Esse segmento das pessoas com deficiência me dá preguiça,
mas, essa preguiça é no sentido de ter que explicar coisas tão obvias, como
acessibilidade. Ter que explicar que a questão da acessibilidade não é só uma
questão de inclusão de pessoas com deficiência, mas, explicar que uma rampa é
sim um meio para uma gestante subir melhor, ou uma mãe subir com um carrinho de
bebê. Além disso, muitas pessoas não pensam nos idosos que também, podem ter
bastante facilidades, com rampas ou vias mais acessíveis.
Me deparei com o pensamento: “não queremos asfalto novo e
sim, calçadas novas e acessíveis”, como se um asfalto novo, não fosse uma solução,
mais ou menos, viável. Claro que é. Minhas costas – não só as minhas, mas da
minha noiva e de uma grande parcela de pessoas com deficiência – doem ao passar
com a van do ATENDE nos buracos de uma Sapopemba. Mas, sempre fazem frases de
efeito para chamar atenção ou passar vergonha, porque as calçadas nada têm a
ver com as ruas bem asfaltadas e isso, foi dito por uma conselheira do Conselho
Municipal das Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida. Aliás, o CMPD está
sendo, muitas vezes, usado de uma maneira ideológica para fazer uma política só
social, mas, a política é um conjunto.
Além de acabar com a sua coluna, vai sempre danificar carros
e qualquer transporte (tanto o ônibus como as vans acessíveis ou não), que os
cidadãos de uma cidade usam e têm o direito em ter. Duas questões poderíamos
deixar aqui na reflexão: essa pessoa acha que não tem mais ninguém na cidade
além das pessoas com deficiência? As pessoas não podem desejar asfalto de boa
qualidade para poder ter uma um transporte até melhor? Ora, por outro lado, as
calçadas são arrumadas conforme os moradores e os donos de comércios que cuidam
dessa calçada. Há multa, mas, deve ter denúncias para tal (no mesmo modo a Lei
de Cotas de empresas, mas é tema para um outro texto). Portanto, se você não denuncia
esse tipo de calçada, é mais do que óbvio, que a prefeitura não tem como multar
o dono da casa ou comercio que arrumou essa calçada.
Ainda acho que é estranho, uma pessoa que gosta e “milita”
no segmento da pessoa de deficiência, deve pensar muito além do que o paradigma
de sempre. Que paradigma? O paradigma de pessoas que enxergam as pessoas com deficiência
como pessoas que não podem fazer, não podem pensar e tem sempre um “paladino”
da inclusão como suporte. Só que esses “paladinos” são pessoas que misturam os
segmentos, acham que o mundo tem só as pessoas com deficiência e ainda, as
pessoas com deficiência deveriam repensar essa atitude. Por que deve seguir
outro segmento? Por que não tenho que expor minha opinião contra a maioria? Meu
intuito é a reflexão, porém, por falta de estudo da maioria de quem tem deficiência,
sempre ficamos à mercê de interpretações erradas e sem o menor, propósito. Tudo
na vida é um pensamento, até a nossa realidade.
Mas o que seria uma realidade?
Existem milhares de pessoas com deficiência que não tem
dinheiro, não tem emprego – antes do governo Temer (que era vice-presidente da
Dilma), já existiam desempregados com deficiência com estudos e qualificados –
sempre nenhuma condição de comprar nem um parafuso da sua cadeira de rodas (ou
outro aparelho), e nem o próprio aparelho. Eu acho que inclusão não é ir nas
baladas, não é em encher a cara em barzinho, não é ir em show de cantor brega
ou não, não é ir nos SESCs da vida ou até mesmo, ir nas passeatas ou desfiles
(como carnaval, orgulho gay, marcha para Jesus e etc). Inclusão é olhar para o
lado e falar um “oi” para uma criança espantada com sua cadeira, é ir comprar o
que você mesmo o que você deseja, é ter ética e seriedade nas atitudes que
toma. É namorar uma pessoa e ser sério com essa pessoa, casar e ensinar coisas
verdadeiras para os filhos. Se não te empregarem, procurar maneiras dignas de sustento
e sobrevivência. Porque eu acho que a questão das pessoas com deficiência é ter
sempre na cabeça que o mundo não é um playground eterno, um dia vai ter que
crescer. Um dia vai ter que sofrer. Um dia vai ter que resolver os problemas. Um
dia vamos ter que “crescer”.
Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News
e-mail: amaurij@gmail.com
@FilosofoAmauri
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