sábado, 10 de março de 2018

Pessoa com deficiência ou deficiente?




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Acho que estamos indo em um caminho que está sendo errado. Nós, pessoas com alguma deficiência, estamos trilhando. Primeiro lugar: vamos nos posicionar em uma coisa, pois, acho que o seguimento não está muito sabendo o que fazer com as abordagens que se deve fazer. Segundo há um erro conceitual com a nomenclatura decorrente segundo a maioria prega, como eu não sigo a maioria, eu posso usar tanto como pessoa com deficiência como deficiente. Não me sinto desconfortável. Por que não me sinto desconfortável? Porque se olharmos a etimológica da palavra, vamos ver que tanto deficiência como deficiente, vêm da mesma origem latina “deficiens”. Na verdade, existia o verbo “deficiere” que tinha o significado “desertar, se revoltar, falhar” e tem a junção DE “fora” mais FACERE “fazer, realizar”. Isso está, aliás, no meu livro “O CLUBE DAS RODAS DEAÇO: TRATADO SOBRE O CAPACITISMO”.

Vamos lá. Qual o objetivo da inclusão? Há uma grande lacuna quando lemos notícias como “DIRETORA NEGA AGRESSÃO A UM GAROTO COM DEFICIÊNCIA MENTAL” e a notícia “PARQUE AQUÁTICO TOTALMENTE ACESSÍVEL PARA PESSOAS COMDEFICIÊNCIA É INAUGURADO NO TEXAS”, porque há um nível educacional muito longe do ideal em nosso país e muito mais, bem feito, nos países desenvolvidos como EUA. Claro, que devemos achar soluções dentro da nossa realidade que vivemos, porque, a cultura norte-americano foi construída dentro do pragmatismo, ou seja, eles são muito mais práticos. O que é melhor, fazer ou ouvir o povo reclamar? Fazer ou não ter turistas para arrecadar mais dinheiro e fazer a economia girar? Pensamos. Um país inclusivo pode receber turistas com deficiência, assim, gerar mais recursos para nosso próprio país. No mesmo modo, um povo feliz é um povo tranquilo, que tem uma vida mais estável, mais segura e não vai tanto, causar problemas. Não criando problemas geram mais PIB, e gerando mais PIB, geram mais recursos para a indústria e gerando mais recursos para as indústrias, geram mais empregos. Isso não quer dizer que o empresário ficara mais rico e o trabalhador ficara mais pobre, porque isso gerara mais emprego e gerando mais empregos, a economia sobe. Mas, me parece que o capitalismo está em crise pelo mesmo “monstro” que o próprio capitalismo criou, a globalização. A internet criou novas mídias. As informações não são mais manipuladas, não estão em uma “mão” apenas. Então, em muitas “mãos”.

Quando empresários norte-americanos investem em parques temáticos com adaptações para cadeirantes – parece que até a Disney passou por uma reforma dessas – eles viram que as pessoas com deficiência podem ser um público consumidor. Pensamos. Podemos ser cadeirantes – estou dizendo cadeirante por causa que vivo num mundo cadeirante, mas, estendemos para outras deficiências – mas podemos querer se divertir, querer estudar, querer trabalhar ou sair nas ruas para ir numa miséria, padaria comer um sonho. Os Estados Unidos da América viram que a inclusão pode ser beneficiaria a economia, beneficiaria aos modos de produção e beneficiaria dentro do turismo econômico. Ponto. O resto é analise ignorante de gente que não sabe nem o que está falando. E isso se estende aos países europeus e até o Japão.

Isso não quer dizer que “amo” os Estados Unidos, eu tenho minhas críticas sim, mas, assim como eles, outros países aprenderam a lição que povo infeliz, país desgovernado. Elegem “salvadores da pátria” que destroem tudo, economia, estrutura e o que é pior, destroem até mesmo, a dignidade humana. O nazismo, o fascismo, o comunismo soviético são provas disso. O ser humano, por mais que muitos pensadores digam, não são um bando de gado que fica quieto sabendo que vai se ferrar no final, temos consciência que precisamos no mínimo de dignidade humana para viver. Ai que erra alguns setores do segmento das pessoas com deficiência aqui do Brasil.

Muitas pessoas com deficiência o são após terem tido algum trauma durante a vida, porém, a grande maioria nasceu assim. Deveriam ter uma cadeira de rodas decente, mas, as mesmas cadeiras de rodas ou outros aparelhos, não podem ser de qualidade, porque são caros. Qual é a prioridade, termos condição de ter um carro ou de ter uma cadeira de rodas mais barata? Depois, as crianças devem ser alimentadas e terem um tratamento decente, muitos pais não têm condição de pagar um tratamento e poucas instituições ter a seriedade necessária para tal (a que faz a campanha maior do nosso país, não tem essa seriedade). Os tratamentos são começados muito tarde, tão tarde, que eles nem surte efeito esperado (se surte algum). Começa, haver dificuldades dentro da sociedade de adaptação, a má educação faz que a sociedade nos veja como sinônimos de santos, assexuados, coitados, sem a menor vontade de lutar por uma vida mais digna, porque não podemos ter essa vida digna. Outro dia li que um cadeirante caiu e o motorista não pode ajudá-lo, porque os passageiros não puderam compreender a situação. Por que? Não se tem uma educação de verdade e não acham que podemos e temos o direito de sair.

Depois a criança deve ter uma escola para estudar. As escolas públicas são pagas por TODA a sociedade, inclusive, uma escola pública também é sustentada pelos parentes e os pais da criança com deficiência. Deve ter a adaptação física e se deve ter o treinamento necessário para os professores e profissionais das escolas, e claro, DEVE ser obrigatório. E ainda sou mais radical, se deve ter esse tipo de conduta ensinada, nas universidades. Mas, claro, quem tem a boa vontade sempre corre atrás de ser um bom professor. Porque, também, acho que fizeram uma grade escolar muito intensa e de pouca eficiência (como tudo no Brasil), onde a quantidade vale mais do que a qualidade. Isso atrapalha, em partes, com a socialização das salas de aulas e não fazem o papel social. Isso nada tem a ver com ideologias, isso tem a ver com inclusões das minorias e essa inclusão, faz parte de um plano de uma sociedade justa (sim, sou socrático platônico nesse aspecto).

Depois fizeram a “esperteza” de fazer cotas em empresas e não em universidades para pessoas com deficiência, o que gerou a desculpa de não temos qualificação. Nem sou muito a favor de cotas para universidade, mas, já que as maiorias queriam cotas, que pelo menos, se qualificassem. Acontece que o segmento das pessoas com deficiência, sempre foi meio perdido, porque não sabem o que priorizar. A luta pela inclusão não pode ser uma luta de maneira desordenada, mas, tem que ter uma certa ordem de prioridades que o próprio segmento de PCDs, não respeita.

Por fim, eu acho que existem coisas muito mais priorizadas do que as nomenclaturas como se devem ser chamadas as pessoas com deficiência ou deficiente. Claro que num ponto muito mais esdrúxulos, a questão de nomenclatura é importante, como no caso de pessoas com de necessidades especiais, que por ventura, faz a imagem de pessoas especiais. Não somos especiais. Somos seres humanos que queremos viver o que todo ser humano vive, todo ser humano deseja, todo ser humano sente. Fazemos até filho (podem acreditar), e o mais importante, somos membros de uma sociedade e sim, estamos no século XXI e as questões que nos sãos colocados no nosso estereotipo, são questões já abandonadas a muitas décadas lá fora. Portanto, mude seu paradigma, você consegue.


Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

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