia, as pessoas começam a ignorar. Até mesmo a minha manchete chamada “Funcionário dá comida ahomem com deficiência e gera polêmica”, foi ignorada como uma manchete menor. Ou porque não tem um nome fofinho, ou não tem um nome trágico. Sim. Deve ter um nome fofinho ou trágico e não para por aí, a questão vai muito além, deve ter vídeo motivadores. Somos vistos além de coitados, além de temos limitações, somos exemplos de superação. Devemos mostrar força, garra, vontade e que somos a real conjuntura de um ser humano que venceu as dificuldades da vida. Eu não compartilho vídeos piegas, vídeos de pessoas se machucando, e sim, vídeos educativos ou pesquiso sobre o fato. A imagem que fazem de nós, chega a ser patética e desumana.

O mais trágico é que essas mesmas pessoas – não todas elas, claro – param nas vagas do estacionamento reservadas, não respeitam filas preferenciais e nem acentos para pessoas com deficiência. E muito além disso, não respeitam nossa privacidade. Eu acho um “porre” ter vídeos mostrando coisas que todo mundo faz, e vem com esse ar piegas. Não acho valido e condeno esse tipo de coisa.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

domingo, 25 de março de 2018

O que seria liberdade? Não é marca de chocolate







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Quando nós escolhemos ser escritores, ou filósofos, temos que ter uma certa liberdade para expressar as nossas ideias. Senão, as coisas não andam em qualquer texto, quanto mais, quando damos alguma notícia em sites especializados. A algum tempo venho escrevendo notícia para um site norte-americano e que tem um viés de popularização da noticia, trocando em miúdos, você escreve o que você leu na sua visão e no terceiro pessoa. O interessante, é que, nós não podemos expressar nenhuma das nossas opiniões sobre o que noticiamos. Acho que é valido, porque o site fica visado por aquela visão, mas, acho também, que o site começa a ter certos vícios que no nosso país contem. Fico lendo as outras notícias e fico achando que estou lendo sites de fofoca, ou blogs de notícia – muitas pessoas pensam até que o site na verdade é um blog – ou até mesmo, textão do Facebook que algumas pessoas gostam de postar.

Nada de errado ter regras, uma empresa te dará as ferramentas e você dará a força de trabalho. Assim é a base capitalista. O problema é quem avalia e “corrigi” os textos, que ao que parece, temos que desenhar. A última notícia recusada, eu noticiava a questão da desembargadora que agrediu gratuitamente, a professora com Síndrome de Down, Débora Seabra. O avaliador (que tem o nome junto ao meu de corretor mais quem corrigi sou eu), disse que o texto estava confuso e que não daria nem para corrigir os erros de português. Ok. Eu li e reli e não achei em nenhum momento um texto confuso, já que, não fiz um texto noticiando o caso, eu trouxe dentro do texto algo para dar o comentário, que nem posso escrever adjetivos. A muito tempo que venho sentindo que vários desses avaliadores nem corrigem, nem leem, porque se lessem, não estariam dizendo que eu estava escrevendo confusamente. Quando eu encontro esse tipo de frase ou parágrafos, eu corrijo. Claro, algumas coisas me escapam e vou encontrar lá na terceira leitura.

A questão que fica, além da questão gramatical, é a da liberdade. Liberdade é algo primordial para o ser humano exercer a sua vontade, e essa vontade, é o que faz exercer dentro de uma única escolha possível. Mas como exercer essa escolha? Tudo que dissermos é uma escolha. Tudo que escrevemos é uma escolha. Nem tudo que dizemos, podemos falar. Às vezes, ofendem, outras vezes, podem representar uma linha de raciocínio que podem tirar as pessoas da ilusão. Quando dissolvem as ilusões, dissolvem as “sombras” que se pensou ser verdade. Mas o que é a verdade? O que é a realidade e o que é a ilusão? Não sabemos. Mas podemos questionar tudo que nos é imposto, tudo que a nossa cultura nos impõem e não é questionado. Descartes, filósofo francês do século XVI, dizia que nos resta a dúvida e a nossa única certeza é a nossa própria existência. O “penso, logo existo”. Quando olhamos esse texto, podemos duvidar da sua existência, porém, não podemos duvidar de quem está lendo que sou eu. Mas, como saber que esse texto é uma ilusão? O que sentimos além de pensar?

Sentir e pensar é a consciência. A consciência é o sentir entre você e o objeto – o fenômeno da existência – enquanto, o objetivo e o subjetivo entre você e a realidade. Ou seja, quando você não consegue ler um texto, você está envolto em símbolos de conceitos e realidades que constroem nossos valores. Crenças. Essas crenças e valores, vão moldar a realidade e tudo que vimos e lemos. Não tem jeito. Somos animais que criamos símbolos e assim, somos animais simbólicos. Por que? Talvez, dentro da evolução, criamos nomes e termos para simbolizar a realidade, ou seja, quando dizemos “aquela pedra”, o termo “pedra” só é um nome para designar um acumulo de minerais que endurecem e se transformam, em objetos. Pedra não é um nome natural. E outra coisa, em outras línguas tem outros nomes, como em inglês “stone”, em francês “pierre”, em alemão “Stein” e por aí vai. Na verdade, pedra veio do grego “pétra” e daí veio para o latim como “petra” que é a entidade natural, rígida do reino mineral. Na essência, tudo não passa de um símbolo, não tem uma conotação essencial universal. Podemos chamar pedra aqui e em outro lugar do universo, pode chamar outro termo.

Imagine se não tivéssemos nenhuma linguagem – que já estão em pesquisa, que algumas espécies, tem sim linguagens rudes – haveria o ser humano ter promovido esse progresso todo? Como tecnólogo – além de filósofo e publicitário – a tecnologia como está, só chegou a esse ponto, graças a invenção de uma linguagem própria. Portanto, quando falamos de linguagem, estamos falando não só de letras, mas o fenômeno de darmos sempre, uma certa simbologia aquilo que queremos dizer. Se você não tem a mesma visão, você não vai entender. Aí entra um dos melhores argumentos de toda a filosofia, na minha visão: não há fatos eternos e tão pouco, verdades absolutas. O filósofo prussiano, Nietzsche, entre outras coisas, acertou nessa, quando elaborou essa frase e ele se baseou lá no filósofo pré-socrático, Heráclito. A base da filosofia heraclitiana, é que tudo vai fluir e quando tudo flui, não entramos na mesma água duas vezes num mesmo rio.

Tanto Heráclito, quanto Nietzsche, vão dizer que o tempo muda com as circunstancias vão sendo escolhidas – no caso de Heráclito, não tinha essa ideia de tempo e que tudo pode mudar, mas, não temos escolhas. O que o filósofo argumenta, é que o tempo muda conforme o pressuposto dos fatos – e os fatos não podem mudar o ser, o ser é único e exige uma personalidade. Segundo Nietzsche, somos únicos em sentir e não em só, pensar. O que seria a liberdade? O “instinto” da vida. Duas coisas que Nietzsche dizia era o amor fati (amor ao destino), também, o Eterno Retorno. O Amor Fati, era aceitar o fato como ele é realmente, não no sentido de aceitação, mas no sentido de não chorar por aquilo que não pode ser mudado. Você pode evoluir e ser acima daquilo e esquecemos tudo que aconteceu. Para Nietzsche, não existe o amanhã, mas o hoje é a vida sendo vivida na sua plenitude. O Eterno Retorno é imaginar que há muitas criações em tempos eternizados. Se houve vários começos da humanidade? Isso não é novidade dentro da filosofia. Se, realmente, a humanidade como conhecemos, tivemos vários começos?

Mas, o que isto tem a ver com a liberdade? O princípio da Liberdade de Expressão é a linguagem, sem ela, não haveria um progresso da humanidade e muito menos, esse texto. A filosofia como o começo racional das mitologias – a filosofia vai tratar de outras maneiras os símbolos dentro dos mitos – começou graças a linguagem como símbolo mor da comunicação. Mas, eu não concordo com o iluminismo que a mitologia é uma parte da religião, pois, a mitologia é muito mais do que a religião, ela não religa a nada. A simbologia dos deuses antigos tinha a ver com a natureza do ser humano e do planeta, não tinha nada fora do planeta e era, de certa forma, um meio de indagar sim a nossa origem. De onde viemos? Da Terra? Era uma visão bastante rudimentar, mas, era uma visão ancestral bastante compreensível. A filosofia deu o rumo a vários estudos dentro dos símbolos, dentro das mitologias, dentro da natureza de um modo geral. A linguagem como modo de expressar desses estudos, são bem-vindos como modo de ver a essência da realidade. Entramos no “conhecer a ti mesmo” socrático, porque conhecendo a si mesmo, a realidade se mostra sozinha.

Se sei da minha capacidade da escrita eu não vou errar, porque sei da minha responsabilidade. Se estou confuso diante do texto e não me faço entender, o problema é da lógica e estarei prejudicando a mim e ao veículo que está meu texto. Minha liberdade tem certa restrição de respeito ao outro. Você só percebe isso deixando o falso ego e aquilo que chamamos de orgulho de aparecer, de admitir seus erros. A liberdade tem que ser plena no meio jornalístico, e, não tem o que discutir.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

quarta-feira, 21 de março de 2018

Por que não casal de cadeirantes?







Umas das coisas que sempre leio em grupos de pessoas com deficiência desde o Orkut, é que “cadeirante basta eu”. Como conheço bastante vários casais de cadeirantes e tenho uma experiência de namorar uma cadeirante – que amo muito – resolvi fazer uma reflexão muito importante. Para começar, sim, você dizer que “cadeirante basta eu” é uma frase de extremo preconceito. Todo pré-conceito, é uma análise sem o critério dos fatos decorridos dentro dos fatos que são, pois, você não vê no seu convívio casais cadeirantes, não quer dizer que não existam e não quer dizer que eles têm ou não dificuldades. Um namoro ou casamento, não é uma união de conveniência e sim, uma união afetiva e de escolha. Temos casais de todo tipo e de todas as conotações dentro do segmento – até mesmo relacionamentos homossexuais – que seguem esse critério e o que eu observo, que muitos não se aceitam.

Duas coisas podem constar que as pessoas não se aceitam é elas dizerem “cadeirante basta eu” e a famosa pergunta, “você namoraria uma pessoa com deficiência? ”. Um cadeirante dizer que um cadeirante no relacionamento já basta, mostra que o cara quer status quo ou uma espécie de enfermeira. Como disse, um relacionamento não é uma iniciativa de conveniência e sim, uma iniciativa de afetividade de escolha de ficar ou não ao lado de uma pessoa. Não é só uma iniciativa de uma só pessoa, mas de duas pessoas que se amam. Portanto, não acho que as pessoas tenham que se limitar em ficar achando que um relacionamento só é feito de sexo, ou só de sentimento, mas, deve haver um equilíbrio (já escrevi sobre a campanha “eu também fodo”).

Não acho que isso tenha a ver com o gênero, apesar que um homem andante tem muito mais chance de casar com uma cadeirante do que ao contrário. Por que? Porque vivemos num país bastante machista (podem os machinhos alfas me xingar que estou pouco ligando), onde o homem ainda tem que pagar, o homem tem que bancar e o homem tem que ser o “macho” do relacionamento. A mulher, quando é educada dessa forma, se acha insegura em ter um marido cadeirante que não poderia garantir uma vida, relativamente, normal entre um casal andante. E como vivemos num país ignorante no sentido de ter uma escola de verdade, ou de serem “analfabetos funcionais”, há ainda muita discriminação quanto ao homem cadeirante. Ao apresentar a família sempre recai a mulher a questão: “o que ele pode te oferecer? ”. “Como ele vai trabalhar e te dar o que você precisa? ”. Isso deixa bastante pressão as pessoas que tomam a decisão de ter um relacionamento como esse. Daí, em milhares de casos, a pessoa prefere não ter esse tipo de pressão e escolhe uma pessoa mais fácil de ser aceita.

Por outro lado, existem pessoas corajosas que aceitam tudo por um amor verdadeiro e casam com um cadeirante e muitas vezes, dão muito certo. Sei de cadeirantes que se casam e vivem muito bem. Sei de casais com síndrome de down. Os casais que tenho conhecimento vai aos milhares. Que tiveram coragem o bastante para superar muitas dificuldades e muitos preconceitos sociais. O que acontece é que essa coragem não é seguida e não é uma visão geral, afinal, qual a “vantagem” de enfrentar essa empreitada sozinho? Uma das características do nosso povo é não gostar de ser rejeitado, das pessoas olharem com cara feia para ele, porque somos um povo que carrega uma cultura. Por isso mesmo, psicólogos podem comprovar, que o “politicamente correto” pegou por aqui, porque todo mundo não gosta de ser rejeitado e a rejeição dói.

Ora, acontece que no mesmo modo que uma andante ou uma andante, rejeita um cadeirante por ser cadeirante por causa dessas pressões dói, o mesmo podemos dizer, que a frase “cadeirante já basta eu” pode doer para outra pessoa. Pode ser que uma cadeirante esteja afim de um relacionamento e é rejeitada por ser cadeirante, no mesmo modo, pode ser o inverso. Eu sei que vão dizer “ninguém é obrigado” e, claro, ninguém é obrigado de nada. Mas eu tenho comigo uma coisa que sempre minha mãe dizia: “não faça com os outros o que não gostaria que os outros fizessem com você”, acho eu, uma regra de ouro.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

segunda-feira, 19 de março de 2018

MATRIX dos HIPÓCRISTAS




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O canal Hipócritas do YouTube, tem ideias muito boas e até concordo com alguns posicionamentos do canal, mas o ultimo vídeo, usando o filme Matrix não concordo. Porque não acho que a verdadeira realidade está com a direita (dita conservadora), e muito menos, num documentário revisionista que fomenta alguns dos preconceitos que o mundo tenta sempre eliminar. Para “sair da Matrix” não importa o lado, importa o posicionamento de onde você se encontra na Matrix e a ideia de uma realidade que não é realidade, vimos dentro da filosofia platônica. Na verdade, quando assistimos o primeiro filme da trilogia, podemos dizer, que se trata além da Alegoria da Caverna, tem também quase todo livro A Republica de Platão.

Com a figura do seu mestre Sócrates – mais seus amigos e até seu irmão – Platão expõem em forma de diálogo com o que ele pensava sobre a justiça. Para isso, ele começa a idealizar uma “politéia” ou Estado, que fizesse jus ao que seria uma justiça imparcial e sem pesar para nenhum lado. Então, ele expõe a ideia de seres humanos presos em uma caverna porque o ser humano se fecha em “bolhas conceituais”, que só enxergam aquilo que permitem enxergar.  Para o filósofo, não só existem uma realidade além daquilo que estamos vendo, mas, são poucos que quebram a corrente das amarras sociais e se aventuram a pensar além da sua realidade. Portanto, a realidade não é algo concreto e não pode ser algo de absoluto, porque acabamos vendo meras ilusões. A noção que temos de justiça, de política, de religião ou do que valorizamos como realidade única – até mesmo valores tradicionais que não são contestados e nem posto numa peneira para saber se faz mesmo o bem – são apenas meras sombras de uma vida ilusória e pobre.

Quando vimos o filme nós observamos que a ideia do programa neuro-implantado não é uma realidade só de um lado, mas de todos os lados. O próprio Platão faz uma dura crítica à política e a condenação do seu mestre, que evidentemente, teve conotações políticas. No próprio filme, podemos observar um menino monge budista que está tentado controlar a natureza da realidade de uma colher e diz para Neo, que, na verdade, a realidade a colher não existe. Ou seja, a natureza das coisas pode ser mudada conforme a maneira que olhamos para elas (física quântica?). O próprio Buda dizia que a realidade que estamos acostumados a verdade, não existe e tudo não passa de mera ilusão (maya) e tudo depende da maneira que você enxerga o mundo. Por isso, seu maior ensinamento, é largarmos o nosso ego e ver além dessa realidade. Que pode gerar uma certa confusão aí. O ego freudiano, é a construção de uma personalidade e é o que o indivíduo é e controla tanto o id como o superego.  O que Buda disse do ego – de alguma maneira, Jesus disse quando nos ensinou a dar a outra face – é o nosso falso eu que são mascaras sociais dentro de uma especifica cultura. Nada é permanente, tudo é transitório. De alguma maneira, Heráclito, Platão e entre outros, vão dizer a mesma coisa, que a realidade não pode ser permanente e não pode considerada absoluta.

Feita algumas considerações do filme – uma análise mais profunda daria um livro todo só o primeiro filme – podemos ver que “sair da Matrix” (realidade construída do falso ego), não basta pensar diferente, existe uma desconstrução de tudo que você construiu como conceito e como verdade absoluta. Essa verdade absoluta está inserida também, a moral que tanto a direita prega e quanto os “conservadores” gostam. Por que o documentário Brasil Paralelo é conservador? Tudo que pressupõe mudança, não importando ser filosofia vinda do marxismo ou não, é um movimento de esquerda. Se é revisionista, é de esquerda. E também, em nenhum momento desse documentário podemos dizer, existe algo de diferente com que várias teorias dizem ao longo dos meus anos de internet. O documentário não diz que muitos dos progressos que o Brasil tinha como importante, não foram feitos – principalmente, no reinado de Dom Pedro II – por causa de intrigas religiosas. Como um documentário revisionista que visa defender a monarquia pode nos tirar da Matrix? Como um filósofo que defende uma religião pode nos tirar de uma Matrix?

Eu não vejo a imagem do poder da Matrix como só da política. Para “sair” da Matrix, temos que ter em mente, que temos nos transcender daquilo que temos como verdade. Matriz são as vísceras na qual são desenvolvidos os fetos e o embrião entre os mamíferos, ou seja, o útero. Toda a matriz e onde alguma coisa é gerada, seja animais mamíferos, seja empresas, que é onde tudo pode ser criado. Para “sair da Matrix”, temos que nascer, perceber uma outra realidade dentro de um mundo além da matriz, nosso lugar confortável. No próprio filme, mostra esse lugar confortável para não se saber, que a sua energia está sendo utilizada para alimentar as maquinas. Platão coloca isso dentro de uma caverna, onde sombras são criadas por aqueles que administram essa caverna. O filósofo francês Michel Foucault usou essa imagem, muito provável, e elaborou a teoria do discurso que se comprova com a redes sociais. Criamos matrizes conceituais para defender aquilo que acreditamos, aquilo que nos é simpático graças a crenças que alimentam nossos valores.

A pílula azul e a pílula vermelha não querem dizer algo ideológico, isso vai bem mais além do que uma suposta ideia de “marxismo cultural” e até mesmo, um “olavismo cultural” (que vem do filósofo Olavo de Carvalho). A pílula azul representa a liberdade, o nascer para o mundo real no qual existe fora da Matrix. Já a pílula vermelha, quer dizer a ditadura, a imposição e o consentimento do mundo da Matrix. O mundo de Matrix, é o mundo simbólico do conceito prisioneiro de uma só questão. A direita é conservadora por natureza (que não se pode mudar essas instituições), então, há uma questão importante: se essas instituições estão corrompidas, as morais distorcidas e a ideia espiritual é deturbada para um bem somente daquele que detém o poder, pode ser conservada? Se sim, acho, que se deve analisar qual a questão que queremos conservar no Brasil, se uma direita que não deu certo (até houve duas ditaduras), ou uma esquerda que não deu certo no mundo inteiro e existe mais uma questão. Esse conservadorismo que eu expus, é o conservadorismo político, que não tem nada a ver com o conservadorismo moral. Aliás, conservar tudo que está aí, também transforma numa forma cultural, em empobrecimento da cultura o funk.  

Vamos começar com a família (vamos tentar ter o caminho fora da Matrix). A família não é uma instituição e sim, uma escolha afetiva de construir vínculos um ao outro e isso tem a ver com uma questão até espiritual. Isso não quer dizer que existe perfeição, quando uma das partes se sente enganada, se sente deslocada e até rejeitada pelo outro – vários seres humanos que praticam a traição como forma de ter um status quo social – existe o divórcio. Não acho incompatibilidade de gênio é um bom argumento, pois, existe o período do namoro para ver isso. Também existem família homossexuais e heterossexuais, que muita gente confunde com casal. Famílias são uma coisa, casais são outra coisa. Quando começamos a colocar as questões em dúvida (entramos em Descartes e no duvido), podemos dizer que estamos saindo da Matrix. Quando o indivíduo começa a se colocar como um ser existente e as outras coisas podem ser duvidadas, então, sim, você está saindo do mundo da Matrix.

Sair da Matrix é muito mais do que uma pauta revisionista, mas, defender uma pauta onde tudo e todos devem realmente ser questionados.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News


Assistam o video:

MATRIX vs. BRASIL PARALELO

quarta-feira, 14 de março de 2018

Cientista e cosmólogo – morre Stephen Hawking




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O reconhecido e polemico cosmólogo, Stephen Hawking, morre nesta quarta-feira (14), ais seus 76 anos de idade. A morte do cientista foi anunciada pela família do físico britânico. Os filhos de Hawking deram o comunicado dizendo: “Estamos profundamente tristes porque nosso querido pai faleceu hoje” pela agencia britânica Press Association.

Stephen Hawking nasceu no dia 8 de janeiro de 1942 em Orford, na Inglaterra, curiosamente, 300 anos após a morte do cientista Galileu Galilei. Quando completou 8 anos de idade, se mudou para St Albans, que é uma cidade inglesa localizada 30km de Londres. Uns dos mais conhecidos cientistas da atualidade e do mundo – ficando atrás, talvez, de Carl Sagan e Newton – estudou na University College, de Orford, que também foi a universidade que estudou seu pai.

Na verdade, Hawking queria estudar matemática, enquanto sua família o queria como estudante de medicina. Como matemática não estava disponível na grade da universidade, ele acabou escolhendo física e se formou em 1962. No terceiro ano formado, o físico recebeu a primeira premiação na classe de licenciatura em Ciências Naturais e ao longo de sua carreira, foram 15 medalhas e prêmios. Ele saiu de Orford e foi para Cambridge fazer uma pesquisa na área de cosmologia, já que não havia essa área na universidade onde estudava.

Hoje, é doutor em cosmologia. Foi professor de matemática na Universidade de Cambridge, onde era professor lucasiano emérito – o mesmo cargo de cientistas como Charles Babbage, Isaac Newton e Paul Dirac – ele era diretor também do Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica da mesma universidade. A principal área de especialidade de Hawking, era cosmologia e gravidade quântica.

Escreveu 14 livros e os mais populares são “O Universo em uma Casca de Noz” e “Uma Breve História do Tempo” (eu li e recomendo). Em 2014, sua história de vida foi retratada no filme “A teoria de Tudo", que venceu um Oscar.

Referencia:

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News




Esse vide eu fiz no ano passado para comentar o livro que estava lendo sobre a mente de Stephen Hawking


segunda-feira, 12 de março de 2018

Por que não se acredita no amor?




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Pior do que a pergunta: “você namoraria uma pessoa com deficiência? ” é as pessoas não acreditarem no amor, porque sofreram várias coisas na sua tenra infância, ou, seus relacionamentos não foram como o seu ideário, se formou. O problema da sociedade pós-moderna foi a imagem hollywoodiana do amor, com jantares, com velas, com flores e um ar de família Doriana (de margarina), pois não é. Muito menos nas camadas muito mais pobres da nossa sociedade contemporânea. A geração Nutella, cresceu achando que seu mundo poderia ser um mundo lindo, um mundo mais ou menos, como o “Fantástico Mundo de Booby”. Depois que o Merthiolate parou de arder, a coisa começou a declinar para a geração de pessoas que não podem ficar frustradas.

A título de exemplo, vamos imaginar uma pessoa que tem uma família muito pouco estruturada, um pai que não sabe cuidar de si mesmo, tem um monte de traumas e transferi esses traumas para seus filhos. Essa pessoa vive na pobreza, é discriminada por alguma coisa que carrega na sua natureza (como etnia, deficiência e etc), sua aparecia é estranhada pela maioria, ainda frequenta uma religião que acha que por seguir Jesus, fara a cura de sua aparência. Agora imagine que essa pessoa conhece uma pessoa no qual se apaixona, ela foi criada numa religião que não pode assistir TV, não pode brincar de certas brincadeiras, ainda, não foi curada da sua aparência, porque essa mesma religião, diz que ela tem pouca fé. Essa paixão não chega nela, ou na melhor das hipóteses, chega para tirar uma onda da cara dela (o bullyng é uma cultura brasileira desde o império português), mas não chega, não falou por causa da sua cor, da sua deficiência ou por outros motivos e a coisa passa batido. Você já foi trucidado por uma religião que diz que você não se curou por causa da sua pouca fé, você já foi trucidado moralmente por um pai que desconta os seus traumas nos filhos, você acha que mundo é uma “merda” e quer que ele se exploda, ainda, sua paixão não se declara para você. Tá ok. Esse é um ótimo motivo para não acreditar no amor.

Agora imagina você conhecer uma pessoa, essa pessoa fica com você e com outras pessoas ao mesmo tempo, como seu próprio pai fez com a sua mãe, ele simplesmente, acha que você é mais uma pessoa do seu cardápio (sim, existem pessoas assim). Você fica quatro ou cinco anos com essa pessoa, você acha que o mundo é assim, as pessoas brincam com os sentimentos das outras. Daí você conhece um carinha legal, que dará amor, dará carinho e tem boa índole, uma boa cabeça e sabe muitas coisas. Mas ele não arranja um emprego (para o mundo pós-moderno, esse tipo de sujeito é um “merda” total e é um pecador), não consegue empregos freelances, não compram os seus livros e não acham que ele tem uma opinião boa. Mas, ele está pouco se fodendo. Ele sabe que não sabe e os outros que pensam saber não sabem, mas, a pessoa já modelou toda a sua frustração nele e ainda deixa muito claro que não acredita no amor. Daí tudo que você passou é culpa dele. Mesmo ele não tendo mais ninguém, e essa pessoa imagina que ele tem outras pessoas. Mesmo ele tendo se dedicado quase a sua vida a você, ainda projeta o que aconteceu na sua vida a essa pessoa.

Num mundo pós-moderno, que projeta toda a dimensão do amor a algo limpinho, perfeito com pessoas bonitas, com pessoas perfeitas que nem sequer, tem uma celulite ou dentes amarelos, isso é muito mais comum. Você não sabe amar verdadeiramente e viver esse amor com todo seu esplendor e seu sossego, você projeta o ideário que viu em algum filme. Isso acontece porque não sabemos – pela educação que tivemos – a separar o mito daquilo que a vida é realmente, porque fazemos de nós, seres em um sonho a parte. Não. Existem as transas. Existem pessoas que são sem-vergonha. Existem pessoas sinceras. Existem pessoas que são religiosas. Existem pessoas ateias e acreditem, existem pessoas que dão a sua vida a ciência. Existem pessoas que fazem do seu mundo, uma verdade absoluta e as verdades não são absolutas. Sua religião, por exemplo, é mais uma interpretação de um livro sagrado dentro do que se acredita ser o Eterno. Sua ideologia política, só é mais uma interpretação a milhares de interpretações politicas ideológicas, que existem no mundo. São interpretações, são verdades que podem mudar. Não é uma verdade absoluta.

Não podemos tomar banho na mesma água, não podemos ter os mesmos conceitos toda a vida, não podemos amar como você imaginou. Porque não somos o que você quer, somos o que desejamos ser e isso não vai mudar. Nem se você disser que não acredita no amor. E isso nada tem a ver com a deficiência ou a cor de pele, até mesmo, sua opção sexual. Isso tem a ver com que você faz com seus conceitos. Se você desacredita por causa dos outros, você é moldado graças aos outros, se você é moldado pelos outros, você não tem personalidade. Deixar de acreditar no amor. Deixar de acreditar em qualquer coisa, porque as pessoas te fizeram mal, sinto muito, as coisas são confusas dentro de você. Conhecer a você mesmo é a resposta.


Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

sábado, 10 de março de 2018

Pessoa com deficiência ou deficiente?




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Acho que estamos indo em um caminho que está sendo errado. Nós, pessoas com alguma deficiência, estamos trilhando. Primeiro lugar: vamos nos posicionar em uma coisa, pois, acho que o seguimento não está muito sabendo o que fazer com as abordagens que se deve fazer. Segundo há um erro conceitual com a nomenclatura decorrente segundo a maioria prega, como eu não sigo a maioria, eu posso usar tanto como pessoa com deficiência como deficiente. Não me sinto desconfortável. Por que não me sinto desconfortável? Porque se olharmos a etimológica da palavra, vamos ver que tanto deficiência como deficiente, vêm da mesma origem latina “deficiens”. Na verdade, existia o verbo “deficiere” que tinha o significado “desertar, se revoltar, falhar” e tem a junção DE “fora” mais FACERE “fazer, realizar”. Isso está, aliás, no meu livro “O CLUBE DAS RODAS DEAÇO: TRATADO SOBRE O CAPACITISMO”.

Vamos lá. Qual o objetivo da inclusão? Há uma grande lacuna quando lemos notícias como “DIRETORA NEGA AGRESSÃO A UM GAROTO COM DEFICIÊNCIA MENTAL” e a notícia “PARQUE AQUÁTICO TOTALMENTE ACESSÍVEL PARA PESSOAS COMDEFICIÊNCIA É INAUGURADO NO TEXAS”, porque há um nível educacional muito longe do ideal em nosso país e muito mais, bem feito, nos países desenvolvidos como EUA. Claro, que devemos achar soluções dentro da nossa realidade que vivemos, porque, a cultura norte-americano foi construída dentro do pragmatismo, ou seja, eles são muito mais práticos. O que é melhor, fazer ou ouvir o povo reclamar? Fazer ou não ter turistas para arrecadar mais dinheiro e fazer a economia girar? Pensamos. Um país inclusivo pode receber turistas com deficiência, assim, gerar mais recursos para nosso próprio país. No mesmo modo, um povo feliz é um povo tranquilo, que tem uma vida mais estável, mais segura e não vai tanto, causar problemas. Não criando problemas geram mais PIB, e gerando mais PIB, geram mais recursos para a indústria e gerando mais recursos para as indústrias, geram mais empregos. Isso não quer dizer que o empresário ficara mais rico e o trabalhador ficara mais pobre, porque isso gerara mais emprego e gerando mais empregos, a economia sobe. Mas, me parece que o capitalismo está em crise pelo mesmo “monstro” que o próprio capitalismo criou, a globalização. A internet criou novas mídias. As informações não são mais manipuladas, não estão em uma “mão” apenas. Então, em muitas “mãos”.

Quando empresários norte-americanos investem em parques temáticos com adaptações para cadeirantes – parece que até a Disney passou por uma reforma dessas – eles viram que as pessoas com deficiência podem ser um público consumidor. Pensamos. Podemos ser cadeirantes – estou dizendo cadeirante por causa que vivo num mundo cadeirante, mas, estendemos para outras deficiências – mas podemos querer se divertir, querer estudar, querer trabalhar ou sair nas ruas para ir numa miséria, padaria comer um sonho. Os Estados Unidos da América viram que a inclusão pode ser beneficiaria a economia, beneficiaria aos modos de produção e beneficiaria dentro do turismo econômico. Ponto. O resto é analise ignorante de gente que não sabe nem o que está falando. E isso se estende aos países europeus e até o Japão.

Isso não quer dizer que “amo” os Estados Unidos, eu tenho minhas críticas sim, mas, assim como eles, outros países aprenderam a lição que povo infeliz, país desgovernado. Elegem “salvadores da pátria” que destroem tudo, economia, estrutura e o que é pior, destroem até mesmo, a dignidade humana. O nazismo, o fascismo, o comunismo soviético são provas disso. O ser humano, por mais que muitos pensadores digam, não são um bando de gado que fica quieto sabendo que vai se ferrar no final, temos consciência que precisamos no mínimo de dignidade humana para viver. Ai que erra alguns setores do segmento das pessoas com deficiência aqui do Brasil.

Muitas pessoas com deficiência o são após terem tido algum trauma durante a vida, porém, a grande maioria nasceu assim. Deveriam ter uma cadeira de rodas decente, mas, as mesmas cadeiras de rodas ou outros aparelhos, não podem ser de qualidade, porque são caros. Qual é a prioridade, termos condição de ter um carro ou de ter uma cadeira de rodas mais barata? Depois, as crianças devem ser alimentadas e terem um tratamento decente, muitos pais não têm condição de pagar um tratamento e poucas instituições ter a seriedade necessária para tal (a que faz a campanha maior do nosso país, não tem essa seriedade). Os tratamentos são começados muito tarde, tão tarde, que eles nem surte efeito esperado (se surte algum). Começa, haver dificuldades dentro da sociedade de adaptação, a má educação faz que a sociedade nos veja como sinônimos de santos, assexuados, coitados, sem a menor vontade de lutar por uma vida mais digna, porque não podemos ter essa vida digna. Outro dia li que um cadeirante caiu e o motorista não pode ajudá-lo, porque os passageiros não puderam compreender a situação. Por que? Não se tem uma educação de verdade e não acham que podemos e temos o direito de sair.

Depois a criança deve ter uma escola para estudar. As escolas públicas são pagas por TODA a sociedade, inclusive, uma escola pública também é sustentada pelos parentes e os pais da criança com deficiência. Deve ter a adaptação física e se deve ter o treinamento necessário para os professores e profissionais das escolas, e claro, DEVE ser obrigatório. E ainda sou mais radical, se deve ter esse tipo de conduta ensinada, nas universidades. Mas, claro, quem tem a boa vontade sempre corre atrás de ser um bom professor. Porque, também, acho que fizeram uma grade escolar muito intensa e de pouca eficiência (como tudo no Brasil), onde a quantidade vale mais do que a qualidade. Isso atrapalha, em partes, com a socialização das salas de aulas e não fazem o papel social. Isso nada tem a ver com ideologias, isso tem a ver com inclusões das minorias e essa inclusão, faz parte de um plano de uma sociedade justa (sim, sou socrático platônico nesse aspecto).

Depois fizeram a “esperteza” de fazer cotas em empresas e não em universidades para pessoas com deficiência, o que gerou a desculpa de não temos qualificação. Nem sou muito a favor de cotas para universidade, mas, já que as maiorias queriam cotas, que pelo menos, se qualificassem. Acontece que o segmento das pessoas com deficiência, sempre foi meio perdido, porque não sabem o que priorizar. A luta pela inclusão não pode ser uma luta de maneira desordenada, mas, tem que ter uma certa ordem de prioridades que o próprio segmento de PCDs, não respeita.

Por fim, eu acho que existem coisas muito mais priorizadas do que as nomenclaturas como se devem ser chamadas as pessoas com deficiência ou deficiente. Claro que num ponto muito mais esdrúxulos, a questão de nomenclatura é importante, como no caso de pessoas com de necessidades especiais, que por ventura, faz a imagem de pessoas especiais. Não somos especiais. Somos seres humanos que queremos viver o que todo ser humano vive, todo ser humano deseja, todo ser humano sente. Fazemos até filho (podem acreditar), e o mais importante, somos membros de uma sociedade e sim, estamos no século XXI e as questões que nos sãos colocados no nosso estereotipo, são questões já abandonadas a muitas décadas lá fora. Portanto, mude seu paradigma, você consegue.


Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Pessoas com deficiência não tem auxílio-moradia



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Imagem representando a Revolução Francesa 


Achei pertinente ter uma brecha para comentar o texto do colega Jairo Marques que é jornalista da Folha de São Paulo e também, tem um blog (na mesmo jornal), “chamado Assim como você”, que escreveu um texto chamado: “Auxílio para sair da moradia”. Achei esse texto bastante pertinente e reflete as condições que vem perpetuando, a situação das pessoas com deficiência. Que muitos – realmente, eu já ouvi esse tipo de colocação – pensam que temos uma vida sossegada e tranquila, mas, que na verdade acontece, é que não temos uma vida tão fácil assim e nem temos tantas “facilidades” assim.

No texto ele começa dizendo que há no senso comum que as pessoas com deficiências podem comprar carros novinhos no Brasil, com um certo desconto. Mas, na verdade, é que acontece uma renúncia fiscal do imposto federal, ou seja, o governo deixa de arrecadar o IPI, e o Estadual, o ICMS, que, teoricamente, deixaria o carro mais barato. Certo? Mas não é isso que acontece. Muitas vezes, esse “desconto” é neutralizado graças as adaptações para ser dirigido por um cadeirante ou para carregar uma criança om muito pouco mobilidade. Esse preço é cobrado direto da concessionaria, que diferente dos outros consumidores,  sempre somos taxados de levar “vantagem” fiscal e isso é visto como uma mamata para quem tem uma vida fácil. Só que não é bem assim, pois, esse preço é compensado e anulado, como disse o texto,  na adaptação que é cara.

Segundo o Jairo, o espirito da isenção é muito nobre, pois, isso daria uma mobilidade a quem fica à mercê do transporte público, das ruas cheias de buracos e sem acessibilidade nenhuma, das escolas, de vida social em geral. Seria um alivio e também uma oportunidade de uma conquista mais autônoma. Eu sou um pouco mais radical e lançaria uma pergunta pertinente: qual o interesse em dar isenção para um imposto e não dar para os outro? As adaptações são necessárias e não temos isenção nenhuma, além de nenhum incentivo fiscal das cadeiras de rodas, isenção de impostos no material da adaptação da casa, não temos tantos outros produtos que nos sãos necessários, e o entanto, não temos nenhum.  

O princípio ético não fala do direito de ter ou não, a ética fala se podemos  ter ou não. O direito é uma parte da moral, portanto, é uma parte dos costumes. Os costumes do ocidente sempre foram de olhar a deficiência como algo que deveria ter uma certa piedade, uma certa imagem daquilo que é um ser humano mais fraco, mais vulnerável. Os espartanos não nos matavam por maldade, eles matavam por causa da imagem da inutilidade de pessoas com deficiência e porque não, um sentimento de piedade. Como algumas comunidades vikings também deixava os filhos com deficiência nas florestas locais, para serem devorados por causa da deficiência. Até os anos oitenta, as pessoas com deficiência não podiam sair em países como os Estados Unidos da América, que nem em restaurantes, podiam comer sem causar “nojinho” aos outros clientes. Mas, ao meu ver, pelo menos, infelizmente, é alimentado como um discurso dominante, é um pouco culpa das pessoas com deficiência.

Mas você pode está perguntando o porquê é culpa das pessoas com deficiência, daí e respondo, por causa dos direitos que alguns querem lutar e eu explico. Se lutarmos por um incentivo fiscal da compra do carro, por exemplo, nós estamos incentivando a não adaptação das vias públicas, ao não melhoramento do transporte público acessível, da acessibilidade num modo geral. A grande parcela das pessoas com deficiência que não tem condição de comprar um carro, ou não tem condição de dirigir um carro, fica à mercê do transporte público e o porquê adaptar se o ESTADO deu tal benefício. Entenderam? Por que não incentivar a renúncia fiscal de aparelhos de órteses e próteses? O próprio Jairo Marques no texto fala que em países como os Estados Unidos, várias pessoas com deficiência têm acesso a tecnologias diversas. Só que ele esqueceu de dizer que lá o fenômeno é diferente, não se lutou para trabalhar antes, se lutou para ter o mínimo para viver e uma aposentadoria a parte da previdência. Lá as pessoas com deficiência são incentivadas a estudar, as adaptações nas ruas, prédios, transporte e etc, são para o cara trabalhar. Para o deficiente ir a qualquer lugar com sua cadeira de rodas motorizada – raros são os deficientes que não tem cadeira motorizada lá fora – sem até, depender de outras pessoas. Meu irmão mora na Irlanda e me mostra em foto, que lá tudo é acessível, e ele disse, que é muito comum ver pessoas com deficiência nas ruas com suas cadeiras motorizadas.

A questão é que dês do começo as pessoas com deficiência vem lutando por coisas banais e não pensam que um dia isso vai acabar, os governos mudam e as leis podem mudar. Que o papai e a mamãe vão morrer, que vai amar um outro indivíduo e vai casar, que com o dinheiro do trabalho pode comprar o que quiser. É imoral sim ter auxílio-moradia num país que não podemos nem sair na rua, não podemos nem trabalhar e os caras tem duas ou três aposentadorias. Porém, existem prioridades dentro do segmento que eu não acredito serem importantes, como o carro, como acessibilidade em praias e em aeroportos, acessibilidade em coisas que a grande maioria não vai usar. Tem gente que tem o direito de ter um carro? É obvio que tem. Mas, num país que num tem nem uma reabilitação de verdade, não tem prioridade para pessoas com deficiência que precisam operar, isso não passa de mimimi sem motivo.


Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

 Ator sofre agressão de homofóbicos dentro de banheiro

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Esperando mais inclusão e menos papo-furado



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Quando eu era menor, apenas um garotinho, eu queria ser dentista. Sei lá porque, eu cismei que queria ser um dentista para cuidar de dente. Daí descobrir que a minha praia era outra, mesmo o porquê, eu nem tenho estomago para estudar medicina por ver sangue e abrir pessoas em cirurgias. Muitos garotinhos e garotinhas, sonham em ser alguma coisa quando crescer e não é porquê tem deficiência, que não pode sonhar. É uma questão de estudar e se empenhar (mesmo que as escolas, com leis que não funcionam, não aceitem ainda as crianças com deficiência), em fazer o melhor para conseguir. Mas como fazer o nosso melhor, se todos nos fecham a porta? Metam o pé na porta. Poderia ser uma ofensa eu dizer isso, mas, como também sou cadeirante, eu me sinto à vontade.

Uma outra pergunta me vem à cabeça: como queremos inclusão nos comportando como eternos adolescentes? Sim. Eu não acho que inclusão se faz em meio de gente suada das baladas, cheirando cerveja dos bares, e acessibilizar puteiros sejam prioridade. Acho que a acessibilidade é importante e faz bem (nem mesmo acho que acessibilidade em igrejas sejam importantes), porém, acho que a visão mais humanizada da deficiência, hoje, é primordial. Até hoje eu não entendi o porquê se fez uma lei para cotas nas empresas e não cotas nas universidades – que só veio agora – pois, você só trabalha se você tiver um curso de qualificação. Também, nunca entendi, priorizar a redução de impostos de carro e não, reduzir impostos da cadeira de rodas e outros aparelhos que necessitamos. Andamos de carro dentro dos lugares? Andamos de carro dentro de casa? Claro que não. Até, particularmente, acho que a ideia de um carro para cadeirante meio ridícula, porque tem o pressuposto que só há um só cadeirante. E se você é casado? E se você tem como companheiro outro cadeirante?

Essas resoluções é o estereotipo de pessoas solitárias que temos hoje em dia, ainda, mesmo que estamos no século vinte e um. Mas, mesmo que a maioria adore uma liberdade que não tem, podemos casar e podemos amar quem quisermos. Mesmo que a maioria, ache que temos que casar com alguém para cuidar de nós. Não é verdade. A verdade que podemos nos virar, na medida do possível, tendo em vista, cuidar de nós. Mas existem, claro, deficiências que são graves, que muitas vezes, deixam as pessoas sem nenhum movimento. Conhecemos alguns e esses “alguns”, tem se mostrado bem independentes, mesmo com a deficiência grave. Nenhuma deficiência atrapalha a vida. Mas, ainda temos a visão capacitista da sociedade, porque nos agarramos a ideia que tudo é perfeito, o caráter tem que ter perfeição, as pessoas boas têm que ter perfeição, tudo é perfeito, só que essa perfeição, é na medida humana. O parâmetro humano, depende dos costumes (moral) que eles estão inseridos.

Lendo o blog vinculado com o jornal Estadão, Vencer Limites, assinado por Luiz Alexandre Souza Ventura, “IGUALDADE NO TRABALHO É PRIORIDADE”, traz uma pesquisa da I.Social (uma consultoria para empregar pessoas com deficiência), que mostra a estatística que eu sabia muito bem. A lei de cotas é uma farsa porque usou uma desculpa muito esfarrapada da qualificação, ou seja, existe pessoas com deficiência sim qualificadas e prontas para trabalhar. Mas, eu avisei para uma das donas da I.Social, a Andrea Schwarz, quando ela escrevia com um ar de otimismo. Ser otimista é uma coisa, fugir da realidade é outra muito diferente. Eu sempre fui cético na questão dessa lei.

Ao meu entender, estatísticas são adulteradas por causa de interesses daqueles que são eleitos para governar o nosso país, fora a isso, não tem nenhuma explicação da comprovação da desqualificação das pessoas com deficiência. Isso vale com voto expresso ou voto eletrônico. O que anda acontecendo é que empresas independentes dos órgãos governamentais, vem fazendo pesquisas e essas pesquisas vem comprovando o que estava na nossa cara o tempo todo, existem sim pessoas com deficiência qualificada. Isso transcende o fato do governo ser de esquerda ou direita – para mim não existe governo de esquerda – mas, a efetividade da fiscalização e da punição da empresa. Uma lei que obriga a contratação sem uma punição rigorosa, é o mesmo como acontecia para parar em vaga de estacionamento, multa moral. Vamos falar a verdade, é uma multa moral esse valor. Uma punição vagabunda que não obriga ninguém a cumprir nada.

No mesmo modo, acessibilizar prédios públicos tombados. Se o prédio não pode ter acessibilidade, então, que ele não seja utilizado e ponto. Não tem negociação. Os outros movimentos não negociam, ou você aceita os homossexuais ou é preso. Ou você aceita os negros nas universidades, ou vai preso por racismo. Sofremos atos capacitistas de entidades, de órgãos públicos, de pessoas na rua, de pessoas em shoppings e não há uma punição de verdade. Há multinhas morais e tapinhas nas costas. Fora a mania tosca de muitos deficientes de acharem que não fazerem nada, vão receber alguma coisa por isso, pois, não vão. Às vezes, muitas vezes, o radicalismo semelhante das outras minorias é preciso dentro do segmento das pessoas com deficiência. Eu não dou tapinhas nas costas de ninguém e nem quero nas minhas costas. Como disse milhares de vezes, eu sou cético o bastante de desconfiar que as pessoas façam pelo bem de um segmento. Não fazem. Temos que aguentar novelas vagabundas mostrando não a realidade, mas uma imagem infantilizada e boba da deficiência que não condiz na verdade.

A questão da lei de cotas é uma só: a nossa cultura canalha de não querer seguir e dar desculpas esfarrapadas para não cumprir uma lei. Lei é lei e foda-se. Acontece, que somos uma cultura que se apegamos muito nas aparências e isso é muito imbecil, porque não somos maquinas, somos humanos e temos a capacidade de superar dificuldades. Então, não é uma cadeira de rodas que vai nos dar capacidade ou não de fazer tal serviço, mas, a vontade de superação e de trabalhar que nos fazem eficientes. Muitas empresas – quando tem boa vontade – se sentem satisfeita com o serviço das pessoas com deficiência. Por que não temos a vontade de sensibilizar o lado humano das pessoas com deficiência? Será que fotografando deficientes pelados vamos fazer enxergar nosso lado humano? Acho que é importante a acessibilidade – em todos os bairros e em todos os sentidos – mas, também acho, que há uma falta tremenda a valorização do ser humano com deficiência. Valorizar o lado humano não é vulgarizar nossa sexualidade – fazendo da liberdade com libertinagem – valorizar nosso lado humano, é ensinar, por exemplo, que comemos comidas normais.

Eu não quero ver seres humanos com deficiência, pelados. Não quero ver seres humanos com deficiência, em campanhas apelativas e capacitistas. Não quero ver, seres humanos com deficiência em novelas vagabundas. Quero ver seres humanos com deficiência estudando. Deficientes trabalhando. Tendo uma vida plena e não, s pensando em sexo e numa vidinha deplorável. Como diz o filósofo, Luiz Felipe Pondé: “um dos maiores medos contemporâneos é o medo do afeto”. Temos medo de amar e os seres humanos com deficiência, tendem a ter muito mais medo desse afeto e se apegam a putaria generalizada. Aliás, putaria em todos os sentidos. Mas isso é tema de outro texto.

Hoje não quero ser dentista – se eu quisesse ser? – porém, eu sou satisfeito dos cursos que eu fiz. Mas eu sou qualificado sim e acabou.

Equipamentos do cantor Caetano Veloso são recuperados



Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News