Quando eu era menor, apenas um garotinho, eu queria ser
dentista. Sei lá porque, eu cismei que queria ser um dentista para cuidar de
dente. Daí descobrir que a minha praia era outra, mesmo o porquê, eu nem tenho
estomago para estudar medicina por ver sangue e abrir pessoas em cirurgias. Muitos
garotinhos e garotinhas, sonham em ser alguma coisa quando crescer e não é porquê tem deficiência, que não pode sonhar. É uma questão de estudar e se empenhar (mesmo
que as escolas, com leis que não funcionam, não aceitem ainda as crianças com
deficiência), em fazer o melhor para conseguir. Mas como fazer o nosso melhor,
se todos nos fecham a porta? Metam o pé na porta. Poderia ser uma ofensa eu
dizer isso, mas, como também sou cadeirante, eu me sinto à vontade.
Uma outra pergunta me vem à cabeça: como queremos inclusão
nos comportando como eternos adolescentes? Sim. Eu não acho que inclusão se faz
em meio de gente suada das baladas, cheirando cerveja dos bares, e
acessibilizar puteiros sejam prioridade. Acho que a acessibilidade é importante
e faz bem (nem mesmo acho que acessibilidade em igrejas sejam importantes), porém,
acho que a visão mais humanizada da deficiência, hoje, é primordial. Até hoje
eu não entendi o porquê se fez uma lei para cotas nas empresas e não cotas nas
universidades – que só veio agora – pois, você só trabalha se você tiver um
curso de qualificação. Também, nunca entendi, priorizar a redução de impostos
de carro e não, reduzir impostos da cadeira de rodas e outros aparelhos que
necessitamos. Andamos de carro dentro dos lugares? Andamos de carro dentro de
casa? Claro que não. Até, particularmente, acho que a ideia de um carro para
cadeirante meio ridícula, porque tem o pressuposto que só há um só cadeirante.
E se você é casado? E se você tem como companheiro outro cadeirante?
Essas resoluções é o estereotipo de pessoas solitárias que
temos hoje em dia, ainda, mesmo que estamos no século vinte e um. Mas, mesmo
que a maioria adore uma liberdade que não tem, podemos casar e podemos amar
quem quisermos. Mesmo que a maioria, ache que temos que casar com alguém para
cuidar de nós. Não é verdade. A verdade que podemos nos virar, na medida do
possível, tendo em vista, cuidar de nós. Mas existem, claro, deficiências que
são graves, que muitas vezes, deixam as pessoas sem nenhum movimento.
Conhecemos alguns e esses “alguns”, tem se mostrado bem independentes, mesmo
com a deficiência grave. Nenhuma deficiência atrapalha a vida. Mas, ainda temos
a visão capacitista da sociedade, porque nos agarramos a ideia que tudo é
perfeito, o caráter tem que ter perfeição, as pessoas boas têm que ter
perfeição, tudo é perfeito, só que essa perfeição, é na medida humana. O
parâmetro humano, depende dos costumes (moral) que eles estão inseridos.
Lendo o blog vinculado com o jornal Estadão, Vencer Limites,
assinado por Luiz Alexandre Souza Ventura, “IGUALDADE NO TRABALHO É PRIORIDADE”,
traz uma pesquisa da I.Social (uma consultoria para empregar pessoas com
deficiência), que mostra a estatística que eu sabia muito bem. A lei de cotas é
uma farsa porque usou uma desculpa muito esfarrapada da qualificação, ou seja,
existe pessoas com deficiência sim qualificadas e prontas para trabalhar. Mas,
eu avisei para uma das donas da I.Social, a Andrea Schwarz, quando ela escrevia
com um ar de otimismo. Ser otimista é uma coisa, fugir da realidade é outra
muito diferente. Eu sempre fui cético na questão dessa lei.
Ao meu entender, estatísticas são adulteradas por causa de
interesses daqueles que são eleitos para governar o nosso país, fora a isso, não
tem nenhuma explicação da comprovação da desqualificação das pessoas com deficiência.
Isso vale com voto expresso ou voto eletrônico. O que anda acontecendo é que
empresas independentes dos órgãos governamentais, vem fazendo pesquisas e essas
pesquisas vem comprovando o que estava na nossa cara o tempo todo, existem sim
pessoas com deficiência qualificada. Isso transcende o fato do governo ser de
esquerda ou direita – para mim não existe governo de esquerda – mas, a
efetividade da fiscalização e da punição da empresa. Uma lei que obriga a contratação
sem uma punição rigorosa, é o mesmo como acontecia para parar em vaga de
estacionamento, multa moral. Vamos falar a verdade, é uma multa moral esse
valor. Uma punição vagabunda que não obriga ninguém a cumprir nada.
No mesmo modo, acessibilizar prédios públicos tombados. Se o
prédio não pode ter acessibilidade, então, que ele não seja utilizado e ponto. Não
tem negociação. Os outros movimentos não negociam, ou você aceita os
homossexuais ou é preso. Ou você aceita os negros nas universidades, ou vai
preso por racismo. Sofremos atos capacitistas de entidades, de órgãos públicos,
de pessoas na rua, de pessoas em shoppings e não há uma punição de verdade. Há multinhas
morais e tapinhas nas costas. Fora a mania tosca de muitos deficientes de
acharem que não fazerem nada, vão receber alguma coisa por isso, pois, não vão.
Às vezes, muitas vezes, o radicalismo semelhante das outras minorias é preciso
dentro do segmento das pessoas com deficiência. Eu não dou tapinhas nas costas
de ninguém e nem quero nas minhas costas. Como disse milhares de vezes, eu sou cético
o bastante de desconfiar que as pessoas façam pelo bem de um segmento. Não fazem.
Temos que aguentar novelas vagabundas mostrando não a realidade, mas uma imagem
infantilizada e boba da deficiência que não condiz na verdade.
A questão da lei de cotas é uma só: a nossa cultura canalha
de não querer seguir e dar desculpas esfarrapadas para não cumprir uma lei. Lei
é lei e foda-se. Acontece, que somos uma cultura que se apegamos muito nas aparências
e isso é muito imbecil, porque não somos maquinas, somos humanos e temos a
capacidade de superar dificuldades. Então, não é uma cadeira de rodas que vai nos
dar capacidade ou não de fazer tal serviço, mas, a vontade de superação e de
trabalhar que nos fazem eficientes. Muitas empresas – quando tem boa vontade –
se sentem satisfeita com o serviço das pessoas com deficiência. Por que não temos
a vontade de sensibilizar o lado humano das pessoas com deficiência? Será que
fotografando deficientes pelados vamos fazer enxergar nosso lado humano? Acho que
é importante a acessibilidade – em todos os bairros e em todos os sentidos –
mas, também acho, que há uma falta tremenda a valorização do ser humano com deficiência.
Valorizar o lado humano não é vulgarizar nossa sexualidade – fazendo da
liberdade com libertinagem – valorizar nosso lado humano, é ensinar, por
exemplo, que comemos comidas normais.
Eu não quero ver seres humanos com deficiência, pelados. Não
quero ver seres humanos com deficiência, em campanhas apelativas e
capacitistas. Não quero ver, seres humanos com deficiência em novelas
vagabundas. Quero ver seres humanos com deficiência estudando. Deficientes trabalhando.
Tendo uma vida plena e não, s pensando em sexo e numa vidinha deplorável. Como diz
o filósofo, Luiz Felipe Pondé: “um dos maiores medos contemporâneos é o medo do
afeto”. Temos medo de amar e os seres humanos com deficiência, tendem a ter
muito mais medo desse afeto e se apegam a putaria generalizada. Aliás, putaria
em todos os sentidos. Mas isso é tema de outro texto.
Hoje não quero ser dentista – se eu quisesse ser? – porém,
eu sou satisfeito dos cursos que eu fiz. Mas eu sou qualificado sim e acabou.
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Amauri Nolasco Sanches
Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de
informática e escritor freelance no jornal Blasting News